Partido dos Trabalhadores

Economista elogia propostas do PT para retomada do crescimento

Para Guilherme Mello, da FPA, PT tenta fazer com que o ônus do ajuste não recaia apenas sobre o trabalhador, mas também seja repartido com mais ricos

Foto: Manoel Marques/imprensa-MG

O Partido dos Trabalhadores lançou, após reunião do Diretório Nacional no Rio de Janeiro, no fim de janeiro, um documento com 22 propostas para a retomada econômica, intitulado “Programa Nacional de Emergência”. No texto, são defendidas ideias como a queda da taxa de juros, reajuste do Bolsa Família, retomada da reforma agrária e tributária, estímulo ao investimento público, entre outras. Na avaliação do economista Guilherme Mello, da fundação Perseu Abramo, as propostas do partido são “criativas”.

O economista defende que, para o Brasil recuperar o crescimento, é preciso abandonar a estratégia de austeridade defendida pelo mercado financeiro e colocada em prática durante a gestão do ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy. “Em um cenário de crise, as medidas propostas pelo PT são estratégias criativas para conseguir solucionar impasses”, afirma Mello.

A opinião é partilhada pelo economista Ladislau Dowbor, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para ele, a austeridade é uma maneira de fazer a população pagar por um problema que os bancos criaram. Nessa visão, segundo o economista, o mercado financeiro global suga grande parte das riquezas do setor produtivo por meio dos juros e no Brasil.

Dowbor calcula que, anualmente, são pelo menos R$ 880 bilhões pagos em juros no mercado livre no Brasil, considerando uma taxa média de 28% ao ano, e mais R$ 501 bilhões pagos pelo governo para pagar juros da dívida. O PIB no ano passado foi de R$ 5,9 trilhões. Assim, por esses cálculos, 23% da riqueza nacional foi absorvida para o setor financeiro, que não agrega valor produtivo ao país. A queda da taxa de juros é justamente o primeiro ponto do documento apresentado pelo PT.

Hoje, a meta da taxa Selic (taxa básica de juros) está em 14,25% ao ano. Essa taxa é estipulada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e rege as demais taxas de juros da economia.  Pela teoria econômica, a taxa de juros mais alta inibe o crédito e ajuda a controlar a inflação. Mas, para Guilherme Mello, a inflação hoje não está ligada à taxa de juros, nem a um excesso de demanda, e seria um erro manter a taxa tão alta tentando controlá-la.

“Precisamos discutir o gasto do governo com juros”, afirma Mello. O economista afirma que esse gasto é visto como sagrado, mas discutir sua redução é essencial para resolver a conta fiscal, já que cerca de 9% do PIB é destinado ao pagamento desses juros – que acaba se convertendo em remuneração à quem aplica nos títulos públicos.

“O PT reconhece que há um problema fiscal e uma necessidade de ajuste nas contas públicas. Mas esse ônus não pode cair sobre o trabalhador”, afirma Guilherme Mello. Por isso, algumas das propostas têm o objetivo de aumentar a cobrança de impostos dos mais ricos, como o Imposto sobre Grandes Fortunas, o IPVA para barcos e aviões, entre outras.

Inflação
Para Mello, a inflação hoje ainda reflete a subida dos preços administrados no passado, como a energia elétrica e a gasolina, além da desvalorização cambial e a inércia inflacionária. A inércia ocorre quando os empresários e comerciantes, com medo de perder rentabilidade, ajustam o preço olhando a taxa de inflação passada e, com isso, elevam a taxa de inflação futura.

No último boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, e que reúne análises do mercado financeiro para a economia, a expectativa de inflação para 2016 caiu em 0,16 ponto percentual. Para Mello, seria importante aproveitar o momento para estabilizar a queda da demanda. Uma das iniciativas propostas pelo PT é o reajuste em 20% do Bolsa Família. Isso, além de ajudar os mais necessitados com um impacto pequeno no orçamento, estimula a demanda, já que as pessoas têm mais dinheiro para consumo básico.

Outra linha de propostas é o estímulo ao investimento em infraestrutura. Isso ocorreria com a criação de um Fundo Nacional de Desenvolvimento e Emprego, utilizando parte pequena das reservas internacionais (dinheiro que o Brasil mantém em dólares para se proteger de uma fuga de capitais). Além disso, propõe o fortalecimento de instituições de crédito bilaterais, como o banco dos BRICS e instituições similares na América Latina, como o Banco do Sul.

Por Clara Roman, da Agência PT de Notícias