Em artigo publicado no dia 20 de agosto, na Revista Época, o jornalista João Luiz Viera discorre acerca da vida sexual da Presidenta Dilma. Esse tipo de “divagação”, não se trata apenas de uma ofensa a principal líder de nosso país, mas a todas as mulheres.
Termos uma mulher na Presidência da República é fruto de nossa luta ao longo da história do Brasil. Lutamos para que fôssemos respeitadas como sujeito de direitos, com direito a emprego formal, de votar e ser votada, direito de ter ou não filhos, direito a estudar, direito de sair na rua sozinha, de casar, descasar; enfim direito de sermos livres.
Nós, mulheres que lutamos por democracia, por um mundo mais justo e solidário repudiamos o machismo presente no artigo, que só serve para reforçar a violência que as mulheres sofrem cotidianamente na política, no local de trabalho, em suas casas. Não podemos permitir que em pleno século XXI as mulheres tenham sua sexualidade questionada quando assumem cargos de poder. A alusão à “falta de erotismo” da presidenta ocorre exclusivamente pelo fato de ela ser uma mulher, e é uma expressão inadmissível atentando contra a dignidade sexual pela qual almejamos. O artigo não em questão, não contribui para a democracia ou para o protesto, é um deboche discriminatório.
Dilma Rousseff contraria o patriarcado assumindo o mais alto cargo de poder da nação. O patriarcado, sistema de opressão ao qual o artigo do jornalista vem a servir, trata-se de um conjunto de relações sociais nas quais as mulheres devem estar à disposição para a satisfação do desejo sexual dos homens, reproduzindo um conjunto de valores, relações de trabalho e de poder que possibilitem o controle das mulheres, de suas vidas e de seus corpos. Sendo assim, é objetivo do patriarcado impor um lugar “natural” às mulheres – o espaço, privado, o lar, da reprodução – assim como um padrão de comportamento – dóceis, amáveis e de beleza.
Felizmente, nós mulheres, aprendemos a não apenas questionar artigos desrespeitosos como o publicado pela Revista Época, mas a enfrentar o machismo, elegendo mulheres para ocupar cargos de poder, reivindicando uma legislação que protege as mulheres da violência doméstica e, principalmente, porque queremos ser livres dos padrões de beleza impostos e de um determinado tipo de sexualidade.
Queremos ser livres para decidir sobre os rumos de nossas vidas, em condições de igualdade com os homens e lutando pelo fim do machismo e todo tipo de violência contra às mulheres.
A mídia que deveria contribuir para que as pessoas tenham mais informação sobre cidadania, direitos humanos e liberdade de expressão, tem cumprido um papel em reforçar estereótipos e preconceitos estimulando o machismo e a violência contra as mulheres na sociedade, nas ruas, no transporte público, nos lares.
Queremos ainda, por parte dos meios de comunicação, mais atenção a violência que as mulheres sofrem. Na manhã de hoje, 21 de agosto, recebemos a notícia de mais uma tentativa de estupro de uma menina de 17 anos no metrô de São Paulo, em pleno dia, num vagão lotado de pessoas. Esperamos que a revista se atente ao caso com a indignação necessária, não apenas a fim de reparar o desrespeito com que tratou as mulheres por meio da presidenta Dilma, mas, para cumprir com o papel de meio de comunicação comprometido com o fim de todo tipo de violência contra as mulheres.
Rosane Silva é Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT