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Em descontrole nos EUA e Brasil, pandemia irá se agravar, alertam especialistas

Com os EUA batendo o recorde 4 de mil óbitos diários e o Brasil retomando ao patamar de mais de mil mortes em 24 horas, cientistas recomendam endurecimento de medidas de restrição. Juntos, os dois países somam mais de meio milhão de vítimas fatais, com 574.889 óbitos. “O Brasil precisa fazer algo muito parecido ao que aconteceu na Grã-Bretanha nos últimos dias: o lockdown”, adverte o neurocientista e coordenador do Comitê de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, Miguel Nicolelis.

O ano de 2021 se inicia com perspectivas nada animadoras para EUA e Brasil, duas nações que atingiram o topo de um ranking macabro de vítimas fatais pela Covid-19 nas mãos de dois líderes de extrema direita e negacionistas, Donald Trump e Jair Bolsonaro. Enquanto os EUA bateram o recorde de 4 mil óbitos em um único dia, o Brasil retornou ao patamar das mil mortes diárias, ultrapassando a trágica marca de 200 mil vidas perdidas. Somados, os dois países têm 574,9 mil óbitos.

Especialistas advertem que medidas de restrição da circulação de pessoas, como o ‘lockdown’, devem ser adotadas com urgência, sob pena de um agravamento do quadro, “O Brasil precisa fazer algo muito parecido ao que aconteceu na Grã-Bretanha nos últimos dias”, afirma o neurocientista e coordenador do Comitê de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, Miguel Nicolelis, em entrevista à ‘BBC News’.

“Isso, aliás, veio a partir do comitê científico britânico, que pressionou o primeiro-ministro e o governo para fazer um lockdown mesmo com o início da campanha de vacinação por lá”, lembra o cientista. “É preciso conter a escalada para o sistema de saúde não colapsar”.

Para Nicolelis, a dicotomia em torno do debate saúde x economia, trazida pela ideia do bloqueio, é falsa. “Se o número de mortes começar a disparar, o sistema de saúde colapsa e nós não temos condições de manejar a pandemia da maneira correta. O que vai então acontecer com a economia?”, questiona, para logo responder que também entrará em colapso. “As pessoas vão começar a morrer em números altíssimos por outras doenças e não vamos ter nem gente para fazer a economia girar. Não vamos ter pessoas para trabalhar, produzir e consumir bens”, aponta.

A gravidade do quadro é semelhante nos EUA que, assim como o Brasil, dificilmente adotará medidas tão rígidas. “Acreditamos que as coisas vão piorar à medida que adentrarmos janeiro”, prevê o maior especialista em doenças infecciosas dos EUA, Anthony Fauci, em entrevista à agência de notícias ‘NPR’. Ele que pediu paciência aos americanos em relação à aplicação das vacinas. Até o momento, pelo menos 5,9 milhões de pessoas receberam uma dose das duas vacinas contra a Covid-19 autorizadas para uso.

300 mil mortos em abril

No Brasil, o quadro é ainda mais desalentador, já que o inicio das imunizações, objeto de uma guerra política entre o governo federal e o de São Paulo, ainda parece distante no horizonte. Ouvido pela agência Bloomberg, o professor Domingos Alves, do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, alerta que, se a vacina começar a ser aplicada na população somente em março, o número de mortos poderá chegar próximo de 400 mil. 300 mil em abril, segundo relatou ao ‘Globo’.

Ele sugeriu uma análise dos dados, ressaltando que cidades do Rio de Janeiro a Porto Alegre, e Fortaleza, por exemplo, registraram mais casos em dezembro do que na primeira onda da doença. “Antes que a vacinação comece, teremos problemas para enterrar os mortos e colapso da rede de saúde porque não adotamos medidas de distanciamento e testagem”, disse o pesquisador.

Manaus voltou ao cenário de filme de terror visto em abril, no pico de casos e óbitos. Hospitais estão superlotados, onde profissionais de saúde encontram-se completamente esgotados. Faltam leitos, enfermeiros, insumos. Em apenas um dia, 110 pessoas foram enterradas na capital amazonense. 19 pessoas morreram em casa, sem atendimento. Ao todo, o estado já sepultou mais de 5,5 mil pessoas desde o início da pandemia.

Amadorismo

“Estamos num platô de mortes da Covid-19”, concorda professor titular de epidemiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Medronho. “E as perspectivas não são animadoras. As aglomerações não foram combatidas como deveriam, o presidente Jair Bolsonaro continua a desdenhar as vacinas, não dá exemplo. A falta de planejamento é de um amadorismo que impressiona”, lamentou, também em depoimento ao diário carioca.

Da Redação, com informações de ‘BBC’, ‘O Globo’, ‘Bloomberg’ e ‘El País’