O presidente Lula recebeu o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, em visita oficial ao Brasil, nesta quarta-feira (6), no Palácio do Planalto. Ministros dos governos brasileiro e espanhol assinaram, durante o encontro, acordos bilaterais nas áreas de comunicações; ciência, tecnologia e inovação; administração pública e saúde.
“É motivo de grande alegria receber o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, e retribuir a calorosa acolhida que ele nos ofereceu na visita a Madri, em abril do ano passado”, declarou o presidente. “Hoje, pudemos comprovar mais uma vez a grande afinidade entre os nossos governos”, disse Lula durante a assinatura dos protocolos de cooperação entre os dois países.
Os dois também trataram de investimentos da Espanha no Brasil, transição energética e do acordo entre Mercosul e União Europeia.
Segundo o presidente Lula, Brasil e Espanha estão trabalhando para assinar o acordo o mais breve possível.
“Ele vai sem dúvida promover grande mudança na geopolítica global porque não só vai ser criada a maior área de intercâmbio comercial do mundo, como também teremos, unidas, duas regiões com visões muito interessantes para enfrentar os desafios globais”, salientou o presidente, ao comunicar que houve muitos avanços recentes.
Pedro Sánchez agradeceu ao presidente Lula pela liderança no avanço de um acordo tão importante tanto para o Mercosul como também para a União Europeia.
Aprovado em 2019, depois de 20 anos de negociações, o acordo agora precisa ser ratificado por todos os 31 países. Ele alcança aspectos tarifários e de natureza regulatória, como serviços, compras públicas, facilitação de comércio, barreiras técnicas, medidas sanitárias e fitossanitárias e propriedade intelectual, conforme divulgado pela Agência Brasil.
“É uma iniciativa que reforça os nossos vínculos comerciais e de investimento e também contribui claramente com a área social e de meio ambiente. América Latina e UE são aliados naturais e estou determinado a continuar construindo esses compromissos alcançados na cúpula da União Europeia no ano passado”, relatou Sánchez.
Ele apontou que Espanha e o Brasil têm uma agenda bilateral muito ampla e com visão comum sobre assuntos de relevância como justiça social, a transição verde justa e também a cooperação internacional baseada em um sistema financeiro global reformado.
Compromisso com a democracia
Pedro Sánchez afirmou também que veio ao Brasil “aprofundar uma relação que já é excelente” e que haverá avanços em muitos âmbitos para o progresso, estabilidade e “por um mundo que deve caminhar para a paz, para a justiça social e para a sustentabilidade”, apontou, ao citar os ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes em Brasília.
“Isso nos lembra que devemos ficar firmes nos nossos princípios democráticos”, ressaltou o presidente da Espanha, país que atualmente é o segundo maior investidor do Brasil, em especial nos setores energético, bancário, de telecomunicações, seguros, entre outros. Os investimentos chegam a 60 bilhões de dólares valor menor apenas que os Estados Unidos.
O Brasil tem um grande mercado consumidor, mão de obra qualificada e tem estabilidade política, jurídica, fiscal, econômica e social, segundo Lula. Ele apontou que boas qualidades assim são um atrativo extraordinário para que os empresários invistam, com a certeza de retorno.
“Estou no primeiro ano do meu terceiro mandato eu nunca tinha recebido a quantidade de banqueiros que eu estou recebendo. Nunca vi tanto interesse deles em investir no Brasil como agora. Poucas vezes na história o Brasil teve a oportunidade que está tendo nesse momento. Se Deus já é brasileiro, agora ele está agindo”, brincou Lula.
“Violência brutal na Faixa de Gaza”
Lula também voltou a condenar o massacre promovido pelo exército de Israel em Gaza. “É preciso uma parada humanitária para resolver o problema de milhares de mulheres e crianças vítimas de uma violência brutal na faixa de Gaza. Não percamos o humanismo que ainda tem dentro de nós. Não sejamos algoritmos, sejamos seres humanos de verdade e percebamos que o que está acontecendo lá é um verdadeiro genocídio (…) Há desejo unânime por um mundo de paz e prosperidade”, reafirmou.
Lula classificou como “ato de desumanidade” o impedimento da chegada de alimentos aos palestinos. “Eu continuo achando que o Conselho de Segurança da ONU tem a obrigação de tomar atitude, abrir um corredor humanitário e permitir que chegue alimento, água e remédio”, apelou.
“O direito de defesa transformado em direito de vingança constitui, na prática, punição coletiva que mata indiscriminadamente mulheres e crianças (…). Isso deve mexer com o coração das pessoas que têm o poder de decisão nas Nações Unidas. O Brasil continuará brigando para que se faça uma pausa, para que se encontre uma solução”, disse Lula.
É fundamental avançar rapidamente na criação de um Estado Palestino, segundo o presidente, e reconhecê-lo como membro pleno da ONU, que seja economicamente viável e que possa conviver em paz com Israel.
Sánchez cobra coerência de Israel
Lula teve sua fala corroborada pelo primeiro-ministro Sánchez, que afirmou que a Espanha sempre cobrou coerência em relação ao direito internacional.
“Depois de 30 mil mortes temos dúvida de que Israel esteja cumprindo com o direito internacional humanitário. Podemos trabalhar junto com o governo brasileiro pela paz”, declarou o primeiro-ministro espanhol ao pedir uma conferência internacional de paz e o reconhecimento dos estados da Palestina e Israel.
Nova governança global
Em seu discurso antes da coletiva à imprensa, Lula destacou a grande convergência no Sul Global em torno da necessidade de reforma das organizações internacionais.
“A paralisia do Conselho de Segurança (da ONU) frente à guerra na Ucrânia e em Gaza é prova cabal da necessidade de reformas urgentes no sistema de governança global para torná-lo mais representativo, legítimo e eficaz”, salientou.
Olheiros nas eleições venezuelanas
Perguntado pela imprensa sobre as eleições na Venezuela marcadas para julho, Lula disse esperar que sejam as mais democráticas possíveis e que não se pode jogar dúvida antes do pleito acontecer. O presidente Nicolás Maduro, segundo Lula, disse que vai convocar todos os olheiros do mundo para assistir o processo eleitoral na Venezuela.
“Espero que a imprensa acompanhe não com os olhos de condenação. Estou feliz que as eleições estão marcadas e espero que não tenham o hábito de um ex-presidente que rejeita o resultado das urnas”, assinalou Lula, ao relatar o episódio constrangedor do ex-presidente que “teve a insensatez, a falta de pudor e a falta de vergonha” de convocar todos os embaixadores da UE para insinuar ao mundo inteiro que as eleições no Brasil não eram honestas.
Da Redação