Partido dos Trabalhadores

Escritora brasileira lança livro baseado em estudos sobre o racismo na pandemia da Covid-19

A obra revela os impactos da Covid-19 para população negra, observando o comportamento da doença e o quadro de morbimortalidade no Brasil, nos Estados Unidos e na França.

A pandemia da COVID-19 que se alastrou no início de 2020 afetou, de forma geral, a vida da população brasileira. Entretanto, os efeitos sobre a população negra e periférica foram ainda mais profundos. Uma das discrepâncias fica evidente nos casos de mortes por covid-19 entre pessoas em situação de vulnerabilidade. 

Esse foi um dos motivos  que levou a pesquisadora em estudos de gênero, raça e inclusão social, Maria Palmira da Silva, a estudar os impactos da Covid-19 na população negra. Comparando os índices de óbito entre negros e brancos, antes da chegada da vacina. 

A pesquisa, que foi escrita durante os sete primeiros meses da pandemia, deu origem ao livro “Racismo na Pandemia da Covid-19- No Brasil, nos EUA e na França”. A obra traz na capa a imagem de uma mulher negra envolta nas bandeiras desses três países. Justamente porque para Maria Palmira, as mulheres negras, em particular, foram o principal alvo da perda dos direitos sociais, nesse período.

 

O trabalho é resultado de um levantamento  colaborativo entre pesquisadoras dos países estudados que criaram um grupo  durante a pandemia “Aquilombadas em casa”, para analisar o impacto da Covid-19 sobre camadas da população negra. Durante os estudos, elas observaram o comportamento da doença e o quadro de morbimortalidade. A partir das análises, as estudiosas interagiram por meio de reuniões on-line, nas quais as informações a respeito das referidas localidades eram intercambiadas.

Segundo Palmira da Silva, que também é doutora em Psicologia,  a pesquisa surgiu da ideia de fazer um levantamento preliminar sobre as políticas públicas de enfrentamento da covid-19 e analisar o quadro de morbimortalidade entre a população negra e branca nos países em destaque.  

“Internacionalizar o debate do racismo no contexto da pandemia da covid-19 e trazer à tona os paradoxos dos elevados índices de óbitos por covid-19 nos Distritos Administrativos (DA) de baixo padrão socioeconômico”, conta a estudiosa

Ela aponta que na pandemia as mulheres de uma maneira geral, e, as mulheres negras em particular, foram as mais afetadas pela perda de direitos sociais. E se tratando de representatividade política em prol dos direitos políticos, mulheres pretas e pardas sempre estiveram sub representadas. 

“A narrativa do resfriadinho provocou mais de 670 mil óbitos (até a finalização da pesquisa) entre eles, a população negra. E diante disso, trazendo num âmbito das eleições 2022, as nossas reflexões, dados e levantamentos trazem às candidaturas negras e de esquerda um panorama para se pensar num projeto nas próximas legislaturas”. 

Ela ainda ressalta que o livro busca confrontar a  política emergencial adotada pelos governos dos países analisados. Aborda as estratégias de tratamento das autoridades sanitárias de cada país. Além de chamar a atenção da sociedade e dos governantes para o racismo estrutural. Para Maria Palmira, pesquisas com recortes de raça e etnia mostram o quanto o sistema é capaz de configurar o nascer, o crescer e o morrer da população negra.

 

Mais sobre as pesquisadoras:

Maria Palmira da Silva

Doutora e mestre em Psicologia Social, graduada em Serviço Social e docente do curso de graduação em Serviço Social da Universidade Nove de Julho (Uninove). Foi diretora de Políticas para comunidades tradicionais do governo federal (2006-2009). É assistente social aposentada da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo. Pesquisadora de gênero, raça e classe, desde 1995, quando defendeu mestrado sobre o bloco afro Ilê Aiyê. Publicou vários trabalhos científicos e foi coautora em Racismo no Brasil: percepções da discriminação e do preconceito racial no século XXI, publicado pela Fundação Perseu Abramo em coedição com a fundação alemã Rosa Luxemburgo Stiftung, em 2005. Orcid: 0000-0002-4280-714X.

Gevanilda Santos

Nasceu em Presidente Prudente, São Paulo, filha de migrantes negros nordestinos da cidade de Rio de Contas, na Chapada da Diamantina, Bahia. Mestre em Sociologia Política pela PUC-SP, graduada em História e professora universitária aposentada, pesquisadora das relações sócio raciais, ativista da Soweto Organização Negra e autora de vários livros, entre eles Relações Raciais e Desigualdade no Brasil, publicado pela Selo Negro Edições. Orcid: 0000-0002-4977-0204.

Maisoon Eltayeb Fillo

Mestre em Estudos Latino-Americanos, pela Universidade de Tulane (2019), com a dissertação intitulada: “Pensamentos e intervenções feministas negras no ensino superior brasileiro”, e bacharel em Psicologia e Estudos Hispânicos por The College of William and Mary (2015). Planeja trabalhar em torno do ativismo antirracista tanto local como global bem como com assuntos relacionados à resistência e a políticas de empoderamento.

 

Joana Nina Ferreira da Silva 

Créditos concluídos de Doutorado em Sociologia, pela École des Hautes Études en Sciences Sociales e pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne (Paris-França). Mestre em Sociologia Política PUC-SP e bacharel em Serviço Social. Possui diploma de assistente social pela École Normale Sociale, Paris. Autora do artigo “A Multiplicidade de expressões e a consciência negra”, que faz parte do livro Movimento Negro Unificado, a resistência nas ruas, publicado por Edições Sesc e pela Fundação Perseu Abramo, em 2020, e do livro Centro de Cultura e Arte Negra – CECAN, publicado pela editora Selo Negro, em 2013. Orcid: 0000-0001-8604-1142.

 

Dandara Maria Barbosa Silva