A política de preços da Petrobras, criada por Michel Temer e que Jair Bolsonaro decidiu manter, levou o preço do gás de cozinha a valores tão altos que o brasileiro tem sido obrigado a parcelar o botijão em até 10 vezes no cartão de crédito, informa a Folha de S. Paulo. Isso significa que o consumidor precisa de quase um ano para pagar por um produto que, geralmente, dura cerca de um mês.
De acordo com o jornal, o aumento de 16,1% do gás, anunciado pela Petrobras na quinta-feira (10), já chegou ao consumidor do estado de São Paulo, que, em alguns lugares, chega a pagar inacreditáveis R$ 150 pelo botijão. E, como a gasolina e o diesel também não param de subir, a distribuição acabou prejudicada. “A gente está tirando das ruas, e o consumidor está tendo que ir até o depósito buscar”, contou, à Folha, Robson Carneiro dos Santos, presidente do Sergás (Sindicato das Empresas Revendedoras de Gás).
Durante a campanha de 2018, Bolsonaro mentiu descaradamente sobre o que faria caso se tornasse presidente. Criticava Temer por permitir o aumento de preços e chegou a prometer que o valor do botijão, no seu governo, não passaria de R$ 35. O ex-capitão, porém, foi o presidente que mais elevou o valor do gás de cozinha, com um aumento que já ultrapassava os 47% antes do anúncio-bomba da última quinta-feira (veja gráfico abaixo).
Lula e Dilma não deixavam preço disparar
Já nos dois mandatos de Lula e no primeiro de Dilma, o valor do botijão vendido pela Petrobras ficou praticamente congelado no Brasil, mesmo com a variação dos preços internacionais. Isso foi possível devido a uma política de subsídios cruzados que permitia manter o preço estável. Assim, a variação dos preços entre 2003 e 2014 praticamente só sofreu o reajuste da inflação. Assim, nem mesmo durante a crise global de 2008 e 2009, o reajuste foi absurdo (veja gráfico abaixo).
Em 2015, já sob a pressão do ataque promovido pela Lava Jato, a Petrobras iniciou o processo de equiparação com os preços praticados pelo mercado internacional, elevando o gás em 15%. Foi o primeiro aumento em 13 anos. A partir de junho de 2017, houve praticamente uma alta por mês, movida pela lógica da dolarização dos preços, em um momento de depreciação do real.
Essa foi a política de Temer, que fez o valor do botijão saltar de R$ 55,60, em dezembro de 2016, para R$ 69,35 dois anos depois. Bolsonaro, por sua vez, se mostrou uma continuação de Temer. Após assumir a Presidência, o ex-capitão manteve o preço dolarizado e fez o botijão custar R$ 74,75 no fim de 2020. E, na semana passada, antes desse aumento-bomba da quinta-feira, o valor médio já era de R$ 102,42.
Acionistas lucram, povo paga caro
Esses números mostram bem a diferença entre os governos de Lula e Bolsonaro. Lula não entregou a Petrobras aos interesses dos acionistas estrangeiros e praticou uma política de preços que mantinha os combustíveis e o gás de cozinha a preço justo.
Já Bolsonaro esqueceu tudo o que disse na campanha e manteve a política adotada por Temer, fazendo o gás de cozinha e os combustíveis seguirem os preços internacionais, em dólar. Além disso, o ex-capitão vem desmontando a Petrobras e acabando com a capacidade produtiva da empresa, o que deixou o Brasil completamente despreparado para a atual crise.
Infelizmente, quem paga a conta de tal irresponsabilidade e entreguismo é o brasileiro. R$ 150 são mais de 12% do salário mínimo. Assim, o gás de cozinha está cada vez mais inacessível para as famílias mais pobres. Com isso, muitas recorrem à lenha ou ao álcool etílico para cozinhar, aumentando o risco de acidentes com queimaduras.
Pesquisa realizada entre novembro de 2020 e janeiro de 2021 por movimentos sociais com mais de 3 mil famílias em situação precária do Rio Grande do Norte revelou essa realidade. Não fosse o Vale-Gás, auxílio proposto pelo PT e aprovado pelo Congresso Nacional, o desespero das famílias mais pobres seria ainda maior.
Da Redação