O primeiro caso de infecção por coronavírus no Brasil foi confirmado nesta quarta-feira (26), após exames realizados pelo Instituto Adolfo Lutz. Trata-se de um homem de 61 anos que voltou de viagem à região da Lombardia, na Itália, local com maior número de casos naquele país. Ele chegou a São Paulo em um voo no sábado (22) e procurou o Hospital Albert Einstein na segunda-feira (24), após apresentar sintomas. Segundo o hospital, “o paciente encontra-se em bom estado clínico e sem necessidade de internação, permanecendo em isolamento respiratório que será mantido durante os próximos 14 dias”. Por ser considerado um quadro leve, ele vai ficar em quarentena em casa.
Também na manhã desta quarta, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta reuniu os secretários estaduais de Saúde para articular ações integradas entre o Ministério e os estados. Conforme declarou em entrevista coletiva, Mandetta disse que não serão alterados procedimentos nos aeroportos ou bloqueios a países suspeitos, devido ao grande número de conexões nos voos. “Não existe nenhuma tecnologia que possa nos dizer que quem está dentro de um avião possa estar com o vírus ou não”, observou.
Na avaliação do deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), o coronavírus não é uma gripe qualquer. “Por onde passa deixou milhares de mortos. O Brasil precisa aproveitar ao máximo as três vantagens que tem sobre a China para impedir uma tragédia similar à tragédia chinesa. Primeiro, temos todas as informações sobre o coronavírus: período de incubação, sua gravidade, qual é a população de risco, qual a população onde teve o maior número de mortes, de onde vêm os casos. Ou seja, todas as informações necessárias para ativar ao máximo os profissionais de saúde e a população, para bloquearmos a transmissão evitando contágios e, sobretudo, evitarmos a disseminação de preconceitos que além de agredir muitas vezes as pessoas e gerar intolerância, desinforma a população. O primeiro caso de coronavírus no Brasil é um exemplo disso”, lembrou o ex-ministro da Saúde do governo Dilma Rousseff. Para Padilha, o brasileiro infectado não é um chinês, que não veio direto da China para o Brasil, ele é um caso que só as informações transmitidas pelas organizações internacionais nos permitem saber o risco de transmissão em outros países neste momento.
A segunda grande vantagem, de acordo com Alexandre Padilha, é que o Brasil construiu ao longo de décadas um sistema público de saúde, que age desde a vigilância aos portos, aeroportos, aos mercados, aos pontos de alimentação até a estrutura de sistema de vigilância, de isolamentos respiratórios nos hospitais e vigilância laboratorial. “Essa estrutura tem que ter todas as condições de atuar no alerta necessário, no máximo de seu trabalho. Cabe ao Ministério da Saúde do governo Bolsonaro dar toda condição para que esses trabalhadores e trabalhadoras possam atuar em cada canto do País. Sobretudo na vigilância dos portos e aeroportos. É fundamental a possibilidade de os trabalhadores e trabalhadoras terem equipes preparadas e prontas, ter os plantões acontecendo. Temos recebidos denúncias ao longo destes dias do corte de plantões dos trabalhadores da Anvisa em portos e aeroportos do nosso País”, denunciou.
E a terceira vantagem sobre a China, de acordo com o ex-ministro, é que ainda estamos no verão. “Temos a possibilidade de conter a transmissão em um período em que a concentração das pessoas é menor em relação ao inverno. Orientar as pessoas não só em relação ao coronavírus, mas ao risco da Influenza. Orientar de forma correta a vacinação. Preparar de forma correta os trabalhadores e trabalhadoras da saúde. Nada disso acontece se menosprezarmos os riscos. O Congresso Nacional fez em um dia o que o governo Bolsonaro durou semanas para agir. Desde o começo falávamos: o maior risco não era a repatriação de brasileiros que estavam na China, pelo contrário. A repatriação desses brasileiros deveria acontecer o mais rápido possível por ser a forma mais controlada de fazer essa repatriação. O maior risco é a rede do SUS, que foi construída ao longo de décadas, não ser acionada na sua força máxima. Nesse momento o governo Bolsonaro tem que garantir as condições de trabalho e as informações adequadas a essa grande rede de vigilância do SUS”, receitou Padilha, que também é médico.
Protocolo
A médica infectologista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia Nancy Bellei explicou que o Hospital Albert Einstein tem protocolo para esse tipo de atendimento e a conduta é semelhante à adotada em outros países. “Mais da metade dos casos na região da Lombardia, de onde veio este paciente, estão nos domicílios. Nos Estados Unidos também. Ele foi dispensado com orientação médica e orientação para os seus familiares. E a equipe divulgou que está em contato com esse paciente. Dispensar o paciente para casa vai depender da avaliação do serviço. Depende da condição do paciente, da possibilidade de vigilância, do entendimento e da colaboração do paciente e seus familiares”, explicou, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.
