O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou durante depoimento em audiência pública na CPI do MST, nesta quinta-feira (17), que o governo do presidente Lula mantém diálogo com toda a sociedade, visando o progresso do País, incluindo movimentos sociais que defendem a reforma agrária e também o agronegócio. A declaração aconteceu em resposta aos questionamentos de deputados bolsonaristas do colegiado sobre uma possível relação privilegiada do atual governo com o MST. Durante a reunião, Fávaro disse ainda que a luta do MST pela reforma agrária é legítima e que tem amigos no movimento, mesmo pertencendo ao agronegócio.
“Cada pessoa tem o direito de reivindicar o direito à terra, isso é legítimo, desde que feito dentro da lei. Eu tenho amigos no MST e já dialoguei com o Stédile (líder do MST), porque acredito que temos que buscar a convergência para fazermos avançar a agricultura brasileira. Eu defendo o direito de propriedade para todos. Meu sonho é que tenhamos uma reforma agrária efetiva que dê oportunidade a todos que queiram trabalhar na terra”, respondeu o ministro.
Questionado por um deputado bolsonarista sobre o que faria se uma fazenda de sua propriedade fosse “invadida” pelo MST, Fávaro respondeu que esse perigo não existe. “Minhas terras cumprem sua função social, todas são produtivas”, explicou.
O ministro defendeu ainda que possíveis divergências que possam surgir na disputa por terra no Brasil, sejam definidas pela justiça. Ele elogiou ainda o presidente Lula pela determinação de retomada do processo de reforma agrária no Brasil, em um programa que deverá ser lançado em breve através do ministério do Desenvolvimento Agrário, comandado pelo ministro Paulo Teixeira.
Desmentindo narrativas
O ministro desmentiu ainda as narrativas de deputados bolsonaristas que acusam o governo do presidente Lula de ser contra o agronegócio. “Para aqueles que acham que o presidente Lula não respeita a reforma agrária, saibam que foi o presidente Lula, sem seus dois primeiros governos, que repactuou as dívidas do agronegócio em 20 anos e deu crédito e condições para a agricultura produzir. Além de inúmeros programas de modernização de máquinas, aquisição de alimentos e do biodiesel, combustível sustentável que abriu o mercado para exploração do óleo extraído da soja”, exemplificou.
O ministro da Agricultura lembrou ainda que, neste ano, o presidente Lula lançou o maior Plano Safra da história, tanto para o agronegócio quanto para a agricultura familiar, provando que o atual governo trabalha para todos.
Durante a reunião, deputados bolsonaristas tentaram criar intrigas entre o ministro e movimentos sociais, com perguntas sobre temas que nem mesmo são objeto de investigação da CPI. Em todos eles, Carlos Fávaro defendeu sempre a posição do governo de dialogar com todas as partes envolvidas. Questionado inclusive sobre críticas dele a posições políticas recentes da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), Fávaro ressaltou que já foi dirigente da entidade e que apenas questionou a politização da associação.
“Já fui dirigente da Aprosoja, porém, infelizmente a entidade se politizou deixando de lado a sua função de órgão de classe”, opinou sobre o envolvimento umbilical de dirigentes da associação com o bolsonarismo e incentivo a atos contra a democracia.
Apoio de petistas
Parlamentares da Bancada do PT na CPI parabenizaram o ministro pela clareza na exposição de suas ideias e também criticaram as tentativas de criar intrigas entre Fávaro e movimento sociais do campo, e também entre o governo Lula e o agronegócio. Seguindo a linha do ministro, o deputado Nilto Tatto (PT-SP) lembrou que grande parte do agronegócio brasileiro produz dentro da lei e tem responsabilidade socioambiental.
“98% do agronegócio trabalha dentro da lei e cumpre a função social da propriedade. O que o governo Lula quer é desenvolver a agricultura familiar, fazendo a reforma agrária para produzir mais alimentos saudáveis e garantir a diversidade da produção”, afirmou.
Após parabenizarem a participação do ministro na CPI, os deputados petistas Valmir Assunção (BA) e Marcon (RS) acusaram os deputados bolsonaristas de, mais uma vez, “montarem um circo” envolvendo o ministro para tentar criminalizar o MST.
“Minha indignação é com a prática dessa CPI de convidar a pessoa para depor e depois tentar constranger. Isso é recorrente nessa comissão que não tem fato determinado e que já tem relatório pronto, e por isso não sabe mais o que fazer”, declarou Assunção.
Já o deputado Marcon destacou que os bolsonaristas tentaram de todas as formas constranger o ministro para tentar abafar as revelações do hacker Walter Delgatti, envolvendo o ex-presidente Bolsonaro, na tentativa de golpe contra a democracia após a eleição de Lula.
“Estou entendendo a braveza de vocês (bolsonaristas). Hoje o STF mandou prender mais 10 envolvidos no 8 de Janeiro (tentativa de golpe em Brasília) e na CPI que investiga esse fato “as portas e janelas” estão caindo com o que está acontecendo lá (revelação do hacker Delgatti). Por isso vocês vem aqui dizer que o MST é criminoso, isso e aquilo”, pontuou.
Apesar da radicalização bolsonarista na CPI, o deputado Alencar Santana (PT-SP) parabenizou o ministro pelo trabalho que vem sendo desenvolvido no governo. “Estamos vivendo um momento especial com um governo que vem dialogando com todos os atores políticos, mesmo com setores que de uma maneira radicalizada e agressiva, com acusações infundadas, apoiaram o outro lado (o perdedor nas eleições). Em nome da liderança do governo, expressamos apoio ao seu trabalho e lamentamos que essa CPI esteja fadada ao fracasso, pela falta de respeito e dialogo, acusando sem ir atrás dos fatos”, afirmou.
Do PT na Câmara