Jair Bolsonaro tem recorrido à inauguração de obras prontas nos Estados como sendo projetos de sua autoria em um momento de perda de apoio popular pelas regiões do País e da crescente tensão com o avançar de depoimentos na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, aberta pelo Senado.
A visita de Bolsonaro a Alagoas, nesta quinta-feira (13), também foi palco de mais um ataque a Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI que investiga omissão e negligência do governo em ações contra a pandemia – o Brasil já perdeu cerca de 430 mil vidas por Coronavírus.
Ao término da sessão de ontem (12), quando a CPI ouvia o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten, o filho do presidente senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que não é membro titular nem suplente da comissão, chamou Renan Calheiros de “vagabundo”.
“Na manhã desta quinta-feira, os alagoanos manifestaram seu total repúdio à visita do genocida Bolsonaro a nossa terra. Um homem que tem a marca da morte, do desrespeito e do negacionismo não é bem-vindo aqui”, advertiu o deputado federal Paulão (PT-AL)
Bolsonaro foi recebido por protesto em frente ao viaduto da PRF que o presidente foi reinaugurar como sendo mais uma obra sua, mas que na verdade já está em funcionamento desde 23 de dezembro de 2020, quando foi entregue pelo governador Renan Filho (MDB-AL).
A obra do viaduto foi financiada com recursos transferidos pelos governos da presidenta Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (R$ 77,4 milhões) em convênio com o governo de Alagoas (R$ 25 milhões). Sob gritos de “Fora Bolsonaro” e “Bolsonaro genocida”, manifestantes protestaram em frente ao viaduto da PRF.
O Partido dos Trabalhadores participou das manifestações e, em seu site oficial, denunciou a ação de provocação de Bolsonaro no estado.
“Ladrão de obras”
A agenda do presidente em Alagoas inclui ainda a entrega de 500 unidades habitacionais do Residencial Oiticica I, no Benedito Bentes e ocorre depois que Bolsonaro praticamente extinguiu o programa Minha Casa Minha Vida, dos governos Lula e Dilma. Rebatizado de Casa Verde e Amarela, o programa sofreu cortes bilionários em seu orçamento para habitação.
Para se ter ideia, de 2009 a 2018, nos governos de Lula, Dilma e Temer, o Minha Casa Minha Vida recebeu investimento médio de R$ 11,3 bilhões. No segundo ano da gestão Bolsonaro, os recursos foram cortados para R$ 2,54 bilhões.
A terceira agenda presidencial no Estado é a entrega do Trecho IV do Canal do Sertão Alagoano, um dos eixos de transposição do Rio São Francisco, obra iniciada pelo governo Lula para acabar com a seca no Nordeste. Esta é outra situação em que Bolsonaro tenta carimbar como sendo obra sua, mas executou menos de 1% da parte do governo federal.
Provocação planejada
No Aeroporto Zumbi dos Palmares, Bolsonaro promoveu aglomeração e interagiu com apoiadores sem máscaras, obrigatórias por lei no combate à contaminação por Covid-19. A segurança de Bolsonaro em Alagoas está sendo feita pelo Exército, em afronta ao governador do Estado e sinal de intimidação política contra o relator senador Renan Calheiros. Normalmente, esta função cabe à Polícia Militar.
Em seu discurso, Bolsonaro voltou a atacar Renan Calheiros indiretamente e sem citar seu nome. “É um crime”, com “vagabundo inquirindo pessoas de bem”, falou o presidente em relação a depoimentos de testemunhas na Comissão Parlamentar de Inquérito. Na abertura da sessão da CPI nesta quinta-feira, antes de ouvir o CEO da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, o relator Renan Calheiros falou sobre os ataques que está sofrendo (veja abaixo).
De acordo com o deputado federal Paulão (PT-AL), Bolsonaro não é bem-vindo em Alagoas. “Na manhã desta quinta-feira, os alagoanos manifestaram seu total repúdio à visita do genocida Bolsonaro a nossa terra. Um homem que tem a marca da morte, do desrespeito e do negacionismo não é bem-vindo aqui”, disse. “Aqui temos a marca do trabalho, da luta e da mobilização. Não há espaço pra você, Bolsonaro!”
Ponte do Abunã
Outra obra que Bolsonaro tentou se “apossar” foi a ponte Abunã, ligando o Acre a Rondônia, em evento na semana passada que promoveu novamente aglomeração e desrespeito às regras sanitárias para evitar contágio de Covid-19. A título de esclarecimento, a obra foi iniciada em 2014 pelo governo Dilma Rousseff para interligar o Acre ao restante do Brasil, reduzindo o tempo de acesso ao Estado que era de 3 horas e para 1 minuto.
Da Redação