Ana Clara, Agência Todas
Nos últimos anos, temos ouvido falar do fenômeno da expansão do sistema financeiro que ultrapassa as camadas da produção de mercadorias e avança pelo cotidiano das pessoas. Esse processo vem sendo chamado de ‘financeirização da vida’.
Na aparência, esse fenômeno surge como uma medida ‘inocente’, nada mais que um jeito mais fácil de conseguir crédito — ou uma ‘mágica’ que transforma ‘trabalho precarizado e sem direitos’ em empreendedorismo.
No entanto, na verdade, esse ‘extrativismo financeiro’ que marca a última década vem acirrando ainda mais a desigualdade social no mundo, ou seja, jogando mais pessoas na miséria e na pobreza para que alguns poucos milionários e bilionários sobrevivam. Prova disso é a experiência da crise de 2008, que provocou uma onda de crises profundas nas economias do mundo inteiro, mas os Estados só jogaram a boia ao mar dos auxílios milionários aos bancos enquanto trabalhadores e trabalhadoras se afundaram em créditos e endividamentos para conseguir ter onde morar e o que comer. Enquanto isso, a concentração de renda no mundo continuou em marcha acelerada, segundo o relatório da Oxfam.
Esse processo de ‘financeirização da vida’ é resultado da intensa expansão da fronteira de lucro hiperneoliberal que avança sobre o crescimento da informalidade nos territórios. E sabe quem ocupa a maior parte desse espaço precarizado e de baixos salários? As mulheres trabalhadoras. No Brasil, em 2019, segundo o IBGE, as mulheres não só estão desocupadas em maior proporção, como têm menores rendimentos e estão mais sujeitas à informalidade que os homens.
É sobre esse recorte que o livro “O sistema financeiro e o endividamento das mulheres” trata nos sete artigos organizados por Graciela Rodriguez. A publicação recente foi realizada pelo Instituto EQUIT – Gênero, Economia e Cidadania Global, que pertence ao projeto da Rede de Gênero e Comercio, –Equidade de Gênero com Justiça Econômica –, e do Programa de “Liderando desde el Sur”, financiado pelo Fundo de Mulheres do Sul.
“E é esse o caminho que percorrem as mulheres que queremos conhecer melhor. Destrinchar a forma de atuação do sistema financeiro é, assim, importante para enfrentar esta nova cara do capitalismo, a nova face do “monstro” que imprime sua lógica de lucro sobre as necessidades básicas de uma população que sofre todos os dias a falta de políticas públicas de saúde, educação, acesso à água, saneamento e outros elementos básicos da vida”, Graciela Rodriguez.
Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT, reforça a necessidade de compreender por que as mulheres são um forte alvo do endividamento nas populações.
“Parte da nossa formação enquanto militante é entender os fenômenos que afetam a vida das mulheres na suas lutas, ações e táticas de vida para resistir diante de tantas adversidades”, ressalta a secretária.