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Especialistas advertem para risco da chamada imunidade de rebanho

“A imunidade de rebanho só acontece com uma vacina — que não existe — ou quando muita gente adquire naturalmente anticorpos. Se hoje já morreram mais de 76 mil pessoas, seria ético esperar contaminar 60% a 70% da população e deixar morrer quase 1 milhão para então atingir a imunidade de rebanho? É óbvio que não. A ideia de mirar a imunidade de rebanho como uma política de saúde é absurda, mal pensada e antiética”, afirma o epidemiologista Pedro Hallal

O Brasil está longe de atingir a imunidade de rebanho

Com 2.102.559 casos confirmados de Covid-19 e 79.590 mortes, segundo o consórcio formado por veículos de imprensa, a pandemia segue espalhando-se pelo país, avançando pelo interior e periferias das grandes cidades, principalmente nas regiões Sul e Centro-Oeste. Defendida pelo presidente Jair Bolsonaro como solução para deter a escalada de infecções, a chamada imunidade de rebanho voltou a ocupar espaço na mídia nacional. Especialistas, no entanto, advertem para os perigos de deixar a pandemia seguir seu curso sem a imposição de quarentenas e o uso de máscaras de proteção.

Segundo uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade Federal de Pelotas, atualmente cerca de 3,8% da população brasileira já foi infectada, o que significa que o país ainda está muito distante de atingir uma imunidade de rebanho, quando cerca de 60% ou 70% das pessoas já foram contaminadas, impedindo a propagação do vírus.

“A imunidade de rebanho só acontece com uma vacina — que não existe — ou quando muita gente adquire naturalmente anticorpos. Se hoje já morreram mais de 76 mil pessoas, seria ético esperar contaminar 60% a 70% da população e deixar morrer quase 1 milhão para então atingir a imunidade de rebanho? É óbvio que não. A ideia de mirar a imunidade de rebanho como uma política de saúde é absurda, mal pensada e antiética”, afirmou o epidemiologista Pedro Hallal, coordenador do estudo e reitor da universidade, em entrevista à ‘BBC News’.

Para concluir a pesquisa, os cientistas fizeram testes para detectar anticorpos em 89.397 pessoas de 133 cidades de todo o país. O resultado do estudo, que foi encerrado no dia 24 de junho, indica que há um grande número de subnotificações,  já que  3,8% de doentes corresponde a 8 milhões de pessoas. O epidemiologista considera que o Brasil não apresentou uma resposta à altura do desafio e fracassou no combate à doença.

“”O maior erro foi nunca ter tido uma política de testagem ampla e maciça. É um problema gravíssimo, porque essa política não é para contar quantos doentes temos, é para isolar os positivos e testar seus contatos. Isso o Brasil nunca fez”, afirmou o cientista. Ainda de acordo com Hallal, a resposta brasileira foi inédita no mundo, inclusive nos erros.

“Vários outros países também não testaram bem, mas não reabriram antes da curva estar caindo. Nenhum outro lugar fez algo tão equivocado”, observou o pesquisador. “O Brasil parece que está desafiando o vírus, porque a gente reabre as cidades quando estamos no pico ou próximo do pico. Então, é óbvio que o vírus vai continuar infectando”.

Na semana passada, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) também se manifestou sobre o assunto. “Não há evidência que o Brasil ou alguma parte do país tenha alcançado imunidade rebanho”, destacou o diretor para doenças infecciosas da Opas, Marcos Espinal.”Não estamos recomendando [nenhum país] alcançar a imunidade rebanho, porque isso custaria muitas vidas”, disse Espinal.

Ele afirmou que mesmo Manaus, cuja capital teria 14% de anticorpos na população, não tem imunidade de rebanho. “Isso não é eficiente para dar imunidade rebanho”, comentou, lembrando que o percentual deveria chegar a 70% para que a classificação.

Vacina

Uma vacina experimental produzida pela Universidade de Oxford, em parceria com o laboratório AstraZeneca acendeu esperanças de uma cura para a doença. A droga produziu resposta imune em voluntários saudáveis, de acordo com a publicação médica ‘Lancet’. “Esperamos que isso signifique que o sistema imune se lembrará do vírus e que a vacina consiga proteger as pessoas por um longo período”, afirmou Andrew Pollard, da Universidade de Oxford. “Mas precisamos de mais pesquisas antes de confirmar que a vacina é eficaz em proteger contra o coronavírus e por quanto tempo a proteção vai durar”, disse o pesquisador, responsável pela pesquisa.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) foi, no entanto cautelosa quanto aos resultados dos testes. “Não precisamos esperar por uma vacina, podemos salvar vidas agora”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanon, nesta segunda-feira (20). Ele destacou a necessidade urgente de os países aplicarem a técnica do rastreamento dos contatos dos pacientes infectados pelo coronavírus. “Nenhum país conseguirá controlar sua epidemia se não souber onde está o vírus”, alertou Tedros. “O rastreamento de contatos é essencial para localizar e isolar casos, além de identificar e colocar em quarentena os seus contatos”.

Da Redação, com informações da ‘BBC’