Nancy ressaltou que é possível que haja transmissão do vírus deste paciente para outras pessoas, já que o risco para os passageiros que voavam com ele depende da classe de voo, pois alguns têm menor concentração de pessoas, e da localização do passageiro infectado. “O conceito que nós temos vem do Influenza. Para esse vírus respiratório considera-se um risco maior duas fileiras para a frente, duas para trás e eventualmente dos lados. Esse seria o caso de um paciente sintomático. Nós não conhecemos ainda o sistema de transmissão de pacientes assintomáticos. É possível que transmitam, mas o quanto a gente não sabe”, disse.
O Brasil é o primeiro país da América Latina com um caso confirmado de Coronavírus, que já contaminou mais de 80 mil pessoas e matou 2.708 pessoas no mundo. Além do caso confirmado em São Paulo, o Ministério da Saúde monitora outras duas pessoas, uma em Pernambuco e outra no Espírito Santo, ambas vindas de viagem à Itália. No país, ocorreram 320 casos de infecção e 11 pessoas morreram. Já os brasileiros que vieram de Wuhan, região onde a epidemia começou, foram liberados no final de semana, após 18 dias de isolamento, sem nenhum indício de contaminação.
O que fazer?
As condições para se considerar um caso suspeito de coronavírus foram estabelecidas pelo Ministério da Saúde. Além de febre, é preciso apresentar algum sintoma respiratório e histórico de viagem ou contato com uma pessoa que viajou a uma região com casos confirmados de coronavírus. Nesse caso, os serviços de saúde estão orientados a fazer exames para detecção do vírus.
Apesar da preocupação com a chegada do coronavírus ao País, a conduta para evitar a contaminação segue sendo a mesma indicada desde o início da epidemia, como no caso da gripe comum: lavar as mãos com frequência, evitar colocar a mão na boca, nos olhos ou coçar o nariz e tossir ou espirrar tapando o rosto com a parte interna do cotovelo e não com as mãos. As pessoas que apresentam maior risco são os grupos que também devem se prevenir de gripes e resfriados, como idosos, gestantes, pessoas transplantadas ou com câncer.
Também se destaca o baixo índice de letalidade do vírus, semelhante ao ocorrido com outros que tiveram grande proliferação, com mobilização mundial, mas não resultaram em uma grave crise global de saúde. Em 2002, a Sars – gripe aviária – se disseminou a partir da China, teve pouco mais de 8 mil casos confirmados e causou 774 mortes ao redor do mundo. Já em 2012, a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês), que surgiu a partir da Arábia Saudita, causou 858 mortes.
O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT) considera que o País está preparado para enfrentar o coronavírus, apesar do desmonte praticado pelo presidente Jair Bolsonaro. “Com os casos anteriores (Sars e Mers), o Brasil se preparou, tanto do ponto de vista da vigilância, quanto do ponto de serviços para cuidar das pessoas com problemas respiratórios. Apesar de todo o ataque e desmonte praticado pelo governo Bolsonaro, tem uma resiliência de capacidade técnica, de atendimento. O Brasil tem um corpo técnico e estruturas hospitalares para lidar com essa situação”, explicou.
Abaixo, orientações do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, sobre o coronavírus:
- Coronavírus são conhecidos desde a década de 1960, eles têm esse nome devido ao seu aspecto que lembra uma coroa, visto em microscópio;
- A transmissão ocorre entre diversos animais. Eventualmente pode haver transmissão de animais para humanos, a depender da mudança no material genético do vírus (RNA);
- Até hoje 7 diferentes tipos de coronavírus foram confirmados como causa de infecções em seres humanos. A maioria das pessoas tem infecções por coronavírus na infância e a apresentação mais frequente lembra um resfriado simples ou uma gripe;
- Houve duas epidemias de impacto global por coronavírus, a Sars a partir de 2002 que se disseminou a partir da China, teve pouco mais de 8000 casos confirmados e causou 774 mortes ao redor do mundo. A Mers, que surgiu a partir da Arábia Saudita em 2012, e causou 858 mortes;
- O surto do novo coronavírus na China é certamente um problema de saúde pública, mas não deve ser motivo para desespero. Lembremos que o vírus da gripe, que se transmite de forma semelhante, mata anualmente de 290 mil a 640 mil pessoas por ano;
- Não há nenhum tratamento específico, como um antiviral, eficiente para coronavírus. Os pacientes recebem tratamentos sintomáticos. Nos casos graves, suporte com oferta de oxigênio e eventualmente cuidados intensivos;
- Não há vacina disponível;
- A transmissão pode se dar por contato com os animais infectados e, no caso do novo coronavírus, pode ser transmitida de pessoa a pessoa a partir de secreções respiratórias;
- A prevenção é semelhante a outras doenças de transmissão respiratória: lavar as mãos com frequência, evitar colocar as mãos nos olhos, nariz e boca, cobrir a boca ao tossir, ajuda a evitar a infecção;
- O surto atual causou 80 mil casos e 2.708 mortes até agora. Os casos se concentram na China e países vizinhos.
Por PT na Câmara