O parlamento brasileiro tem a obrigação de contribuir para encontrar saídas para os impasses políticos e construir caminhos que preservem os interesses da sociedade, alertou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) em pronunciamento ao plenário, nesta segunda-feira (10) no qual propôs uma reflexão sobre o momento de crise política que atravessa o País. “As duas Casas do Congresso Nacional não podem faltar com a responsabilidade nos momentos mais importantes da nossa história”, lembrou a senadora.
Gleisi fez uma análise da situação econômica, destacando que, apesar da crise global e das dificuldades momentâneas enfrentadas internamente, o Brasil tem conseguido se sair melhor que outras economias profundamente abaladas pela turbulência deflagrada em 2008. “Durante o primeiro mandato da presidenta Dilma, o governo centrou seus esforços em minorar os efeitos da crise. Se olharmos em perspectiva, não há como não reconhecer que conseguimos evitar uma enorme crise econômica e social no nosso País”, recapitulou a senadora, destacando que mesmo sem manter o crescimento, o País estancou o desemprego.
Hoje, as medidas para impedir que a população — especialmente os setores mais vulneráveis — sofresse os piores efeitos da turbulência internacional apresentam suas consequências. “Todo esse esforço nos cobra hoje uma fatura muito grande. A crise mundial se mantém. Os efeitos dela se fazem sentir no Brasil, e o Governo esgotou suas possibilidades para ajudar as empresas e gerar emprego. Tivemos, em 2014, um grande déficit orçamentário, com consequências que ainda nos afetam”, reconheceu a senadora, para quem essa é a hora de todos os setores políticos terem responsabilidade não com o governo, mas com o País e apoiar a sobriedade e o ajuste.
“Nós temos que trazer a mediação, a responsabilidade e o equilíbrio para um momento como este. Não dá para jogar fogo ou gasolina na fogueira, como se diz. O Senado da República tem essa responsabilidade”, alertou Gleisi, ressaltando que as dificuldades econômicas têm sido claramente aprofundadas em consequência da crise política. “O que agrava as dificuldades que enfrentamos é a política”. Depois de uma campanha eleitoral acirrada, com um resultado apertado, emocionante, mas o clima de conflagração, atipicamente, tem se estendido demais para além do período eleitoral.
“O candidato perdedor e seu partido, inconformados, tentaram várias manobras sucessivas para mudar o resultado das urnas”, lamentou a senadora. Houve as tentativas fracassadas de pedir auditoria e recontagem dos votos e de reabertura das contas de campanha de Dilma, com a cobrança de cassação do registro da presidenta eleita e empossada, “com o agravante de que as contas de Aécio não apresentam, na sua essência, diferença alguma daquelas da campanha vitoriosa de Dilma”, pontuou Gleisi. A nova tentativa é o julgamento das contas do governo pelo TCU.
A senadora ironizou a nova “saída” inventada pelo candidato derrotado Aécio Neves e os setores do PSDB que o acompanham. “Agora, não querem impeachment. Querem a realização de novas eleições, antes de 2018. De preferência, eleições que eles vençam, claro, porque, se perderem, poderemos ter que ouvir novamente todas as desculpas que estamos ouvindo desde o resultado das urnas que decepcionou tanto o PSDB”.
A senadora lembrou a esses setores empenhados no “quanto pior melhor” que a oposição, normalmente formada por quem foi derrotado nas eleições, não tem qualquer obrigação de apoiar o governo, mas não está isenta da responsabilidade que é partilhada por todos os segmentos da política e indivíduos que assumem funções públicas. Gleisi também destacou os efeitos graves do “desmanche por que passa a chamada base governista”, que desde a disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados está desorganizada e mesmo sublevada contra o Executivo.
As disputas que poderiam ser consideradas normais na vida política, lamentou a senadora, exacerbam-se “no verdadeiro esforço concentrado para votar uma pauta que não apenas é contra o governo, contra Dilma, contra o PT, mas é contra o País”.
A senadora manifestou sua concordância com “boa parte” das críticas feitas à dificuldade de diálogo do governo, à precariedade da articulação política, à demora na tomada das decisões. “O que não defendo e não endosso é essa utilização do poder de legislar para aprovar medidas que vão impactar nas contas deste e dos próximos governos”, advertiu, condenando a ideia do “vamos botar fogo no circo e quem puder que apague”.
Gleisi condenou com veemência a aprovação de matérias que terão forte impacto nas contas públicas, sem sequer uma análise de sua viabilidade orçamentária. Decisões como o fim do fator previdenciário, o reajuste para os servidores do Judiciário, o aumento real para as aposentadorias e a PEC que promete equiparar os salários de advogados, procuradores e delegados com os dos ministros de tribunais superiores não ameaçam apenas o equilíbrio imediato das contas do governo, mas o próprio Estado brasileiro.
“O momento é de dificuldades. O Governo precisa acertar sua situação fiscal. Nossa economia não passa por um momento favorável. Precisamos criar condições para a retomada do crescimento e para a geração de emprego. E o Congresso Nacional pode fazer muito como partícipe da construção de saídas para o nosso País. Não estamos numa crise econômica estrutural, mas, sim, numa situação de dificuldade econômica. Agora, se continuarmos nos comportando como estamos vendo se comportar o conjunto da Câmara e do Senado, do Congresso Nacional, aí nós vamos entrar numa crise estrutural”. E quem vai sofrer mais, destacou Gleisi, são os segmentos mais frágeis e vulneráveis da população.
Por Cyntia Campos, do PT no Senado