Depois de três dias ocupando a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), os secundaristas decidiram deixar o plenário no final da tarde de sexta-feira (6). Na véspera, haviam recebido uma notificação de reintegração de posse com prazo de 24 horas para desocupação voluntária e multa individual de 30 mil reais caso houvesse resistência.
O grupo ocupou a sede do Legislativo paulista como forma de pressionar os deputados para investigarem a denúncia de desvio de verba das merendas. São necessárias 32 assinaturas para abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e já foram coletadas 27. Ao deixar o local, os estudantes afirmaram que continuaram as manifestações para pedir a CPI.
“Tomamos um duro golpe da justiça. Nós que não conseguimos nem comprar o lanche na cantina, não aceitaremos que nossos pais paguem pela corrupção. Há meses travamos uma luta democrática contra o ladrão de merenda. Sabemos o valor que tem a democracia e a importância de se respeitá-la”, afirmaram os alunos em carta divulgada após a desocupação.
Deputados de oposição ao governo de Geraldo Alckmin (PSDB) na Alesp, do PT, Psol e PCdoB, auxiliaram nos diálogos entre estudantes e a presidência da Casa, exercida pelo deputado Fernando Capez (PSDB).
“Paralisamos o estado de São Paulo, o Brasil e o mundo travando os trabalhos da Alesp para que todos os deputados nos ouvissem nesse momento. Na próxima semana estaremos aqui novamente cobrando que cada deputado”, reforçaram.
Entenda o escândalo da Máfia da Merenda.
Reintegração de posse
Pela manhã, houve reintegração de posse no Centro Paula Souza, que também estava ocupado pelos estudantes. Apesar dos pedidos para que a Polícia Militar (PM) não atuasse de maneira violenta, foram feitas denúncias de agressão física a estudantes e a jornalistas que estavam no local.
Em seguida, os manifestantes foram até a porta da ETESP da Avenida Tiradentes para manifestar apoio aos colegas que lá estão desde segunda-feira (2). Em seguida, passaram na Diretoria Regional de Ensino Centro-Oeste, em Perdizes, para se solidarizar com o grupo que também está lá como parte da mobilização contra a falta de merenda e denúncias de corrupção nos contratos da alimentação escolar.
Seguiram depois para a ETEC Basilides de Godoy, na Vila Leopoldina. A Diretoria de Ensino Sul de Guarulhos foi ocupada por estudantes das escolas estaduais da cidade na manhã de hoje (06), por volta de 10h. No estado de São Paulo, há cerca de 20 escolas ocupadas para denunciar o fechamento de salas de aula e pedir CPI da Máfia da Merenda.
Leia a íntegra da carta divulgada pelos estudantes:
“CARTA ABERTA DOS ESTUDANTES AO POVO PAULISTA
Foram quatro dias de ousadia, resistência e luta. Pela primeira vez na história da ALESP e do Estado de São Paulo o povo se viu representado neste importante espaço. Nós jovens, negros, mulheres ao lado do povo e toda sua diversidade, ocupamos o plenário do poder legislativo, ensinamos e aprendemos muito. Resistimos. Mesmo com toda a desinformação, truculência e terror psicológico nos mantivemos inabaláveis e convictos da legitimidade do nosso movimento. O que nos move é apenas a fome e o desejo de ter uma escola e uma educação que atenda as necessidades de desenvolvimento, emancipação e dignidade de todas e todos.
Conquistamos a mais importante vitória que um movimento pode ter: A opinião de todos vocês. Recebemos o apoio e o carinho de mães, pais, professores, trabalhadores, funcionários da ALESP, artistas, intelectuais, autoridades e os mais diversos setores da sociedade, o que fez toda a diferença para nós.
Tomamos um duro golpe da justiça. Nós que não conseguimos nem comprar o lanche na cantina, não aceitaremos que nossos pais paguem pela corrupção. Há meses travamos uma luta democrática contra o ladrão de merenda. Sabemos o valor que tem a democracia e a importância de se respeitá-la.
Apesar de não ter repressão e violência policial, o governo decidiu pela truculência econômica. Por isso, nossa decisão coletiva foi desocupar a ALESP. Não recuamos, não desistimos e nada vai nos calar. Nossa luta, graças a essa ocupação, atingiu um patamar histórico.
Através da nossa ocupação começamos a escrever mais um grande capítulo da história do Brasil, depois de muito tempo o povo pautou o principal parlamento estadual do país.
Paralisamos o estado de São Paulo, o Brasil e o mundo travando os trabalhos da ALESP para que todos os deputados nos ouvissem nesse momento. Na próxima semana estaremos aqui novamente cobrando que cada deputado ouça a nossa voz, a voz de milhares de estudantes secundaristas que há meses estão sem merenda.
Seguiremos em luta intensa pela abertura da CPI, pela punição dos ladrões de merenda e pela escola dos nossos sonhos.
Apenas começamos!
MUITO OBRIGADO PELO APOIO DE TODAS E TODOS.
#OCUPAReRESISTIR #CPIdaMerendaJÁ”
Da Redação da Agência PT de Notícias