O ano de 2021 se inicia com perspectivas nada animadoras para EUA e Brasil, duas nações que atingiram o topo de um ranking macabro de vítimas fatais pela Covid-19 nas mãos de dois líderes de extrema direita e negacionistas, Donald Trump e Jair Bolsonaro. Enquanto os EUA bateram o recorde de 4 mil óbitos em um único dia, o Brasil retornou ao patamar das mil mortes diárias, ultrapassando a trágica marca de 200 mil vidas perdidas. Somados, os dois países têm 574,9 mil óbitos.
Especialistas advertem que medidas de restrição da circulação de pessoas, como o ‘lockdown’, devem ser adotadas com urgência, sob pena de um agravamento do quadro, “O Brasil precisa fazer algo muito parecido ao que aconteceu na Grã-Bretanha nos últimos dias”, afirma o neurocientista e coordenador do Comitê de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, Miguel Nicolelis, em entrevista à ‘BBC News’.
“Isso, aliás, veio a partir do comitê científico britânico, que pressionou o primeiro-ministro e o governo para fazer um lockdown mesmo com o início da campanha de vacinação por lá”, lembra o cientista. “É preciso conter a escalada para o sistema de saúde não colapsar”.
Para Nicolelis, a dicotomia em torno do debate saúde x economia, trazida pela ideia do bloqueio, é falsa. “Se o número de mortes começar a disparar, o sistema de saúde colapsa e nós não temos condições de manejar a pandemia da maneira correta. O que vai então acontecer com a economia?”, questiona, para logo responder que também entrará em colapso. “As pessoas vão começar a morrer em números altíssimos por outras doenças e não vamos ter nem gente para fazer a economia girar. Não vamos ter pessoas para trabalhar, produzir e consumir bens”, aponta.
A gravidade do quadro é semelhante nos EUA que, assim como o Brasil, dificilmente adotará medidas tão rígidas. “Acreditamos que as coisas vão piorar à medida que adentrarmos janeiro”, prevê o maior especialista em doenças infecciosas dos EUA, Anthony Fauci, em entrevista à agência de notícias ‘NPR’. Ele que pediu paciência aos americanos em relação à aplicação das vacinas. Até o momento, pelo menos 5,9 milhões de pessoas receberam uma dose das duas vacinas contra a Covid-19 autorizadas para uso.
300 mil mortos em abril
No Brasil, o quadro é ainda mais desalentador, já que o inicio das imunizações, objeto de uma guerra política entre o governo federal e o de São Paulo, ainda parece distante no horizonte. Ouvido pela agência Bloomberg, o professor Domingos Alves, do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, alerta que, se a vacina começar a ser aplicada na população somente em março, o número de mortos poderá chegar próximo de 400 mil. 300 mil em abril, segundo relatou ao ‘Globo’.
Ele sugeriu uma análise dos dados, ressaltando que cidades do Rio de Janeiro a Porto Alegre, e Fortaleza, por exemplo, registraram mais casos em dezembro do que na primeira onda da doença. “Antes que a vacinação comece, teremos problemas para enterrar os mortos e colapso da rede de saúde porque não adotamos medidas de distanciamento e testagem”, disse o pesquisador.
Manaus voltou ao cenário de filme de terror visto em abril, no pico de casos e óbitos. Hospitais estão superlotados, onde profissionais de saúde encontram-se completamente esgotados. Faltam leitos, enfermeiros, insumos. Em apenas um dia, 110 pessoas foram enterradas na capital amazonense. 19 pessoas morreram em casa, sem atendimento. Ao todo, o estado já sepultou mais de 5,5 mil pessoas desde o início da pandemia.
Amadorismo
“Estamos num platô de mortes da Covid-19”, concorda professor titular de epidemiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Medronho. “E as perspectivas não são animadoras. As aglomerações não foram combatidas como deveriam, o presidente Jair Bolsonaro continua a desdenhar as vacinas, não dá exemplo. A falta de planejamento é de um amadorismo que impressiona”, lamentou, também em depoimento ao diário carioca.
Da Redação, com informações de ‘BBC’, ‘O Globo’, ‘Bloomberg’ e ‘El País’