“Temos que conhecer a nossa história para não repeti-la”. A declaração da presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, resume a proposta por trás do livro “Enciclopédia do Golpe – O Papel da Mídia”, lançado na tarde desta quarta-feira (14) na Tenda da CUT do Fórum Social Mundial, em Salvador.
O livro, que já havia sido apresentado ao público no dia 7 de março em São Paulo, reúne 28 textos de jornalistas, juristas e intelectuais de vários seguimentos e discorre sobre o protagonismo da imprensa no injusto processo de impeachment sofrido por Dilma Rousseff, reeleita em 2016 com mais de 54 milhões de votos.
“O impeachment não pode ser esquecido porque está trazendo consequências até agora, com a retirada de direitos e a constante desconstrução da democracia que atinge seu ponto máximo no julgamento injusto do presidente Lula”, completou Gleisi Hoffmann.
Conhecer a história, no entanto, tem se tornado árdua tarefa diante da fabricação em série das chamadas fake news. Para o jornalista Camilo Vanucchi, que assina texto sobre o tema no livro, a grande tarefa da Enciclopédia do Golpe é desmascarar as notícias “deliberadamente mentirosas” produzidas por parte da imprensa brasileira desde 2016.
“A grande imprensa, que de grande não tem nada, construiu uma narrativa própria para legitimar o golpe. Mas o jornalismo não é só construção de narrativa. É a busca pela verdade e isso é o que fazemos no livro”.
O jornalista e diretor de redação de CartaCapital, Mino Carta, complementa ao fazer duras críticas à cobertura da imprensa durante o impeachment. “O jornalismo brasileiro tem se mostrado de péssima qualidade e tem produzido mentiras deslavadas que não encontram similaridade em nenhum lugar do mundo. Nem mesmo a verdade factual é levada em conta”, opina.
Golpe misógino
Para a socióloga e ex-ministra do governo Dilma, Eleonora Menicucci, a grande proposta do livro é servir como material de memória e verdade, sobretudo no que diz respeito à maneira como a imprensa e os adversários políticos atacaram a imagem da ex-presidenta.
“O golpe possui três facetas evidentes: ele é sexista, misógino e patriarcal. A Dilma é uma das mulheres mais decentes e éticas que conheço e foi sistematicamente atacada, muitas vezes só pelo fato de ser mulher. A elite branca da Casa Grande nunca admitiu uma mulher eleita pelo povo e que no dia em que assumiria o governo sobe a rampa com a filha e não à sombra de um homem”.
A ex-ministra também acredita que, além de seu caráter misógino, o golpe também foi uma tentativa de estancar um governo de desenvolvimento e inclusão.
“O impacto do golpe atinge em especial as mulheres, mas vai além. Pois durante os governos do PT não só as mulheres passaram a ter maior destaque, mas também os negros, os indígenas, a militância LGBT e as pessoas com necessidades especiais. Eles nunca suportaram isso”, conclui.
Por Henrique Nunes, da Redação da Agência PT de Notícias, enviado especial à Bahia