No que depender de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes, a cada Primeiro de Maio a classe trabalhadora terá menos o que comemorar. Até um dado supostamente positivo, como a criação de 136,1 mil empregos formais em março, camufla uma perversa realidade: o saldo positivo ocorre às custas do sacrifício da renda média de admissão, que despencou de R$ 2.018,60 para R$ 1.872,07 em um ano.
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o “novo Caged”, anunciado nesta quinta-feira (28) pelo recriado Ministério do Trabalho, também mostra queda real (valores corrigidos pelo INPC) de R$ 38,72 em relação à renda média de admissão em fevereiro (R$ 1.910,79).
Como a metodologia de cálculo foi modificada em janeiro de 2020, quando a pesquisa ainda estava sob o Ministério da Economia, não há como comparar os números atuais com a série histórica anterior. Mas é possível observar que o saldo de criação de vagas com carteira assinada, resultado de 1,953 milhão de contratações e 1,817 milhão de desligamentos, é também o mais baixo do ano.
Ficou abaixo inclusive do saldo de março de 2021. No pior mês da pandemia no país, em meio à crise das vacinas criada pelo bolsonarismo, foram criados 153,4 mil empregos formais. O resultado também ficou abaixo da projeção de criação líquida de 150,9 mil postos feita por analistas do mercado financeiro em pesquisa da Reuters.
No acumulado do primeiro trimestre, foram criadas 615,2 mil vagas de emprego formal. O número também é menor que o registrado entre janeiro e março de 2021, quando o saldo anunciado foi de 805,1 mil empregos. Novamente, por essa métrica, o ritmo atual de geração de vagas é pior que o dos piores meses da pandemia de Covid no país.
No recorte regional, o Sudeste criou 75,8 mil vagas no mês e o Sul abriu 33,6 mil postos. O saldo ficou em 20,2 mil no Centro-Oeste e 9,3 mil no Norte. Por outro lado, foram fechados 4,9 mil postos no Nordeste. Na agropecuária foram fechadas 15,9 mil vagas.
O governo também vem registando aumento nos pedidos de seguro desemprego. Em março, foram homologados 674.603 pedidos, contra 550.265 em fevereiro e 586.227 em março de 2021.
Para o secretário de Trabalho, Luis Felipe Oliveira, a desaceleração está relacionada com o fim do Programa de Manutenção do Emprego, em agosto do ano passado. Aprovado pelo Congresso Nacional após resistência do desgoverno Bolsonaro, o programa garantiu contrapartida financeira em troca de suspensão do contrato ou redução da jornada dos trabalhadores.
Lula defende meta de emprego para o BC e “nova reindustrialização”
Em entrevista a youtubers e jornalistas da mídia independente nesta terça-feira (26), Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a ampliação das competências do Banco Central (BC) para incluir, além da meta de inflação, metas de crescimento econômico e de emprego.
“Eu acho importante a gente fazer um debate na sociedade e no Congresso: o mesmo BC que pode estabelecer a meta de inflação, por que a gente não pode colocar também para discutir as metas de crescimento, as metas de geração de emprego? Porque dá a impressão de que só uma coisa tem importância”, declarou.
“Temos que fazer mais. Eu quero gerar mais emprego. Nós não vamos mais gerar emprego com a gente gerava nos anos 80, porque a indústria brasileira, que tinha 30% do PIB nacional, só tem 11% hoje”, prosseguiu o ex-presidente.
“Qual é o novo mercado de trabalho? Qual é o emprego que nós vamos oferecer para a juventude?”, ponderou Lula. “Nós precisamos definir concretamente que nós precisamos ter uma forte política em defesa do empreendedorismo nesse país.”
O ex-ministro Aloizio Mercadante, atual presidente da Fundação Perseu Abramo, afirma que a política industrial também terá lugar central no projeto de desenvolvimento a ser adotado em um eventual novo governo. “A indústria é que gera valor adicionado e inovação tecnológica. Agora, é uma indústria que vai ter que dialogar com a transição digital e com a transição ecológica. É um novo desafio histórico”, disse o petista. “A nova reindustrialização do Brasil é um capítulo decisivo para a gente reconstruir o país.”
Alguns dias depois, durante a cerimônia de entrega da Pauta da Classe Trabalhadora em São Paulo, Lula disse que espera parceria das lideranças sindicais na reconstrução do país. “Nós vamos instituir uma mesa de negociação permanente e vamos chamar os trabalhadores e os outros setores da sociedade como as universidades. Vamos chamar as empresas para negociar e colocar a pauta a eles”, anunciou.
“Vamos tentar reconstruir em quatro anos o que eles destruíram em pouco tempo. O emprego é coisa sagrada e deverá ser nossa obsessão”, finalizou o presidente mais popular da história.
Da Redação