No Brasil, como resultado de séculos de uma sociedade patriarcal e conservadora, as mulheres ainda enfrentam muitas dificuldades e são discriminadas. No caso das mulheres negras, a discriminação é dupla, de gênero e de raça. A maioria é submetida a trabalhos precários, com baixa remuneração e, em muitas situações, sujeitas a violências e abusos, além do abandono que frequentemente as obriga a assumir sozinhas o sustento de suas famílias.
É lamentável que a Rede Globo, que explora o espectro público das telecomunicações, venha a reforçar em sua programação estes estereótipos racistas, machistas e classistas, alicerçados numa visão preconceituosa da sexualidade das mulheres negras na série “O Sexo e as Nêga”.
O episódio ao menos serve para estimular uma reflexão sobre a representação e participação das mulheres negras em nossos meios de comunicação. Hoje podemos dizer que, salvo raríssimas exceções, as mulheres negras ocupam um “não-lugar” no cenário comunicacional. Quantas repórteres, editoras, cineastas, roteiristas, atrizes ou fotógrafas negras você vê trabalhando na mídia tradicional? Pouquíssimas.
A ausência destas mulheres na produção de conteúdo e as dificuldades daquelas que conseguem produzir, mas não conseguem distribuir suas produções, talvez nos ajude a refletir sobre o lugar que outras mulheres negras ocupam nestes meios: o corpo erotizado e esvaziado de toda e qualquer autonomia que seria capaz de colocá-las na condição de sujeitos ativos de sua própria identidade no espaço midiático.
O empoderamento das mulheres negras a partir das ferramentas de comunicação, portanto, deve ser considerada como uma estratégia importante dos movimentos feministas e anti-racistas. Abaixo “as nega” da Globo. Vamos cobrar do Ministério Público os procedimentos cabíveis contra essa programação aviltante à dignidade das mulheres negras.
Edson Santos é deputado federal pelo PT