Em respostas às críticas sobre a alteração da “metodologia” de acompanhamento do número de mortos por Covid-19 no país, o general Eduardo Pazuello tentou escapar pela tangente. “Vamos agora ter metade do mundo dizendo que queremos esconder o óbito, ele é ‘inescondível’, são registros”, argumentou o general escalado para cumprir a sua indefensável “missão”.
O que o general Pazuello classificou como “inescondível” é a “nova metodologia” para desaparecer com os números de mortos que não tenham ocorrido no dia da divulgação e, com isso, reduzir o impacto junto à opinião pública. O país já contabiliza mais de 38 mil mortos e, de acordo com institutos e especialistas, esse número tende a crescer, com recordes diários de óbitos. Por conta da ausência de testes e dificuldades operacionais, os dados são informados com atraso pelas secretarias estaduais de Saúde.
Junta Militar na Saúde
O deputado federal e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha reagiu duramente à manobra obscurantista do ministro-interino da Saúde. “Como um bom cadete cumpriu ordem do ‘capitão’: escondeu os dados, omitiu as informações e mentiu para a população”, disse. “Substituíram o Ministério da Saúde por uma junta militar”, denunciou Padilha.
Para o também ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, demitido por Bolsonaro, os atuais gestores do Ministério da Saúde assumiram uma missão genocida de “sonegar informações e torturar os números”.
A mídia nacional e internacional e especialistas da área médica e da ciência também denunciaram a manobra que busca afastar o governo federal da responsabilidade pela morte de mais de 37 mil mortos.
“Repudiamos qualquer omissão ou deturpação de dados relativos à Covid-19. A subtração e a manipulação de dados não mudam a realidade”, advertiram um conjunto de entidades. Assinaram a nota conjunta a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Academia Brasileira de Ciências (ABC) e Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
A Sociedade Brasileira de Infectologia também se manifestou criticando a iniciativa do governo. “É fundamental que em uma pandemia de tamanha magnitude tenhamos os números reais”, alertou a a entidade. E advertiu que “somente com informações epidemiológicas confiáveis será possível a avaliação das medidas atuais e o planejamento de ações para combater a propagação do novo coronavírus, que vem causando danos avassaladores no mundo e especialmente no Brasil”.
Crime inominável
“O executor desta operação criminosa é um general do Exército”, destacou Manuel Domingos, professor aposentado da Universidade Federal Fluminense e ex presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED).
“Trata-se de crime inominável: impede o planejamento eficaz da defesa da sociedade e afeta diretamente a saúde planetária. Conturba a programação de retorno das atividades econômicas. Resulta em mais sofrimentos para o povo e amplia a desmoralização mundial do governo brasileiro”, afirmou o professor Domingos em seu perfil de Facebook.
Para o professor, a medida que o general Pazuello tenta implementar aprofunda a desconfiança sobre a possibilidade de ruptura institucional no país, ameaça constante do presidente Bolsonaro. “A postura do general Pazuello, ainda no serviço ativo do Exército, alimenta os argumentos dos que acham que já estamos sob um regime ditatorial”, diz.
Domingos lembra que “a ditadura estabelecia descaradamente a censura sobre as condições sanitárias e alimentava potente rede de mentiras através de propagandas fantasiosas”, do foi exemplo a situação ocorrida durante a epidemia de meningite, nos anos setenta.
“Sai daqui”, diz Bolsonaro
Na manhã desta quarta-feira, os temores do governo sobre a repercussão da informação correta sobre o número de mortes se tornaram realidade no “cercadinho” do Palácio do Planalto. Portando um cartaz com os números de mortos até terça-feira, uma ex-apoiadora acusou Bolsonaro de trair a população pelo descaso no combate à pandemia.
“Eu sinto que o senhor traiu nossa população”, disse Sara Bernadt, de São Paulo, que publica um blog com críticas à esquerda e ao PT em especial. “Sai daqui”, foi a resposta de Bolsonaro, dizendo que a “mulher estava falando abobrinhas”.
Com informações de El País e Metropóles.