O programa Ciência Sem Fronteiras, do governo federal, divide opiniões no PSDB. Ao mesmo em que o tucano Aécio Neves promete ampliar a iniciativa, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso renegou o programa no artigo “Razão e bom senso”, publicado no jornal o “Estado de S. Paulo”, em 2013.
No texto, o tucano afirma que a iniciativa é uma solução para resolver um “quase apagão de gente qualificada para o País”. À época, o Ciência Sem Fronteiras tinha como meta ofertar 101 mil bolsas até o final de 2014. Para FHC, no entanto, a ampliação do número de bolsas de intercâmbio no país resultou em “um menoscabo da capacidade universitária já instalada” e envio de muitos estudantes ao exterior “que nem sequer conhecem bem a língua do país onde vão estudar”.
A afirmação do tucano é equivocada. Basta analisar os resultados alcançados pelo programa. A expectativa de oferecer 101 mil bolsas até o final deste ano, por exemplo, foi superada. Dessa capacidade total de bolsas, 86,1 mil haviam sido concedidas em meados de setembro e, para as 14,9 mil bolsas restantes, houve procura por 60 mil candidatos.
Para atender a grande demanda de estudantes brasileiros interessados em estudar no exterior, a presidenta Dilma Rousseff anunciou o oferecimento de mais 100 mil vagas com a segunda etapa da iniciativa, o Ciência sem Fronteiras 2. “Com isso estamos abrindo as nossas fronteiras. Estamos abrindo horizontes dos nossos jovens”, afirmou a presidenta, durante a cerimônia de lançamento da nova fase, em 25 de junho, no Palácio do Planalto, em Brasília.
Por meio do programa, instituído em dezembro de 2011, no primeiro ano de governo da petista, estudantes de universidades públicas e bolsistas de instituições de ensino superior privadas do Brasil podem realizar graduação-sanduíche (no Brasil e no exterior) e modalidades de mestrado, doutorado e pós-doutorado em 43 universidades de renome, fora do País. Além disso, pesquisadores internacionais também podem desenvolver estudos no Brasil, a partir da iniciativa.
Estudantes valorizados – “Eu não tinha perspectiva de sair tão cedo do Brasil. Meu pai foi conhecer outros países com quase 50 anos e eu, com 22 anos, fui morar fora”, conta a bacharel em geografia pela Universidade de Brasília (UnB), Raquel Antunes Daldegan, 24 anos. Ela realizou a graduação-sanduíche de 2012 a 2013, na Universidade do Porto, em Portugal.
Na instituição portuguesa, a estudante frequentava aulas diárias, das 8 horas às 23 horas. Além de contar com acesso a novas técnicas de pesquisa e laboratórios de ponta, a estudante recorda ter podido assistir aulas lecionadas por escritores de livros, artigos e estudos que admirava. “A pesquisa sai do papel e passa a ter contato com você. Deixa de ser uma coisa que você leu e passa a ser uma coisa que você vive”, explica.
Atualmente, Raquel colhe bons frutos da experiência. Em novembro, ela participará de congressos em São Paulo e em Portugal para apresentar um estudo sobre planejamento urbano. “Ter participado do CSF deu um novo rumo para tudo. Me formei geógrafa, morei fora do meu país por um ano e já estou em um mestrado”, conta.
Por Victoria Almeida, da Agência PT de Notícias.