O tradicional jornal americano ‘Washington Post’ abordou, em reportagem publicada na quarta-feira (13), a crise pela qual atravessa o governo do presidente Jair Bolsonaro. Segundo o texto da matéria, que ocupa meia página na seção “O Mundo”, enquanto o maior país da América Latina debate-se sob a pressão exercida por uma crise sanitária e econômica sem precedentes, Jair Bolsonaro vê sua popularidade cair e aumentar a dependência das Forças Armadas para continuar no poder. De acordo com o ‘Post’, o espectro militar nunca esteve tão presente na vida pública do país desde a redemocratização, em 1985.
“Enquanto escândalos tomavam conta de sua presidência, o ex-capitão do Exército de direita ampliou os poderes dos generais e ex-generais em seu governo, permitindo a introdução de um grande pacote de ajuda econômica que prejudicou o próprio ministro da Economia”, relata a reportagem. Ao mesmo tempo, a economia está entrando em colapso, hospitais atingiram a capacidade máxima de ocupação de leitos, e pobres desempregados estão preocupados em não passar fome. E mais de 11 mil (12 mil, em números atualizados) pessoas morreram pela “gripezinha”de Bolsonaro.
O ‘Post’ informa também que bolsonaristas mais radicais estão pedindo uma intervenção militar no país, com o próprio Bolsonaro participando das manifestações e ampliando os apelos. O diário noticia que os apoiadores do presidente ignoram as recomendações de isolamento social e saem às ruas para protestar. “A pandemia é apenas uma cortina de fumaça”, confidenciou Belucio, 43 à reportagem. “Com um regime militar, tudo seria melhor, disse o morador de Belém (PA).
Mesmo considerada uma possibilidade remota pela maioria da população, observa o jornal, a ideia de uma intervenção perturbou ainda mais a já imprevisível situação política do país. Bolsonaro é considerado por analistas críticos como uma ameaça à democracia. Sua manobra de sobrevivência política é também vista como arriscada e imprudente, apurou o ‘Post’. A crise foi aprofundada com as saídas de Henrique Mandetta da pasta Saúde e de Sérgio Moro da Justiça, destaca o jornal, ao mesmo tempo em que a popularidade de Bolsonaro declina.
A reportagem ressalta que Bolsonaro precisa das Forças Armadas “por sua popularidade resiliente” e também para afastar a ameaça do Impeachment. Para o ‘Post’, o fato de a discussão sobre uma intervenção ter entrado no debate público indica um apelo “duradouro” da ala militar em um país que nunca reconheceu completamente os crimes ocorridos durante os 21 anos do período.
De 1964 a 1985, o governo apoiado pelos EUA reduziu drasticamente as liberdades políticas e de imprensa, institucionalizando a censura e a tortura, lembra o jornal. O ‘Post’ menciona ainda as atividades da Comissão da Verdade, que em 2014 trouxe à tona as sessões de tortura às quais foram submetidos os opositores do Golpe de 64: choques elétricos, a introdução de insetos em seus corpos e violências cometidas em cima do chamado pau-de-arara. Mais de 430 pessoas foram mortas ou desapareceram.
“Ao contrário dos países latino-americanos que perseguiram, processaram e prenderam agressivamente ex-líderes militares por seus papéis em crimes de ditadura, o Brasil ainda não se responsabilizou totalmente pelos autores de violência política”, comentou o ‘Washington Post’.
A reportagem destaca ainda que Bolsonaro foi um dos defensores mais vociferantes da ditadura, tendo servido 15 anos no Exército e que sempre disse que as ações dos militares não foram extremas o suficiente. “Ele sempre diz ‘nós, militares’, mas por muito tempo não foi assim”, contou ao jornal, João Roberto Martins Filho, um dos analistas militares mais respeitados do Brasil, segundo o ‘Post’.
“Ele demonstra reverência pelos militares, mas a realidade é que ele usa as Forças Armadas”, afirmou Filho.
Da Redação, com informações do ‘Washington Post’