Se o limite aceitável de alteração da Amazônia ultrapassar seu ponto de irreversibilidade, o mundo perderá todo o ecossistema da floresta entre 20 a 30 anos, alerta o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy em entrevista à Rádio Brasil Atual, na manhã desta quinta-feira (21). A advertência ocorre diante do aumento do desmatamento e das queimadas que continuam a avançar sobre a região, como mostram dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nesta semana.
Entre agosto de 2018 a julho de 2019, 9.761 quilômetros quadrados de floresta foram devastados, um aumento de 29,5%. Enquanto que só nos primeiros nove meses deste ano, o desmatamento chegou a ser de 8.409 quilômetros quadrados, ante o mesmo período do ano passado, que registrou 4.602 quilometro quadrados de degradação da região. Ao menos 100 ONGs ligadas ao meio ambiente, cobram providências urgentes para combater esse avanço.
“A perspectiva é que o ecossistema sendo frágil, sendo continuadamente agredido, à medida que a massa da floresta amazônica diminui, você tem uma diminuição do microclima e isso leva a uma perda de umidade do sistema, e atingindo 25% do total da massa da Amazônia Legal, nós podemos entrar em um ciclo de perda da floresta para uma outra realidade”, explica Bocuhy aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria.
De acordo com o presidente do Proam, a Amazônia tem sido utilizada para o avanço de atividades predatórias e econômicas, sob influência inclusive de agentes da especulação imobiliária. Isso porque, desde que o governo de Jair Bolsonaro assumiu, políticas de fiscalização, de estímulo legal de regularização fundiária e que não fossem predatórias, estão sendo “engavetadas”, contesta Bocuhy.
“O que o governo atual está fazendo é reinventar um processo de forma absolutamente incompetente. A partir do momento que você diz que nós estamos fazendo alguma coisa, mas de forma diferente, e nós abandonamos as boas práticas, aquilo que já era consolidado como boa política, na verdade o governo está jogando a favor da degradação, seja por incompetência ou por opção, ou até mesmo tutelando alguns interesses ilegais, como se tem no discurso do governo, uma atitude irresponsável do governo federal”, observa o presidente do Proam, lembrando da declaração de Bolsonaro que chegou a dizer nesta quarta-feira (20) que “não vai acabar com as queimadas e desmatamento porque é cultural”.
“Esse não é um discurso de estadista, um discurso republicano, mas um discurso que estimula apenas a degradação na medida que a coloca em um patamar supostamente (de herança) cultural”, critica.