De passagem pelo Rio de Janeiro antes de embarcar para Genebra, na Suíça, onde participará da 112ª Conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o presidente Lula compareceu ao Future Investment Initiative (FII) Priority Summit, nesta quarta-feira (12), no hotel Copacabana Palace. O encontro internacional – promovido com recursos do Fundo de Investimento Público (PIF), pertencente à monarquia da Arábia Saudita – serviu para mostrar a empresários e líderes mundiais que o Brasil esbanja estabilidade econômica, principal atrativo a qualquer investidor.
Em discurso, Lula ressaltou os números sólidos da economia brasileira desde que assumiu a Presidência da República. “Contrariando as expectativas pessimistas, nosso Produto Interno Bruto cresceu 2,5% nos últimos 12 meses. Caminhamos para ser a oitava maior economia do mundo este ano. Até o final do mandato, podemos voltar a ser a sexta economia mundial, como já fomos em 2011”, lembrou.
“Nossa balança comercial bateu recorde em 2023, com o maior saldo da história. As exportações entre janeiro e abril deste ano alcançaram a marca recorde de US$ 108 bilhões, com o aumento da participação de produtos da indústria de transformação”, acrescentou.
Falando a investidores, o presidente destrinchou as ações do governo federal para diminuir a inflação, incrementar a renda dos trabalhadores e reajustar as despesas do Estado. “Estamos arrumando a casa e colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal. O aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão a redução do déficit, sem comprometer a capacidade de investimento público”, garantiu Lula.
“A reforma tributária vai tornar nosso regime mais eficiente, mais justo, deixando de penalizar os mais pobres e dando mais competitividade à economia (…) O mercado não é uma entidade abstrata, apartada da política e da sociedade. Nada disso se sustenta sem estabilidade política e sem estabilidade social”, ponderou o presidente em seguida, antes de recordar as manifestações antidemocráticas de 8 de janeiro de 2023, quando extremistas depredaram a Praça dos Três Poderes, na tentativa de subverter o resultado das eleições do ano anterior.
Paz e justiça social
Lula também criticou os altos valores injetados nas guerras e a negligência em relação às questões sociais nos debates econômicos. “Me parece que os problemas sociais não existem. E eles existem, estão no nosso calcanhar, estão nas nossas portas, estão nas ruas. E é por isso que esse mundo extraordinário, digitalizado, ainda permite que 735 milhões de pessoas vão dormir, toda noite, sem ter o que comer”, lamentou.
Na defesa da redução das desigualdades socioeconômicas, o presidente citou o engenheiro mecânico Henry Ford, fundador da fabricante multinacional estadunidense de automóveis Ford Motor Company. “Os empresários só prosperam se os trabalhadores puderem consumir o que produzem. De nada adianta construir ilha de prosperidade cercada de miséria. Muito dinheiro na mão de poucos significa fome, doença, analfabetismo e criminalidade.”
De acordo com a organização do FII Priority Summit, o tema da cúpula realizada agora no Rio de Janeiro (“Investir em Dignidade”) foi inspirado no discurso proferido por Lula durante a COP27, em 2022, no Egito. Recém-eleito para o terceiro mandato, o presidente afirmou, na ocasião, que o Brasil almeja “um mundo mais justo, capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes, e não apenas uma minoria privilegiada”.
Mudanças climáticas
O evento financiado pelo fundo saudita reuniu mais de 150 líderes mundiais, além de empresários e investidores, para deliberar acerca de temas como a nova ordem internacional multipolar, o empreendedorismo, as desigualdades socioeconômicas, os impactos da inteligência artificial e, fundamentalmente, a transição ecológica e sustentável das economias.
“Quando se fala da questão climática, quando se fala da questão energética, eu posso assegurar para vocês, com todo o respeito ao planeta Terra: não tem nenhum país que pode oferecer a qualidade das coisas que nós vamos oferecer para os investidores que aqui quiserem produzir, que aqui quiserem criar um novo ciclo de produção de energia e que aqui quiserem fazer as suas empresas crescerem”, defendeu Lula.
O Brasil se prepara para receber a 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada na cidade de Belém, no Pará, em novembro de 2025. Na percepção de Lula, o evento será determinante para impedir tragédias climáticas ainda mais catastróficas decorrentes do aquecimento global. “Estamos vivenciando isso, em primeira mão, com as enchentes no Rio Grande do Sul, cuja reconstrução demandará investimentos maciços do governo e do setor privado”, advertiu.
“O Brasil que vislumbramos é um gigante da sustentabilidade e um peso pesado da segurança alimentar. É um país capaz de ampliar sua produtividade agrícola, com respeito ao meio ambiente, e de renovar sua vocação industrial a partir da energia limpa e da inovação tecnológica”, antecipou Lula.
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Sul Global
No contexto da Cooperação Sul-Sul, nome dado às parcerias entre países em desenvolvimento, o presidente abordou ainda a liderança do Brasil em diferentes arenas internacionais. A atuação brasileira na presidência rotativa do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo, está amparada em quatro eixos transversais: combate à fome, à pobreza e à desigualdade; desenvolvimento econômico, social e ambiental; e a reforma da governança global.
“Recuperamos a capacidade de planejar o desenvolvimento e, enfim, pudemos nos concentrar novamente no que realmente importa, ou seja, melhorar a vida do nosso povo. Para isso, foi preciso colocar o pobre no orçamento. Restabelecemos a política de valorização do salário mínimo e reestruturamos programas sociais. O desemprego no trimestre fevereiro-abril foi o menor desde 2014. O tema deste fórum é ‘investir na dignidade’ e essa é nossa prioridade”, elencou.
O presidente do Instituto FII, Yasir Al-Rumayyan, se disse honrado com a presença de Lula no encontro organizado pela entidade chefiada por ele. Al-Rumayyan justificou a escolha do Rio de Janeiro para sediar a cúpula por ser uma das cidades mais importantes do mundo, sob diversos aspectos. Enfatizou também a importância da cooperação dos países do chamado Sul Global, em concordância com o presidente Lula.
“O problema que nós vemos é que há muitas barreiras entre a parte norte e sul do globo. Por exemplo, só 5% do investimento em energia renovável está no sul. O resto, 95%, está no norte do globo. E também temos que ter oportunidades para o sul do globo, para que possa se ajustar e estar no mesmo nível da parte norte do globo.
Da Redação, com Future Investment Initiative Institute