Mais de 60 mil pessoas se reuniram na praça da Sé, em São Paulo, na noite desta quinta-feira (31) em defesa da democracia e contra o processo de impeachment que corre no Congresso Nacional, segundo números dos organizadores.
Artistas, estudantes, trabalhadores, idosos, jovens: manifestantes dos mais variados estilos não paravam de chegar no local, que se enchia rapidamente conforme caía a tarde. Os gritos de “Não vai ter golpe” se somavam ao “Sérgio Moro, eu não me engano, o seu nariz é bico de tucano”, ao batuque incessante das baterias, ou ao ritmo do forró que tocava no trio elétrico.
“As pessoas estão percebendo que o golpe é um retrocesso, que vai fazer privatizações, piorar a educação, acabar com o Bolsa Família. A população precisa se mobilizar para convencer os deputados a não permitir a abertura desse processo de golpe”, afirmou o presidente nacional do PT, Rui Falcão, presente no ato. “O povo tem que se mobilizar, procurar os deputados, dizendo que não estão apoiando o golpe, que não tem nenhuma base legal. A presidenta não cometeu nenhum crime, nem crime de responsabilidade. Impeachment sem crime de responsabilidade é golpe”, reforçou.
“O povo tem que se mobilizar, procurar os deputados, dizendo que não estão apoiando o golpe, que não tem nenhuma base legal”, reforçou Rui Falcão.
Nadia Campeão, vice-prefeita de São Paulo, Eduardo Suplicy, a cartunista Laerte foram algumas das personalidades presentes no ato. Caravanas do interior e do litoral de São Paulo também vieram em peso.
As manifestações foram chamadas pela Frente Brasil Popular, que reúne diversos movimentos sociais como CUT, UNE, MST, CTB, Consulta Popular, e a Frente Povo sem Medo, que reúne MTST, Uneafro, Ruas, Brigadas Populares, Intersindical, entre outros. Estudantes da USP, Mackenzie, Uninove e PUC também foram ao ato. Durante as falas, foi lembrado que há 52 anos ocorria o golpe militar, em 31 de março de 1964.
“Eu estou aqui porque isso é democracia real. Eu estou aqui pelo Brasil de todo mundo, o Brasil popular, o Brasil das feministas. Eu realmente acredito nisso. Não tem como chamar de impeachment. Pra mim é golpe”, afirma Luiza, estudante de 17 anos, que foi ao ato junto com a designer Adriana, de 53 anos.
“Eu tenho pavor do que está acontecendo no Brasil. Não quero golpe”, afirmou Adriana. A designer afirmou que, depois de 20 anos sem assistir à Globo, ficou chocada com a cobertura parcial da GloboNews. “Semana passada fiquei assistindo muito a Globonews depois de 20 anos e vi como as pessoas são massacradas por esse discurso (de apoio ao impeachment)”, afirmou.
Para Milton Barbosa, do MNU (Movimento Negro Unificado), a elite está utilizando o impeachment para se apropriar do aparato de Estado e “deitar e rolar mais ainda”.
“Eu quero respeitem o meu voto. Se eles querem conquistar a Presidência da Republica que seja na urna, e não do jeito que estão fazendo hoje”, afirma Alessandra Salvador, de Campinas.
Para a dona de casa Ines Wanderley, 66, o impeachment é reflexo do machismo. “Querem tirar a Dilma porque ela é mulher. A Dilma é uma mulher de luta, de garra, de fibra, que não invadiu a presidência. Ela foi eleita. O povo sabe o que quer”, afirmou.
Edsão, operador de máquinas e membro do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, afirma que na fábrica, os trabalhadores já perceberam o cheiro de golpe. “O impeachment na forma como ele foi feito, só está tentando tirar um governo democraticamente eleito e reverter todos os avanços sociais que a gente já teve. Eles querem fazer o povo pagar a conta que é deles e não nossa”, disse.
A manifestação contra o impeachment e em defesa da presidenta Dilma Rousseff na Praça da Sé começou a se dispersar por volta das 20h.
Por Clara Roman, da Agência PT de Notícias