Uns dos principais ícones do rap mineiro. Natural de Belo Horizonte, Flávio Renegado, o `filho do rei`, cresceu na comunidade do Alta Vera Cruz e teve o seu primeiro contato com o rap aos 13 anos e aos 15 já fazia trabalhos sociais. Hoje, com 33, faz várias movimentação por diferentes manifestações artísticas: rapper, compositor, instrumentista, poeta, ator e líder comunitário.
Em setembro deste ano, o rapper lançou seu mais novo álbum ‘Relatos de Um Conflito Particular’. O EP é o terceiro álbum de estúdio lançado em sua carreira, foi criado com base nos pecados capitais.
Na entrevista semanal para a Rádio e o portal Linha Direta, o rapper falou da sua trajetória, do seu novo trabalho e de política.
Para o cantor, a música é uma ação social transformadora. “Eu descobri quando a música me mudou. Eu entendi. Se a música poderia me mudar, poderia me mudar, poderia mudar qualquer coisa e qualquer pessoa e daí eu consegui usá-la como instrumento de transformação mesmo, da minha própria vida, na vida dos meus iguais”, frisa.
Ele fala também das diferenças e a particularidade do rap mineiro. “Nós temos essa referencia do `Clube da Esquina, das harmonias, das melodias, congado mineiro é muito forte, a religiosidade, também esses elementos são transformadores e trazem outros valores para o próprio rap mineiro. Acho que a forma de organização e isso tudo é bem particular, mesmo, da nossa realidade”, explica.
Renegado comentou o lançamento do seu novo álbum “Relatos de Um Conflito Particular”. Com sete músicas – uma para cada um dos pecados capitais -, o rapper mineiro citou o clima de hostilidade que estamos vivendo no país. “Ele surgiu a partir de uma indagação, a minha empresaria virou para mim e falou comigo `porque você não inventa o oitavo pecado capital?` Aí fiquei anos matutando e difundindo e aí veio uma resposta de mim mesmo. A sociedade está louca demais. O ser humano está muito doido, inventar mais um pecado pra quê? Não tem necessidade. Eu fiz a minha leitura do que eu vejo desses sete pecados e o nome veio muito disso, que eu fiz um raio X a partir do meu ponto de vista de como está a sociedade brasileira hoje. A gente está se gradeando por nada e quando falo do ‘Relatos de Um Conflito Particular’, eu me incluo dentro desse contexto, avaliamos uma sociedade, a gente dentro dessa sociedade e essa sociedade é uma guerra particular, está vivendo mesmo, preto contra branco, pobre contra rico, coxinha versos petralhas, está nesse clima de hostilidade gratuita no ar”.
O rapper ainda refletiu sobre a escalada de intolerância e o ódio no país. “Acho que essa postura desses xingamentos contra a presidenta, no meu ponto de vista, é de um bando de playboy que não teve educação direito. Mulher a gente não xinga nunca. Mulher temos que respeitar, por mais que você tem divergência da condução política, vai para o dialogo, a gente tem que aprender a respeitar, está reproduzindo um sentimento machista e intolerante em uma sociedade que não a prendeu a respeitar mulher ainda”, pontua.
Renegado, na entrevista, também falou do processo de impeachment que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, aceitou essa semana contra a presidenta Dilma. Segundo ele, Cunha não tem moral parar representar ninguém. “O Cunha, pra mim, não me representa. A forma que ele conduz, o cara que vota a redução da maioridade penal a revelia, da noite por dia, é um cara que não tem o mínimo de caráter, não tem o mínimo de senso crítico de poder entender fazer uma auto-avaliação para a gente poder e fazer uma discursão mais profunda da sociedade dessa situação. E o que me assusta em todo esse ódio, toda essa intolerância, não é por que é a Dilma, não é por que ela é mulher, é por que ela representa um projeto onde a pirâmide social está sendo quebrada, tá ligado irmão? E isso eles não toleram. E isso essa galera não curte. Então, eu sou totalmente a favor da postura da inclusão social que o governo tem, faço as minhas críticas também, estamos vivemos tempos complexos de corrupção, que tem que ser discutido a fundo mesmo. De toda forma mano, acho que é inaceitável a intolerância e a falta de respeito com a mulher, em primeiro lugar. Segundo com a presidenta da republica do país, está ligado. Não é qualquer pessoa que você tem ter respeito pra falar. Acredito mesmo que vai conseguir mudar esse país com muita discursão e com muito dialogo. A minha postura, irmão, é a postura do povo. Eu estou aqui pelo povo e o que for melhor para o povo brasileiro eu quero trazer para dentro do meu trabalho e para dentro das minhas opiniões. E que a gente consiga avançar e transformar esse país mesmo, de fato, e que o Brasil de fato seja um país de todos, um país todos tem direito (…) a onde o negro tem condição de subir nessa escala social sem ser alvo de balas perdidas, tá ligado?”, exclama.
Ao final, o rapper também deixou um recado à juventude da periferia brasileira, pedindo para eles continuarem na luta e nunca deixarem de sonhar. “A parada é a seguinte: Nunca deixe de sonhar, o sonho é uma coisa transformadora. O mais importante é levantar da cama para realizar os seus sonhos. É isso que a gente tem que fazer, transformar esse país, o país dos nossos sonhos, a gente tem que levantar e lutar por eles, tamo junto!”.
Por Elineudo Meira, do Linha Direta