Com tiragem inicial de 3 000 exemplares e apresentação de Arthur Chioro, que foi ministro da Saúde entre fevereiro de 2014 e outubro de 2015, o livro “Mais Médicos” é uma obra institucional necessária. As fotografias capturadas pela câmara de Araquém Alcântara em 19 Estados registram o trabalho de 18 000 médicos em pontos extremos da sociedade brasileira. As cinco imagens que ilustram essa nota, cedidas especialmente para o 247 pelo próprio Araquém, são uma pequena amostra de um trabalho de 219 páginas.
Vivemos num país onde a memória de episódios essenciais de nossa história social costuma ser perdida tanto pela falta de cuidado por parte dos protagonistas como pela atuação de adversários interessados em impedir sua real compreensão. Neste contexto, o livro ajuda a enxergar uma realidade que muitas pessoas podem até imaginar mas nunca tiveram a chance de ver. Os textos que acompanham as fotos de Araquém estão longe de esgotar toda a discussão sobre um assunto tão grave e complexo como a saúde da população carente.
Mas basta recordar a mitologia e o preconceito que ilustraram a oposição de entidades médicas no lançamento do programa, em setembro de 2013, para reconhecer a importância de um trabalho desse tipo.
Comparadas com as imagens das campanhas do Médicos Sem Fronteiras, presença periódica na TV brasileira, o trabalho de Araquém serve como um contraponto importante. Louvável pelo aspecto humanitário, a atuação do MSF apoia-se em donativos de natureza filantrópica para garantir alguma forma de atendimento a populações que habitam as regiões miseráveis do planeta. Só se pode aplaudir uma iniciativa dessa natureza.
“Mais médicos” mostra um programa de governo, de caráter permanente, que chega a 63 milhões de pessoas. Pelo atendimento preventivo, o programa foi capaz de evitar perto de 100 000 internações hospitalares — quando as doenças se encontram num estágio mais grave, de difícil atendimento, exigindo tratamentos mais caros, complexos e muitas vezes inacessíveis. O livro não exibe cenas de uma atividade sustentada por meritórias contribuições individuais e voluntárias, mas uma decisão de Estado, num país onde a Constituição afirma no artigo 196 que a saúde “é um direito de todos e um dever do Estado.”
No momento em que o programa foi lançado, 15% dos municípios brasileiros não contavam com um único médico para atender a população. Em outros 2 000 municípios, havia um médico para 3 000 pessoas — imagine o tempo de espera para o atendimento, quando e se ele ocorria.
Numa fase inicial, foram abertas 9,500 vagas, que cresceram 80% em três anos. Com auxilio dos repórteres Marcelo Delduque e Xavier Bataburu, que se revezaram nas viagens, Araquém mostra o trabalho dessas pessoas, descrevendo o local de sua atuação e as condições de vida da população atingida.
Distribuído para instituições e entidades ligadas a saúde pública, o livro será alvo de exposições em Genebra, Havana, São Paulo e Brasília. É possível que se faça uma segunda edição, para chegar às livrarias e ao principal interessado por esta história, o cidadão comum. Ainda não há prazo, contudo, para que isso aconteça.
Do blog do jornalista Paulo Moreira Leite, no Brasil 247