Mais de 500 pessoas lotaram a Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, em São Bernardo do Campo (SP), na noite de quinta-feira (9), para a missa de sétimo dia em memória da ex-primeira dama Marisa Letícia Lula da Silva.
Dona Marisa era profundamente católica. A escolha da igreja no centro da cidade não foi à toa. O espaço religioso abriu as portas para acolher e proteger os sindicalistas perseguidos durante as greves dos metalúrgicos entre o fim dos anos 1970 e o começo dos 1980.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, muito emocionado, relembrou o simbolismo da igreja e agradeceu pela onda de solidariedade recebida no velório de dona Marisa, no último sábado (4), e durante a missa de sétimo dia.
Em poucas palavras, Lula definiu a sua companheira dos últimos 44 anos.
“Marisa nada mais foi que uma árvore frondosa que produziu frutos. E esses frutos produziram novos frutos. E assim que a gente vai construir uma floresta de gente disposta a ser solidária, de gente disposta a brigar pelas coisas que interessam ao povo trabalhador e ao povo mais pobre deste País.”
Depois, não conseguiu prosseguir com as palavras e começou a chorar. Os presentes aplaudiram o ex-presidente por longos minutos.
Em um pequeno folheto entregue à frente da paróquia, havia uma imagem de dona Marisa, as orações do Pai Nosso e da Ave Maria e um trecho de um texto da escritora Cora Coralina:
“Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida e não desistir da luta, recomeçar na derrota, renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos e ser otimista”.
Solidariedade
Personalidades do mundo político e cultural estiveram presentes na cerimônia, além de centenas de admiradores de Lula e da história de luta e companheirismo de dona Marisa.
Um dos juristas mais respeitados do País, Celso Antonio Bandeira de Mello falou, de forma emocionada, sobre o legado deixado pela companheira de Lula.
“Dona Marisa foi uma mulher extraordinária, todo mundo sabe disso. Uma mulher firme, uma mulher companheira. Ela foi importantíssima na vida do Lula, obviamente, mas também no PT. Nos momentos terríveis, quando o PT começava, ela estava firme. Liderou passeatas quando prenderam os sindicalistas. Era uma mulher notável.”
Bandeira de Mello também criticou a perseguição midiática e judicial contra a família do ex-presidente. “Eu considero que essa mulher não morreu, mas foi assassinada. A campanha que foi feita pela grande imprensa e mais aquele juiz [Sérgio] Moro. Esse juiz Moro parece um homem completamente insensível e desequilibrado ao mesmo tempo. Foi isso que causou o agravamento da saúde dessa heroína, dessa companheira notável do Lula”, afirmou.
“Ela foi um exemplo para todas as mulheres pela dignidade, equilíbrio e sobriedade. Ela nunca usou do papel de mulher do presidente para se exibir ou se promover. Pelo contrário”
Juca Kfouri, jornalista
O jornalista Juca Kfouri também considerou que dona Marisa foi perseguida de forma injusta em seus últimos meses de vida. “Ela foi uma baita companheira do presidente Lula, uma trabalhadora, uma brasileira direita, que morreu atazanada por absurdos que a justiça, com ‘jota’ minúsculo do País, tem cometido ultimamente”.
Depois, prestou apoio a Lula. “Presto solidariedade a quem acaba de perder a companheira de tantos anos e a quem tem sido vítima de uma seletividade que revolta quem esteja realmente interessado com a Justiça do País”.
O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad lembrou que dona Marisa “nunca se inebriou pelo poder”.
“A lembrança que tenho da dona Marisa é, em primeiro lugar, de uma mulher que nunca esqueceu de onde veio. Apesar de ter sido a primeira-dama do Brasil durante oito anos, nunca perdeu os vínculos com a classe trabalhadora. Ela não foi apenas uma companheira do presidente Lula: foi uma militante que ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores e a construir esse projeto mais generoso de Brasil.”
Para o técnico de futebol Vanderlei Luxemburgo, uma das virtudes de dona Marisa era o companheiro que sempre dedicou a Lula. “Eu a conheci de forma bem próxima. Ela estava sempre ao lado do presidente e, além disso, contribuía em muitos projetos. Ela deixou um legado a ser seguido”.
Já o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) destacou a importância da ex-primeira-dama no surgimento do partido.
“Ela teve um papel decisivo para a construção do PT. A Marisa significa muito para o Lula. Ela trazia segurança, organizava a vida dele, o proibia de viajar sábado e domingo. O massacre da mídia a atingiu muito e Lula está muito comovido. A fala do Lula foi forte: a Marisa morreu triste.”
De acordo com Bebel Noronha, presidenta do Sindicato dos Professores Oficiais do Estado de São Paulo (Apeoesp), dona Marisa foi fundamental para a luta de todas as mulheres.
“Nós, mulheres, a temos como inspiração. Ela é o símbolo de todo fortalecimento do Partido dos Trabalhadores, ao lado de Lula. A sua ida deixa um vazio, e esse vazio nós mulheres vamos ter que preencher na luta pelo fortalecimento do Partido dos Trabalhadores e pela eleição de Lula em 2018.”
O vereador paulistano Eduardo Suplicy destacou a força e o equilíbrio da ex-primeira-dama.
“Eu testemunhei como nas horas de alegrias, de tristezas, de vitórias e de derrotas a Marisa representava como uma extraordinária força para a criação do Partido dos Trabalhadores e para o presidente Lula. Ela sempre teve ponderações de muito bom senso para nós e para o presidente.”
Escrevendo uma biografia sobre o ex-presidente, o escritor Fernando Morais recordou das entrevistas que fez com dona Marisa.
“O depoimento dela foi muito bonito, muito bonito… Ela era uma pessoa singular. Ao mesmo tempo que era mulher dura, brigona, era também uma pessoa doce.”
Para ilustrar, o escritor lembrou de uma passagem curiosa de Dona Marisa com Ricardo Stuckert, o fotógrafo oficial de Lula.
“A preocupação dela com o Stuckinha era maternal. ‘Stucka, você já almoçou?’ ‘Já, dona Marisa.’ ‘Você está mentindo, está muito magro. Larga essa câmera no automático que vou fritar um bife para você.’ Ao mesmo tempo que era uma mulher de posições muito firmes, era uma pessoa carinhosa”.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, também levou apoio ao ex-presidente.
“É um momento de muita tristeza. Venho aqui ainda no luto, nessa missa de sétimo dia, trazer meu abraço ao presidente lula e a seus familiares. Lamentável que isso tenha acontecido. Só resta dizer força, Lula e transmitir toda essa solidariedade. Solidariedade que não é só do PT, mas de todo povo brasileiro.”
Por Bruno Hoffmann, para a Agência PT de Notícias