“Nem que seja a última coisa que eu fizer na minha vida, eu vou ajudar a Dilma a governar este País”. Num discurso intenso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu, nesta quarta-feira (23), no evento Sindicalistas em Defesa da Democracia e dos Direitos Sociais, em São Paulo, que está disposto a cooperar com a presidenta Dilma Rousseff para trazer o País de volta ao crescimento econômico, pleno emprego e combater a tentativa de golpe em vigor no Brasil.
Lula afirmou que a presidenta já havia o convidado para fazer parte do governo no ano passado. Ele relutou, por acreditar que ex-presidente trabalhar junto com a atual “não é algo fácil”. Porém, por causa da pressão da oposição contra a presidenta, a crise econômica e a tentativa de golpe, aceitou ser ministro-chefe da Casa Civil neste momento.
“Mas se engana quem acredita que só posso ajudar a presidenta como ministro”, disse. O ex-presidente explicou com pretende ajudar o governo: “Vou fazer o que mais sei fazer na vida: conversar e ouvir as pessoas”.
O fato do Brasil viver o período de democracia ininterrupta mais longo de sua história foi lembrado por Lula. “Nada é mais importante que a democracia. Quem tem a minha idade sabe a sua importância”, enfatizou. Ele se lembrou das perseguições políticas e tentativas de golpe que sofreram outros ex-presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e, por fim, o golpe consumado contra João Goulart, em 1964.
Povo com consciência
Para Lula, a elite conservadora tem dificuldade para aceitar que o povo cresceu em consciência e maturidade política, ao se reunir em partidos, sindicatos e organizações de qualquer natureza. E essa consciência foi fundamental para a população ter eleito um ex-torneiro mecânico como presidente da República. “Eu sou o resultado da consciência política dos homens e mulheres deste País”.
O ex-presidente disse que “não há outra palavra” para definir a tentativa de parte da oposição em busca do impeachment de Dilma: “É golpe. Pode juntar 800 juristas e eles dirão que não há motivo legal para o impeachment”.
Sobre o acirramento político nas ruas, Lula afirmou que ninguém que veste verde-e-amarelo pode se considerar mais brasileiro que os outros e afirmou que a polarização é um mal para o País. “Nós não queremos ser uma sociedade dividida, mas inclusiva. A mídia está fazendo a gente se dividir. A mídia está fazendo, como eles gostam de acusar, a gente virar uma Venezuela nos tempos do Chávez”.
“Nós sabemos quem cria o ódio neste País. Basta ligar a TV”, afirmou, para a plateia começar a entoar cânticos contra a Rede Globo.
Sindicalistas contra o golpe
A plenária Sindicalistas em Defesa da Democracia e dos Direitos Sociais reuniu diversos sindicatos e centrais sindicais que se uniram para demonstrar repúdio ao golpe e afirmar o apoio a Lula e Dilma. O ato ocorreu na Casa de Portugal, região central de São Paulo.
Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, o impeachment seria um grande retrocesso para a classe trabalhadora. “Pode ver: quem defende o impeachment defende também a terceirização irrestrita, defende o fim da carteira de trabalho, defende a diminuição das férias. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) pagam página nos jornais para defender o golpe. A CUT está do outro lado, de quem defende a Democracia e os Trabalhadores”, garantiu.
“O que está acontecendo é um golpe para a democracia”, disse Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). A democracia, diz ela, é algo que deve ser respeitado ao extremo. “Levamos tempo para conquistar a democracia e a estamos aprimorando. Mantê-la é o nosso maior patrimônio”, afirmou.
Para Luiz Gonçalves, o Luizinho, presidente estadual da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), o sindicato tem várias divergência, mas há um consenso: “Lula é o melhor presidente do Brasil de todos os tempos”. Ele também lembrou que “oportunistas pegaram carona” nos protestos de junho de 2013 para desestabilizar o País até hoje.
O secretário-geral da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Canindé Pegado, garantiu: “Se tem um homem que pode unir todas as vertentes e retomar o crescimento econômico, esse homem é o Lula”.
Assista o discurso na íntegra no vídeo abaixo (a partir de 1h 3min):
Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias