O número de mortes em chacinas na grande São Paulo neste ano superou o total de 2014. Até agosto, 56 pessoas foram vítimas desse tipo de ocorrência. Em todo o ano passado, foram 49.
Os dados foram publicados em reportagem da “BBC Brasil” e conseguidos pelo Instituto Sou da Paz, que recorreu à Lei de Acesso à Informação para que a Secretaria de Segurança Pública do Estado divulgasse.
Para a professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Maria Stela Grossi Porto, o aumento no número de mortes acende um sinal de alerta por indicar a busca de soluções extralegais para conflitos.
“A sensação de insegurança e de impunidade são duas das principais condições para resoluções violentas e isso muitas vezes é ligado a territórios mais periféricos, onde as pessoas agem por se sentirem indefesas e desprotegidas”, analisa.
A última chacina, na quinta-feira (13), matou 18 pessoas em Barueri e Osasco. De acordo com testemunhas, antes de efetuar os disparos, os assassinos perguntavam quem tinha passagem pela polícia. Eles portavam armas de uso policial e militar.
A Corregedoria da Polícia Militar vai interrogar policiais que podem ter envolvimento no crime. Os investigadores suspeitam que os assassinatos sejam uma resposta à morte de um policial durante um assalto a um posto de combustível em Osasco.
Policiais de Osasco, Barueri e outras cidades da Região Metropolitana teriam trocado mensagens com promessas de vingar a morte do colega.
Uma das linhas de investigação aponta para o envolvimento de policiais nos crimes. “De fato há uma guerra declarada entre o narcotráfico e a Polícia para ver quem mata mais”, afirma o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP).
“O fato de não haver um desenrolar das investigações das apurações desses crimes nas periferias, diferente dos que acontecem em bairros nobres, levam a crer que há envolvimento da Polícia”, denuncia.
Tatto defende a desmilitarização da Polícia. “Só na base da repressão não vem funcionando. A Polícia deveria ser mais próxima da população, estar mais presente em bairros da periferia”, diz.
De acordo com o deputado, é preciso responsabilizar os culpados e investir em inteligência. “Em todas as campanhas o governador (Geraldo Alckmin) promete um monte de coisas na área de inteligência e não consegue implementar. Parece não ter autoridade para isso”, critica.
A mudança na estrutura policial ajudaria, na avaliação de Tatto, a vencer o racismo institucionalizado que se manifesta nas abordagens policiais. “A gente vê, por exemplo, nas periferias, revistas contra jovens e negros com muito mais frequência do que de brancos. Eles partem do pressuposto de que todo preto pobre é bandido, está incrustado dentro da Polícia”, lamenta.
Mortes – A última chacina é considerada a pior da história recente de São Paulo. Somente este ano, foram 13 ataques, com índice de letalidade de 4,7 mortes em cada um. Em 2012, foram registrados 41 ataques e 139 mortos. Ainda assim, o índice de letalidade foi de 3,2.
Nesta segunda-feira (17), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou a recompensa de R$ 50 mil para quem oferecer informações que contribuam para a apuração de responsabilidades sobre a chacina.
Por Cristina Sena, da Agência PT de Notícias