Até domingo, 800 feirantes estarão durante todo o dia no parque da Água Branca vendendo produtos sem agrotóxicos da reforma agrária. De todo país, assentados de 23 Estados vieram para São Paulo na 2ª edição da Feira Nacional da Reforma Agrária. Ao todo, são 280 toneladas de alimento que devem ser comercializadas.
Além da venda de alimentos in natura, artesanato e agroindustrializados, a feira conta com shows, atividades culturais, debates e uma cozinha com comidas regionais de 20 estados do país – com opções como acarajé, pacu, baião de dois, pastel, galinhada, arroz carreteiro, entre outras, que servem refeições durante todo o dia.
Ao menos um caminhão saiu de cada estado trazendo os alimentos produzidos pela reforma agrária. Já os agricultores vieram de ônibus até São Paulo. Uma ampla variedade de frutas, verduras, legumes de todas as regiões do Brasil estão a venda a um preço acessível. Mas também produtos como doce de leite, geleias, doces naturais, sabonetes e artesanato.
“É uma amostra de tudo que é produzido, tudo o que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) realiza, porque o MST é ocupação de terra, mas é produção, alimento saudável, e preservação ambiental”, afirma Gilmar Mauro, coordenador nacional do movimento. “Queremos propor esse debate: que alimento você quer consumir? Que tipo de uso nós queremos dar ao solo, água, e recursos naturais? Se for esse que tem sido feito (no agronegócio), se preparem, as futuras gerações terão problemas, inclusive a nossa”, afirma.
Milton Fornazieri, que também é da coordenação, explica que a feira também traz a parte organizativa dentro dos assentamentos, que envolve mais de mil associações e mais de 140 cooperativas.
Para Zenália Santos, integrante do segundo assentamento feito no estado de Rondônia, uma das principais batalhas é produzir alimentos saudáveis para a população. “Viemos para mostrar para a sociedade que a reforma agrária é viável, que além de distribuir riqueza, ela distribui alimentação saudável”, explica.
Alimentos agroecológicos
No assentamento de Santos, toda a produção de alimentos é agroecológica, isto é: sem uso de agrotóxicos e utilizando a própria natureza para garantir o desenvolvimento da plantação.
“O agroecológico é quando se realiza várias produções no mesmo espaço, mantendo os seres vivos e cuidando do meio ambiente. Produz um ambiente gostoso, dando espaço para todos meios de vida, diferente do que o agrotóxico faz, que mata tudo”, diz a agricultora.
“A ideia da feira é também mostrar que a reforma agrária deve resolver o problema da cidades”, diz Debora Nunes, também da coordenação do movimento. “É discutir e dialogar a produção de alimentos saudável”.
Para ela, é possível produzir alimentos agroecológicos em larga escala. O MST já é, por exemplo, o maior produtor de arroz agroecológico do país, com o arroz Terra Livre. Na última safra, foram 540 mil sacas de arroz produzidas.
“Nós não podemos seguir na lógica da produção orgânica em nichos. Em outros momentos, foi dito que ‘quem tem dinheiro come saudável, quem não tem come veneno’. Mas nós temos experiências de que é possível produzir sim alimentos em larga escala”, explica.
6 anos de acampamento
O feirante Claudio Bogo passou seis anos acampado para conseguir sua terra. “De acampamento em acampamento, de despejo em despejo, de inverno após inverno. Muitos anos de pelea de lona, embaixo de um barraco“, afirma o assentado de Santa Catarina. “Foi algo que marcou muito a vida da gente.”
Bogo conseguiu o assentamento em 1995. Hoje, ele é produtor com certificado orgânico. “A gente produz de tudo, alho, feijão, milho, arroz, todos os tipos de miudezas, temperos, o que imaginar a gente produz na terra”, comenta. “Produzimos alimento, produzimos a vida. Ao contrario do agronegócio que produz a morte”, diz.
Veja na página do evento a programação completa.
2ª Feira Nacional da Reforma Agrária
Quando: de 4 a 7 de maio
Onde: Parque da Água Branca (av. Francisco Matarazzo, 455)
Horário: Das 8 às 19h
Atividade gratuitas
Por Clara Roman, da Agência PT de Notícias