Mais uma vez, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) se levantou contra o golpe democrático em curso no Brasil. Nesta terça-feira (12), um comitê de alunos, professores e funcionários se reuniu em um espaço aberto da instituição de ensino para lançar um manifesto pela democracia e debater a crise política atual no País.
Um a um, os participantes foram ao microfone para mostrar motivos para se opor ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Para Pedro Fassoni, professor de Ciências Sociais da PUC, está cada vez mais claro que as tentativas de impedir a continuidade do mandato de Dilma se tratam de um atentado contra a democracia.
“(Eduardo) Cunha, (José) Serra, Aécio (Neves), (Michel) Temer, a direita do PMDB e outros grupos estão tentando dar um golpe contra uma presidenta democraticamente eleita, entregar as riquezas nacionais e enfraquecer o direito dos trabalhadores. Sabemos o que aconteceu em 1964 e sabemos o que está acontecendo hoje. Ser contra o golpe é ser a favor da liberdade”, afirmou.
Ele acredita que a população contra o impeachment vai sair às ruas em peso no próximo fim de semana, quando o impedimento da presidenta será votado na Câmara dos Deputados. “Domingo terá milhões de pessoas nas ruas para defender a democracia. De vermelho, sim. As manifestações contra o golpe são bem mais representativas da sociedade brasileira, com pessoas de todos os tipos e posições sociais”.
+ cadeias – escolas
A professora de Economia Maria Angélica Borges lembrou que as classes dominantes, aliadas a forças internacionais, massacram sempre que podem as necessidades dos trabalhadores. E afirmou: “Este é um golpe promovido pelas forças mais reacionárias deste País”.
De acordo com a presidenta da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), Flávia Oliveira, são os grupos conservadores que defendem a queda de Dilma. “Não marchamos ao lado de Bolsonaro ou de quem defende a redução da idade penal. O governo de São Paulo constrói mais cadeias que escolas. A nossa luta é pela democracia. É pela possibilidade e direito de concordar ou discordar do governo”, discursou.
Um grupo de estudantes estava organizando uma caravana para ir à Brasília acompanhar a votação do impeachment na capital do País.
1964 = 2016
O professor de Filosofia Jonnefer Barbosa comparou o momento atual com 1964. “Não há argumentos jurídicos ou políticos para a tirada de Dilma. Lembra, e muito, a retirada de João Goulart pelos militares há mais de 50 anos”, afirmou. Ele também lembrou que o vice-presidente Michel Temer já foi professor da PUC.
“O golpista Michel Temer ter sido professor da PUC desonra demais esta universidade”.
“Ver Cunha tentar dar o impeachment na Dilma por pedaladas fiscais é risível. Esse golpe é imoral”
Representante dos funcionários da instituição, a revisora Simeia de Mello Araújo afirmou que os que tentam tirar Dilma do poder não têm moralidade política para buscar o intento. “Os motivos para o impeachment não se sustentam. Ainda mais quando a linha sucessória da Dilma é repleta de corruptos. Ver Cunha tentar dar o impeachment na Dilma por pedaladas fiscais é risível. Esse golpe é imoral”.
Para ela, é um absurdo a crítica de que o PT “incentiva a luta de classes”. “A luta de classes sempre existiu, principalmente quando se nasce preto e pobre”. Sobre os apoiadores do impeachment, ela disse que boa parte se trata de pessoas que “gritam e gritam sem nada a dizer” e que olham “apenas para seus próprios umbigos”.
Entre tantos alunos da PUC havia o estudante de Direito e membro do Comitê Mackenzie Contra o Golpe, Calebe Paranhos. Ele celebrou a união entre as universidades e conclamou que mais instituições de ensino se levantem pela democracia.
“Seja PUC, Mackenzie, Uninove ou FMU, é fundamental lutar contra o golpe. Um golpe que está sendo dado todos os dias. Quando alguém do MST é assassinado, um trabalhador da periferia é morto ou um estudante secundaristas toma golpes de cassetetes da polícia, o golpe está sendo dado”, disse.
Para o professor de comunicação social José Salvador Faro, que assistiu ao debate, o ato mostra mais uma vez o caráter libertário da PUC. Desta vez, porém, ele afirma, a tomada de consciência dos estudantes está sendo maior.
“Não é a primeira vez que os estudantes da PUC se mostram contra o golpe. A garotada resolveu contestar e eu vejo esse movimento com muito otimismo. Esta universidade tem histórico de defesa da democracia, mas agora o processo de politização dos alunos contra o impeachment está ainda mais forte”, garantiu.
Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias