A partir de agora, escolas de todo o Brasil passarão a exibir filmes nacionais durantes das aulas. A medida, sancionada no final de junho, inclui na Lei das Diretrizes Básicas da Educação, a exibição de pelo menos duas horas mensais de obras que contemplem o conteúdo aplicado em sala. A expectativa é que as sessões auxiliem os educadores e formem um novo público, crítico e interessado pela sétima arte.
A educadora Leila Martinez dos Santos acredita que os recursos audiovisuais desempenham um importante papel na dinâmica das aulas, além de serem bem recebidos pelos alunos. Professora de Língua Portuguesa por 25 anos na rede pública do Distrito Federal, ela conta que os filmes aproximam os alunos da obra estudada. “Às vezes a história é boa, mas a linguagem desanima”, pontua.
O cinema nacional possui um vasto acervo, há muito usado pelos professores. Nas aulas sobre o período conhecido como Quinhentismo, Leila exibe o filme “Desmundo”, de Alain Fresnot. “É ótimo, porque eles conseguiam ver o que foi o começo da colonização brasileira”, explica. Nas aulas sobre o Realismo, a turma mergulha em “Dom Casmurro”, com o filme “Dom”, dirigido por Moacyr Góes e baseado na obra de Machado de Assis.
As aulas de redação, sobre o recurso da argumentação, a professora exibe um episódio do seriado “Cidade dos Homens”, marcado pelos icônicos personagens Laranjinha e Acerola. A trama é discutida em sala e depois se transforma em exercícios. “As redações ficam ótimas”, comemora a professora.
A Lei 13.006, de 2014, determina a exibição produções nacionais como componente curricular complementar, integrado à proposta pedagógica de cada escola. O texto original já inclui o ensino de música e da arte como conteúdo obrigatório na grade curricular, com destaque para a cultura regional. Está previsto ainda aulas sobre a história e a cultura afro-brasileira e indígena.
A iniciativa também foi recebida com entusiasmo pela cineasta Bruna Carolli. Para ela, a lei ajudará a construir desde cedo laços entre o cinema brasileiro e o novo público. “Esse contato diminui o olhar de preconceito em relação aos filmes feitos aqui por parte do grande público e aproxima as crianças de uma cultura cinematográfica que pode ser muito benéfica”, afirma.
Os filmes da jovem diretora brasiliense já percorreram inúmeros festivais e mostras pelo Brasil e fora dele, mas é em sala de aula que encontra o público mais cativo. Carolli acredita que levar o cinema dentro da escola estimula a identificação com a cultura e a história brasileira. “É como se você desse a chance de elas irem a museus e conhecerem obras de artes de brasileiros. Ou ainda os levassem a espetáculos de dança e de teatro”, completa.
Satisfeita com a experiência de exibir sua obra em escolas, Bruna observa nuances entre a capacidade de compreensão e de interpretação das crianças. Enquanto o grande público que vai ao cinema costuma dar mais atenção ao lado estético, as sessões promovidas nas escolas oferecem ao público debates e atividades reflexivas. “É como se a exibição nas escolas fizesse um papel de aprofundamento. Um exercício de análise social e ético a partir da vivência e do perfil de cada sociedade”, observa.
Com a nova lei, os filmes nacionais deve chegar a mais de 190 mil escolas em todo o Brasil, segundo o Censo Escolar de 2013. Esse novo público se soma aos expectadores tem enchido as 2,7 mil salas de cinema pelo Brasil. O cinema nacional foi responsável, somente nos três primeiros meses deste ano, pela venda de 35,8 milhões de ingressos, segundo a Agência Nacional do Cinema (Ancine).
Por Flávia Umpierre, da Agência PT de Notícias