A crise econômica enfrentada pelo Brasil ameça os avanços sociais “fantásticos” conquistados na última década, avalia o economista Ricardo Paes de Barros, considerado um dos principais especialistas em estudos sobre desigualdade social e pobreza no país e no mundo.
Em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, publicada nesta quarta-feira (4), Barros condena as propostas de cortes em programas sociais e defende que os 90% dos brasileiros que concentram mais renda paguem mais pelo ajuste fiscal e “protejam” os mais pobres diante da crise.
Possíveis cortes em programas como o Fies, Prouni e Bolsa Família são apontados como risco de gerarem um “retrocesso social”. Para ele, a manutenção dos avanços na redistribuição de renda dependem da organização e capacidade do governo de lidar com as adversidades.
“É muito fácil desenhar uma forma de lidar com a crise em que não haja nenhum retrocesso social. No Brasil, 10% (da renda) significa metade da população. É muito fácil proteger o pobre num país ainda tão desigual”, argumenta.
Barros defende uma saída possível para o governo reorganizar as contas públicas sem mexer nas conquistas sociais dos últimos anos. “E o milagre disso é uma coisa muito simples: o fato de que a metade da população brasileira tem 10%, 15% da renda nacional. É como se fosse uma grande família, mas metade desses caras só gasta 10%. Os que gastam os 90%, podem protegê-los facilmente”, explica.
“Ou seja: proteger 10% é fácil. Só que no Brasil, 10% (da renda) significa metade da população. Então é muito fácil proteger o pobre em um país que ainda é tão desigual, onde a maior parte dos pobres está isolada no interior e tem renda muito pequena”, completa.
O economista aponta também a possibilidade de apostar no aumento de despesas para aquele que podem pagar por serviços que deveriam, na opinião dele, serem oferecidos aos que mais precisam. “O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) tem um monte de problemas, mas você corta o Fies do cara pobre e mantém universidade gratuita para o rico?”, repreende.
Impeachment – O economista defendeu também Dilma Rousseff e disse apostar na capacidade da presidenta de virar o jogo e superar a crise. “Ela tem inteligência e tem a reputação para fazer isso”, afirmou, ao ressaltar a “credibilidade e reputação históricas” da petista.
“Acho que, se há uma pessoa confiável no país e que, digamos assim, se não fosse presidente todo mundo confiava, é a presidente Dilma”, declarou.
“As pessoas podem estar irritadas, porque ela falou uma coisa e está fazendo outra. Mas daí a alguém achar que está envolvida em corrupção, ou que tem ideia que não estão ligadas ao bem comum… Ela tem um enorme histórico de serviços prestados. Provavelmente cometeu erros, tentou coisas que deram errado”, completou.
Da Redação da Agência PT de Notícias