Na esteira da campanha nada discreta do presidente do Banco Central (BC) Roberto Campos Neto por um novo ciclo de alta da taxa de juros, os porta-vozes do capital financeiro têm sido ligeiros em vocalizar o voraz apetite da Faria Lima por lucros, sempre em detrimento do bem-estar do povo brasileiro. Nos últimos dias, pipocam por jornalões como Folha, Estadão e Valor notícias relatando que agentes do “mercado” dão como certo um aumento dos juros já em setembro, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para o dia 19.
O ataque especulativo, devidamente amplificado pela mídia corporativa, foi duramente rechaçado pela presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR). Na manhã desta quinta-feira (22), Gleisi se manifestou, em referência a reportagens publicadas pela Folha de S. Paulo e Estadão sobre a reunião do Copom que pode subir a taxa Selic, hoje em 10,50%.
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“Não satisfeitos com o mal causado ao país por Campos Neto, Folha e Estadão pressionam por juros ainda mais altos, ouvindo especuladores do mercado”, denunciou. “Querem naturalizar uma aberração econômica. Não suportam ver a economia crescer e gerar empregos no governo Lula”, disparou a petista.
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Bolsa de apostas
Segundo o “mercado”, a bolsa de apostas em uma alta dos juros, um movimento firmemente ancorado na especulação financeira, começou a ganhar mais corpo após declarações do diretor do Banco Central, Gabriel Galípolo, cotado para assumir o BC depois da aguardada saída do bolsonarista Neto do comando da autarquia. À imprensa, o diretor deixou chegar a mensagem de que a alta dos juros estava na mesa do Copom.
A partir daí, o mercado passou a “interpretar”, as declarações do diretor. “Qual é a chance de subir os juros? Não são pequenas”, conjectura reportagem do Valor. “O Copom está de olho numa melhora no quadro inflacionário geral para decidir o que fará. O ponto de partida, como repetido por Galipolo, é desconfortável”, insiste o jornal, fazendo coro com as “análises” de operadores do mercado coletadas por Folha e Estadão.
Lindbergh: “Pura especulação”
“Isso é pura especulação”, apontou o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), em declaração ao site do PT Nacional, nesta quinta-feira (22). “Especulação de quem ganha dinheiro quando a taxa Selic aumenta, isso é o rentismo”, definiu o petista, um dos mais ferrenhos críticos da política monetária conduzida por Neto.
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Para Lindbergh, o movimento especulativo do mercado ficou escancarado no momento em que o mundo caminha em direção oposta ao que ocorre no Brasil. “Nos Estados Unidos, agora em setembro, vão baixar a taxa de juros, tem gente falando em baixar até 0,5%, essa é a tendência em todo o mundo”, avaliou.
“Não faz sentido, com uma inflação de 4,5%, a gente aumentar a taxa de juros”, argumentou o deputado. “Já temos a segunda maior taxa de juros do mundo, é escandaloso, é especulação dessa turma que vive do rentismo e que não tem compromisso com o Brasil”.
Lula: “Não é normal o que está acontecendo”
O modo de operar do mercado financeiro não é novidade mas tem se tornado assustadoramente corriqueiro no Brasil, em especial, e não coincidentemente, desde que Campos Neto ganhou a “independência” do mandato no BC em 2021. Há pouco mais de um mês, as críticas do presidente Lula à politica monetária serviram de chamariz para o mercado testar seu poder sobre a política econômica e até sobre a condução do orçamento federal.
Durante dias, cada vez que Lula explicava à população, por meio de entrevistas de rádio, como a taxa de juros vinha impondo um atraso ao crescimento do país, funcionando como uma espécie de âncora do desenvolvimento, o dólar subia, em uma clara declaração de guerra do rentismo ao único governo de caráter popular da história da República.
“Obviamente que me preocupa essa subida do dólar”, disse Lula, alguns dias após o início da série de entrevistas. “É uma especulação. Há um jogo de interesse especulativo contra o Real nesse país. Não é normal o que está acontecendo”, reclamou o presidente, em função das manchetes dos jornais, que atribuíam qualquer flutuação do câmbio a uma de suas falas.
Um mês depois, o dólar despencou, e a imprensa, obviamente, não atribuiu a valorização do Real a Lula ou à sua política econômica. Tampouco fez menção ao ambiente propício à atração de investidores que fez com que a Bolsa de Valores batesse sucessivos recordes históricos no país nesta semana.
Enquanto isso, o “mercado”, embriagado pela ganância, cresce o olho para a alta dos juros e alimenta a sabotagem ao desenvolvimento soberano do Brasil.
Da Redação