O desastre do governo do presidente Jair Bolsonaro, que transformou o Brasil em pária internacional, continua a ganhar grande repercussão no exterior. Desta vez, o foco saiu da crise sanitária para os escândalos de corrupção envolvendo a família do presidente. Neste final de semana, o prestigiado diário americano ‘The New York Times’ estampou na capa da editoria internacional uma extensa reportagem que ocupou toda a página sobre as investigações que pesam contra a família do ocupante do Palácio do Planalto.
A reportagem tem como foco os depósitos que o ex-assessor e amigo da família, Fabrício Queiroz, fez nas contas bancárias da primeira-dama, Michelle, e do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro. O ‘New York Times’ detalha o chamado caso das “rachadinhas”, um esquema de lavagem de dinheiro que permite o roubo de salários do setor público, por meio da contratação de funcionários fantasmas ou empregados dispostos a devolver parte do salário para vereadores e deputados.
A reportagem dá destaque para a ameaça de Bolsonaro de agredir fisicamente um repórter que perguntou ao presidente, na semana passada, o motivo pelo qual Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da primeira-dama. “A resposta foi agressiva, mesmo para um presidente conhecido por expressar sua raiva a jornalistas e críticos: “O que eu gostaria de fazer”, disse Bolsonaro ao repórter, “é encher tua boca na porrada”, replicou o ‘Times’.
O jornal noticia que os brasileiros estão fazendo uma pergunta que pode ameaçar o futuro político do presidente Jair Bolsonaro: por que sua esposa e filho receberam pagamentos de um homem sob investigação por corrupção?
De acordo com o diário americano, o escândalo ganhou força a partir de junho, com a prisão de Queiroz e os posteriores vazamentos para a imprensa de que o ex-assessor havia enviado a Michelle Bolsonaro muito mais dinheiro do que os investigadores haviam divulgado. “Isso colocou em dúvida a explicação do presidente de que um único pagamento revelado em 2018 foi feito para pagar uma dívida”, descreve o New York Times.
Roubo de dinheiro público
“Em ações judiciais e vazamentos para a imprensa, as autoridades levantaram a suspeita de que, a partir de 2007, Queiroz ajudou o filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro, a roubar dinheiro público embolsando parte dos salários de pessoas de sua folha de pagamento”, aponta o diário.
A reportagem esmiuça o caso, relatando que, entre 2011 e 2016, Queiroz canalizou o equivalente a milhares de dólares para Michelle Bolsonaro, em transações que nenhum deles consegue explicar. “Os promotores do caso também acreditam que os depósitos feitos ao filho do presidente podem estar ligados ao esquema”, informa o jornal.
Silêncio
O ‘Times’ também chama a atenção para o silêncio do gabinete do presidente Bolsonaro, que simplesmente se recusou a comentar ou explicar o caso em nome de Bolsonaro e sua esposa. “Michelle Bolsonaro conheceu o marido em 2006, enquanto trabalhava como secretária no Congresso. Depois que os dois começaram a namorar, ela se juntou à equipe legislativa dele, uma mudança que triplicou seu salário”, afirma o ‘Times’. O jornal informa ainda que o advogado de Flávio Bolsonaro não respondeu ao pedido de entrevista feito pelo jornal.
O ‘Times’ relembra que o escândalo começou a tomar forma logo após a eleição presidencial de 2018, quando o Ministério Público identificou movimentações atípicas na conta de Fabrício Queiroz entre 2016 e 2017. À época, ele constava da folha de pagamento de Flávio Bolsonaro. O investigadores constataram que os valores movimentados eram incompatíveis com os ganhos declarados por Queiroz.
Família na defensiva
”Desde então, outras investigações legislativas e criminais colocaram a família Bolsonaro na defensiva”, sustenta a reportagem, citando investigações que miram Carlos Bolsonaro por desvios de recursos semelhantes quando ele era vereador e por seu envolvimento com a indústria das fake news. O terceiro filho do presidente, Eduardo, também está envolvido no caso das fake news.
Da Redação, com informações de ‘The New York Times’