Partido dos Trabalhadores

Em um mês, Brasil triplica infecções e já tem 1,5 milhão de casos

Ao lado dos EUA, que bateram recorde pela quinta vez com mais de 52 mil novos casos em um dia, país vive descontrole da epidemia. Nas últimas 24 horas, o Brasil registrou mais 48.105 mil novas infecções e 1.252 óbitos. Em números totais, já são 1.508.991 doentes e 62.304 mortes. Omissão de Trump e Bolsonaro abreviou a vida de 193,2 mil pessoas nos dois países

Nas últimas 24 horas, os Estados Unidos registraram mais de 52 mil novos casos e bateram recorde de infecções por coronavírus pela quinta vez em pouco mais de uma semana. O Brasil, segundo o balanço desta quinta-feira (2), divulgado pelo Ministério da Saúde, acumulou mais 48.105 mil infecções diárias. Os dados atualizados apontam um  total de 62.304 óbitos, dos quais 1.252 nas últimas 24 horas, e 1.508.991 contaminações. À parte as históricas comparações entre Brasil e EUA no campo da sociologia, no contexto da crise sanitária, muitos cientistas consideram que o Brasil vai se tornar a América amanhã.

E o amanhã está logo ali. Com a consolidação dos dados das últimas semanas, tudo indica que, em um futuro muito próximo, o Brasil deverá replicar a tragédia americana em escala ampliada, com grandes chances de deixar os EUA para trás em número de infecções e mortes. Para isso, basta que o presidente Jair Bolsonaro continue reproduzindo os erros de Donald Trump no enfrentamento da pandemia de Covid-19. Acrescente-se ao caldeirão do desastre uma economia já destroçada por uma política socialmente excludente e voltada para privilegiar o mercado financeiro, e a catástrofe está anunciada.

As semelhanças entre os dois chefes de Estado encontram raízes já no início da crise. Alertados sobre a chegada da pandemia, os aliados de ocasião Trump e Bolsonaro adotaram um discurso negacionista para referir-se ao coronavírus, manifestado quase em tom de deboche. Com uma diferença: Bolsonaro teve pelo menos mais de um mês de vantagem, desde o registro do primeiro caso de um americano contaminado, até a chegada do vírus ao Brasil. O primeiro infectado em território norte-americano foi  anunciado no dia 21 de janeiro. No Brasil, em 26 de fevereiro.

Seguindo a tática de subestimar o surto, Trump e Bolsonaro advogaram em nome da “salvação” da economia – como se isso pudesse ser dissociado da vida humana – afinal, morto não trabalha. Em seguida, atacaram, cada um a seu tempo, governadores e prefeitos que adotaram medidas de isolamento para proteger a população de seus estados e municípios. Também abriram guerra à Organização Mundial da Saúde (OMS). Trump acusou as Nações Unidas de protegerem a China, que teria escondido informações sobre a pandemia e anunciou o rompimento dos EUA com a entidade. Por sua vez, Bolsonaro atrasou repasses à OMS e também ameaçou cortar verbas.

Contra a ciência

Como que para não deixar dúvidas sobre a fidelidade canina ao negacionismo, os dois ainda investiram contra a ciência dentro de casa, demitindo conselheiros, infectologistas e matemáticos de seu círculo mais próximo. Os profissionais teriam contrariado os chefes com recomendações “alarmistas”.  Nesse quesito, Bolsonaro levou vantagem, uma vez que o Ministério da Saúde nem comando tem há mais de 45 dias.

Por fim, usaram e abusaram da publicidade em torno da hidroxicloroquina, medicamento até o momento sem eficácia cientificamente comprovada no tratamento de pacientes infectados pelo Covid-19. No caso de Bolsonaro, seus apoiadores recorreram a todo tipo de fake news para promover a droga e inventar mentiras sobre a OMS.

Tragédia

Com negacionismo e sabotagem, ignorância ou mesmo por simples incompetência, a “liderança” de ambos perante a crise produziu uma tragédia de proporções bíblicas. Até agora. As duas nações possuem, juntas, 4,3 milhões de pessoas infectadas e 193.295 mortas, descontado o exército silencioso de assintomáticos e mortos por doenças respiratórias que não foram testados.

A evolução do quadro epidemiológico no mundo sinaliza que a velocidade de propagação da doença está cada vez mais acelerada, longe de um pico. Segundo dados da OMS, dos 10,3 milhões de casos do coronavírus registrados no mundo até 1º de julho, 60% das infecções surgiram ainda em junho. “Na última semana, o número de novos casos excedeu 160 mil em todos os dias”, resumiu o diretor-geral da agência, Tedros Ghebreyesus.

