A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), afirmou, nesta quinta-feira (6), que a eleição de Claudia Sheinbaum para a presidência do México abre caminho para a criação de um movimento latino-americano de enfrentamento da extrema direita e do neoliberalismo. Ela falou sobre o assunto ao programa Opera Mundi 20 minutos, apresentado por Haroldo Ceravolo Sereza.
“Agora, com esse governo da Claudia e essa proximidade maior com o presidente Lula, eu acho que dá para a gente ter condições de fazer um movimento latino-americano de enfrentamento da extrema direita. Porque o enfrentamento da extrema direita não pode se dar só no Brasil, em um único país. A gente precisa fazer esse enfrentamento aqui no nosso continente, e o México pode ajudar muito a gente nisso”, disse Gleisi.
A deputada, que falou sobre a viagem que fez ao México para acompanhar as eleições e fortalecer o diálogo com as forças progressistas locais, disse que criação desse movimento latino-americano é favorecido pela disposição da futura presidenta Cláudia de aprofundar um ciclo anti-neoliberal que foi consolidado pelo atual mandatário, Andrés Manuel López Obrador, também conhecido como AMLO.
Ex-prefeita da Cidade do México e primeira mulher eleita para a presidência do país, Claudia é aliada de Obrador na coligação Morena/Partido Verde/Partido do Trabalho, que, além de vencer a eleição presidencial, conseguiu uma maioria consolidada no Congresso.
“Eu acho que o México já entrou no ciclo anti-neoliberal. Eu acho que deve avançar nessas políticas. Acho que isso é importante para nós, porque vai seguir um caminho parecido com o que o Brasil está seguindo. E o México tem um peso grande na América Latina. Se a gente tiver aí a vitória também no Uruguai, da Frente Ampla, a gente está na Colômbia, com [Gustavo] Petro, está na Bolívia, eu acho que isso nos dá condições de fazer uma articulação, fazer esse enfrentamento político com a extrema direita, com o neoliberalismo”, disse Gleisi.
“Se a gente souber se organizar bem na América Latina, esses governos que são governos de esquerda, de centro-esquerda, ter relação, fazer um movimento conjunto, eu acho que a gente pode ir muito bem no enfrentamento da extrema direita e ajudar com que outros países que têm governos mais à direita possam também se preparar para terem governos mais à esquerda”, acrescentou.
Segundo ela, para isso é necessário que haja uma construção entre os partidos progressistas dos países da região.
“Acho que através dos partidos a gente pode fazer isso. Tem o Foro de São Paulo, que ajuda muito. Também tem o Grupo de Puebla, que junta lideranças. E a gente fazer uma ação política mais firme nesse sentido, de encontros, de discussões, de atuação conjunta, de pautas conjuntas para unificar. A gente tem condições, sim, de fazer um movimento para tirar esses ventos de extrema direita que andam soprando aqui pelo nosso continente, soprando forte”, pontuou.
Viagem de Lula ao México
Durante a entrevista, a presidenta do PT disse também que o presidente Lula deve viajar ao México em agosto, antes do final do mandato de Obrador, que deixa a presidência com uma aprovação popular de 60%, três vezes maior do que os 20% com os quais seu antecessor, Enrique Peña Nieto, terminou o governo.
“O presidente Lula está indo para o México agora em agosto, se eu não me engano. Ele quer ir antes da saída do López Obrador. Eu perguntei se ele iria na posse [de Claudia], ele falou que ainda não avaliou, mas essa proximidade é muito importante para a gente trocar essas avaliações e relações que nós temos e também os programas que estão sendo desenvolvidos num e no outro país”, disse Gleisi.
“Eu acredito que teremos mais gente do governo brasileiro indo para o México, como acho que também do governo mexicano vindo para o Brasil para fortalecer esse intercâmbio”, frisou.
Privatização de escolas no Paraná
Durante a entrevista, Gleisi foi perguntada também sobre a decisão da Assembleia Legislativa do Paraná de aprovar, na terça-feira (4), projeto de autoria do governador bolsonarista Ratinho Jr que prevê a privatização de 200 escolas de cerca de 110 cidades, o equivalente a 10% da rede estadual. Gleisi classificou a medida como um “escândalo”.
“O processo no Paraná é um escândalo, porque o governador está querendo privatizar as escolas, ou seja, os serviços, principalmente administrativos, serem terceirizados. E isso também logo já vai para os professores. Eu não tenho dúvida que vai acontecer isso, contratar professores por empresas terceirizadas”, declarou a deputada, que também condenou o governador por “criminalizar” o movimento sindical.
“O nosso sindicato lá, o sindicato dos professores, corretamente, legitimamente, fez uma greve contra isso, está mobilizando, e o [governador] Ratinho, que não é um cara da democracia, pediu a prisão da presidenta do sindicato, é uma coisa descabida”, afirmou. “Quer dizer, a criminalização do movimento sindical. Aliás, a cabeça desse pessoal liberal é essa mesmo”.
Segundo ela, a repressão do governador pode acabar tendo um efeito contrário, ou seja, aumentar ainda mais a força do movimento.
“O movimento lá está muito forte de resistência, e claro que o pessoal está enfrentando. Eu acho que com isso ele só deixa o pessoal mais indignado, aumenta ainda mais a força do movimento. Nós estamos acompanhando com os nossos mandatos do PT no Paraná, nós somos seis deputados federais. Bancada nossa estadual, bancada de oposição, tomando medidas judiciais e dando apoio político, que é o que a gente pode fazer, mas é realmente um escândalo que está acontecendo”, reforçou.
Gleisi também se manifestou sobre o assunto nas redes sociais. ‘Minha solidariedade à presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), Walkiria Olegário Mazeto. O governo de Ratinho Junior, para tentar intimidar as pessoas que são contra a privatização das escolas, fez esse pedido de prisão absurdo contra nossa líder sindical. Violento e autoritário, esse é o governador que quer transformar a educação pública em mercadoria”, afirmou.