A produtividade da economia brasileira por hora efetivamente trabalhada avançou 1,9% em 2023, após dois anos seguidos de queda. Tirando o período da pandemia, que levou, no primeiro ano, a um ganho artificial de produtividade, foi a primeira alta desde 2018 (0,5%), mas em um padrão mais similar ao observado em 2017 (2,1%).
Os dados são do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), e foram divulgados nesta sexta-feira (15) pelo jornal Valor Econômico.
Segundo o Valor, a expressiva contribuição da agropecuária em um ano de safra recorde, um padrão diferente na dinâmica de crescimento setorial, o processo de formalização no mercado de trabalho e o crescimento da ocupação entre os mais escolarizados ajudam a explicar os ganhos de 2023, segundo pesquisadores do FGV Ibre.
Os dados da notícia refletem os resultados das medidas adotadas pelo governo Lula para fortalecer o setor produtivo, melhorar a educação e gerar emprego e renda.
Em 2020, a produtividade por hora efetiva subiu 12,7%, refletindo um “efeito-composição”, já que a pandemia, inicialmente, retirou mais do mercado de trabalho trabalhadores de baixa produtividade, sobretudo os informais e aqueles de menor escolaridade.
Além disso, a queda nas horas trabalhadas por causa das medidas de isolamento social foi superior ao recuo do valor adicionado. Com a normalização gradual da situação sanitária e o retorno desses trabalhadores ao mercado, a produtividade por hora efetiva voltou a cair: 8,1% em 2021 e 4,4% em 2022.
A produtividade é calculada pela comparação do valor adicionado – variável próxima ao Produto Interno Bruto (PIB), mas que exclui impostos e subsídios – com os indicadores do fator trabalho. No ano passado, o valor adicionado agregado da economia subiu 3%, enquanto as horas efetivamente trabalhadas cresceram 1,1%. Dessa comparação, resultou um aumento da produtividade do trabalho de 1,9% em 2024.
Medida de eficiência com que os fatores capital e trabalho se transformam em produção, a chamada produtividade total dos fatores (PTF) subiu 0,7% em 2023. À exceção de 2020, também sob o efeito extraordinário da pandemia, uma alta anual da PTF não era observada, ao menos, desde 2017, apontam os pesquisadores.
“É certamente pouco, mas bem melhor do que antes. Isso, para mim, é um sinal de que pode ter acontecido alguma mudança para além do efeito da agropecuária”, diz ao jornal Fernando Veloso, coordenador do observatório e um dos autores do estudo sobre a produtividade.
Mudança para melhor
Ao longo de 2023, o ano foi marcado por uma reversão no padrão de sucessivas quedas em relação ao mesmo período do ano anterior nos indicadores de produtividade, ainda que com perda de fôlego no segundo semestre. No quarto trimestre de 2023, a produtividade por hora efetiva subiu 1,3% ante igual período de 2022, após avançar 2,3% no terceiro trimestre. “Foram quatro trimestres consecutivos de alta. Tem alguma consistência no resultado”, diz Veloso.
Apesar da queda de 0,7% no quarto trimestre de 2023 na comparação com o trimestre imediatamente anterior, a produtividade por hora efetiva ainda supera o nível observado antes da pandemia (quarto trimestre de 2019) em cerca de 1%. A PTF, por outro lado, está 5,1% abaixo do pré-covid.
Em um outro exercício, os pesquisadores acompanham a evolução da produtividade por hora efetivamente trabalhada com o que seria a tendência esperada a partir do observado no período pré-pandemia (primeiro trimestre de 2017 a quarto trimestre de 2019).
Naquele momento anterior à crise sanitária, a produtividade apresentava tendência de queda, que foi temporariamente interrompida pela elevação atípica em 2020, mas retomada nos anos seguintes.
Com os aumentos até o terceiro trimestre de 2023, no entanto, a produtividade se deslocou para um nível acima da tendência pré-covid, quadro que se manteve no quarto trimestre, apesar da queda em relação ao terceiro trimestre.
“Isso é uma novidade. Há discussões sobre o efeito de reformas e o aumento do PIB potencial que não estão resolvidas, mas, independentemente disso, me parece claro que houve uma mudança no ano passado”, afirma Veloso, notando que algo semelhante foi observado nos dados sobre produtividade dos Estados Unidos em 2023.
Como a elevação da produtividade agregada em 2023 resultou, em boa medida, do crescimento extraordinário da produtividade da agropecuária, os pesquisadores afirmam que é preciso ter cautela na interpretação dos dados.
A produtividade por hora efetivamente trabalhada no agro subiu 21,1% em 2023, magnitude observada apenas em 2017. Em 2022, o crescimento foi de 1,7%. Já a produtividade da indústria, na mesma métrica, avançou 2% em 2023, e a dos serviços, apenas 0,1%. Em 2022, houve quedas de 4,7% e 5,1%, respectivamente.
“Certamente, a agropecuária contribuiu muito. Mas alguns segmentos da indústria foram positivos também e a produtividade dos serviços, longe de ser uma maravilha, foi melhor do que no passado”, observa Veloso.
Segundo ele, há alguns indícios de que a alta da produtividade agregada em 2023 pode ter sido um pouco mais disseminada.
Excluindo a agropecuária – que, apesar do crescimento expressivo nas últimas décadas, ainda tem produtividade média relativamente baixa em comparação com outros setores -, os pesquisadores observaram, por exemplo, que os segmentos mais produtivos foram os que apresentaram maior expansão do valor adicionado em 2023, em particular a indústria extrativa mineral, a intermediação financeira e os serviços industriais de utilidade pública (SIUP).
Outro indício de que o avanço da produtividade em 2023 não se deve exclusivamente ao agro, segundo Veloso, está no comportamento do mercado de trabalho. Em janeiro de 2024, as ocupações formais estavam 9,7% acima do período pré-pandemia, enquanto as ocupações informais estavam apenas 1% acima, na série mensalizada com ajuste sazonal. Empresas do setor formal têm maior produtividade.
Um terceiro fator que pode ter contribuído para o ganho de produtividade no ano passado é que a composição educacional no mercado de trabalho voltou ao comportamento pré-pandemia, com o crescimento da população ocupada concentrado entre os grupos mais escolarizados.
Da Redação