Cenário de guerra

No caso brasileiro, o gráfico dos números mostra um assustador cenário de guerra. Em 2 de março, o país tinha dois casos registrados. Um mês depois, 7.910 infecções. Em 2 de maio, já havia 96.559 doentes. Após 30 dias, o Brasil ultrapassou meio milhão de contaminados. E, em apenas 4 semanas, praticamente triplicou o número para quase 1,5 milhão de pessoas infectadas por Covid-19.

Diante da escalada descontrolada do coronavírus no Brasil, estados e municípios estão agindo à revelia dos desmandos de Bolsonaro, decidindo por conta própria relaxar ou enrijecer medidas de isolamento e restrição da circulação de pessoas. Estados como São Paulo e Rio de Janeiro estão dando prosseguimento ao processo de reabertura, apesar dos números devastadores produzidos pela pandemia, com 15 mil e 10 mil mortos, respectivamente, nos dois estados, até o momento.

Pressão empresarial

No Distrito Federal, depois de decretar estado de calamidade devido ao surto, o governador decidiu liberar atividades comerciais, industriais e educacionais presenciais. Brasília e cidades-satélites vivem uma nova onda da doença, com mais de 50 mil infecções. A decisão do governador Ibaneis Rocha provocou uma reação imediata de setores da sociedade, como professores, advogados, parlamentares e organizações da sociedade civil.

“O governador, infelizmente, submeteu-se a pressões de empresários insensíveis, políticos irresponsáveis e do presidente da República adepto da necropolítica para acelerar a retomada prematura de atividades econômicas e minimizar a pandemia”, diz trecho do Manifesto em Defesa da Vida  no Distrito Federal e no Brasil. “Quem paga por isso são os brasilienses, a cada dia mais sujeitos à contaminação pelo vírus enquanto a rede pública de saúde está próxima do colapso”.

Recuo na flexibilização

Com a flexibilização, a pressão sobre o sistema público de saúde voltou a crescer. Segundo a ‘Folha de S. Paulo’, as ocupações  dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) voltaram a subir, superando a taxa de 80% em 13 capitais. Reflexo da interiorização da pandemia e de uma retomada prematura das atividades, os números assustaram autoridades. Belo Horizonte, por exemplo, chegou a ter 87% de ocupação de leitos. A prefeitura recuou quanto ao processo de reabertura e a capital mineira voltou ao estágio de restrições. Apenas serviços essenciais continuaram a funcionar.

Os EUA também passam por processo semelhante. Em reação a uma nova onda de contágio, vários estados interromperam a flexibilização das medidas de combate à doença. A Califórnia proibiu a permanência de clientes em ambientes fechados de restaurantes de Los Angeles. O governador também adiou por três semanas a abertura de bares, cinemas e museus – ao contrário de São Paulo, que anunciou a intenção de retomar atividades de cinemas, teatros e salas de espetáculo, além de bares e restaurantes.

Em Michigan, o governo também encerrou atividades de comércio no norte do estado. Já Pensilvânia e Oregon impuseram à população o uso de máscaras em locais públicos, assunto de calorosas discussões políticas no país, de acordo com reportagem da ‘AFP News’. Segundo a agência, Trump até hoje não foi visto usando máscara em público mas afirmou nesta semana que “não teria “nenhum problema” em usar uma, enquanto reiterava sua crença de que o contágio simplesmente “desaparecerá”.

Cuba é exemplo

Em Cuba, país exemplo mundial de sucesso no combate ao coronavírus, as preces de Trump viraram realidade. Depois de mais de 100 dias de adoção de um rígido lockdown, Havana, considerada o último foco do coronavírus em Cuba, anunciou a retomada das atividades nesta sexta-feira (3).  O primeiro-ministro Manuel Marrero disse que o governo autorizou “o início em Havana da primeira etapa, em sua primeira fase, da recuperação”.

O novo procedimento ainda não irá abranger atividades de turismo, mas envolverá uma reativação gradual do transporte público e algumas atividades comerciais e de serviços, além do deslocamento de cidadãos que cumprem medidas de distanciamento social. Mas o turismo local será permitido.

Reabertura

A diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, chamou atenção nesta semana para as medidas que os líderes devem adotar para o caso de uma reabertura. Segundo a diretora, o processo deve obedecer fases, com base nas condições locais. Etienne também disse que é preciso estar vigilante e governos devem aplicar novas restrições em função de uma eventual piora do quadro epidemiológico.

“Como estamos vendo, países, estados e cidades que não adotam medidas preventivas ou relaxam restrições muito cedo podem ser inundados com novos casos”, advertiu. “O momento é crítico. Em nível nacional ou local, devemos abrir gradualmente, adotando uma abordagem em fases que se baseie em uma vigilância robusta, dados e capacidade expandida de testes e rastreamento de contatos”, alertou.

Da Redação, com agências internacionais