“Caros, Jaques Wagner evoluiu? Isso é urgentíssimo. Tipo agora ou nunca kkkkk. Acho que se tivermos coisa pra denúncia, vale até outra BA (busca e apreensão) até, por questão simbólica.”
“Sei lá, mas uma coletiva (do Lula) antes do segundo turno pode eleger o Haddad.”
A resposta padrão dos supostos remetentes dessas mensagens, com pequenas variações, tem sido a seguinte: não confirmo que emiti esta mensagem, mas se ficar comprovado que sim —e isso será feito sem minha colaboração—, não vejo nada de mais.
Até agora nenhum membro da força-tarefa da Lava Jato se dispôs a entregar seu celular para perícia. A única providência tomada até aqui pelas autoridades foi mandar investigar e intimidar o jornalista que recebeu a denúncia e a trouxe a público, cumprindo seu dever profissional.
O jornalismo oficial, por seu turno, naturaliza as mensagens. Trata-as como coisa corriqueira.
Como fez quando Moro grampeou ilegalmente uma presidente da República e vazou os áudios para impedir que Lula assumisse a Casa Civil, com o único objetivo de condená-lo sem provas, atuando como chefe da promotoria.
Sabia-se, desde então, que para além do desejável combate à corrupção, possível graças ao fortalecimento das instituições (Ministério Público e Polícia Federal) e endurecimento da legislação (delação premiada e organização criminosa), a Lava Jato transformara-se em um projeto de poder.
Membros da força-tarefa ficaram apreensivos quando Moro ensaiou assumir cargo no governo que ajudou a eleger. Numa das mensagens, em que se faz alusão ao suicídio de Getúlio (1954) e ao golpe militar (1964), nota-se a angústia de um promotor com o possível julgamento que a história faria do episódio: “Ele se perdeu (na vaidade) e pode levar a Lava Jato junto. Com essa adesão ao governo eleito toda operação fica com cara de República do Galeão, uma das primeiras erupções do moralismo redentorista na política brasileira e que plantou as sementes para o que veio dez anos depois”.
Moro aceitou assumir o Ministério da Justiça de Bolsonaro, para surpresa da imprensa internacional. Antes mesmo da posse, num primeiro ato falho, Moro prometeu um “Plano Real da segurança pública”.
Em fevereiro, sua cônjuge, pelo Instagram, foi direto ao ponto: “2022 já começou”, escreveu.
Há duas pedras no meio do caminho de Moro, Jair Bolsonaro e Glenn Greenwald.
Como notou Celso Rocha de Barros, a VazaJato interessa ao primeiro porque reduz Moro a um tamanho em que ainda faça bela figura sem tornar-se um rival.
Quanto ao segundo, apesar dos esforços para destruí-lo, cresce a cada nova reportagem.
Fernando Haddad é professor universitário, ex-ministro da Educação nos governos Lula e Dilma e ex-prefeito de São Paulo
*Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo