Em livro que será publicado no dia 19 de novembro, o “Diários da Presidência”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) admite saber desde o segundo ano de seu mandato, em 1996, que a Petrobras era um “escândalo” de irregularidades.
As revelações estão na edição desta terça-feira (20) do jornal “O Globo”, que teve acesso aos textos inéditos. FHC foi alertado sobre isso em 16 de outubro daquele ano, segundo o relato que faz no próprio livro com base na compilação de gravações pessoais.
Quem fez o alerta a FHC sobre a Petrobras, durante um almoço, foi o então candidato a controlador da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Benjamin Steinbruck.
“Eu queria ouvi-lo sobre a Petrobras. Ele me disse que a Petrobras é um escândalo. Quem manobra tudo e manda mesmo é o Orlando Galvão Filho, embora Joel Rennó tenha autoridade sobre Orlando”, relata FHC. Rennó era o presidente, nomeado por FHC; Galvão era presidente da subsidiária BR Distribuidora.
“O tucano (FHC) constata ser caso para intervenção na estatal, mas confidencia que não a faria”, afirma a reportagem. FHC passou a considerar a situação na Petrobras “uma coisa completamente descabida”, diz o Globo.
Embora a reportagem afirme que a necessidade de obter apoio parlamentar no Congresso, a pressão dos aliados pelos cargos, “o toma-lá-dá-cá” e projetos como reeleição e privatização o tenham preocupado. FHC não diz quais ou se tomou providências para evitar nomear os “ficha-suja”.
E, em relação à Petrobras, o jornal afirma que sua decisão foi outra: não refreou os desvios na estatal. “Acho que é preciso intervir na Petrobras. O problema é que não quero mexer antes da aprovação da lei de regulamentação do petróleo pelo Congresso”. Mas também não o fez após aprovar os projetos. Se o fez, nunca revelou.
Outro fato estranho que salta dos relatos reproduzidos pelo livro, é que o empresário que viria a ser dono da mineradora no ano seguinte, havia sido nomeado membro do conselho de administração da Vale, também ainda estatal.
Nessa condição, Steinbruck passou a ter acesso a todos dados confidenciais da empresa que viria a adquirir sete meses depois. O leilão da Vale foi realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro em maio de 1997.
A então segunda maior empresa brasileira e maior produtora de minério do mundo foi vendida por R$ 3,3 bilhões de reais em 1997. O portal Museu da Corrupção (Muco) lembra que o valor estimado da empresa na época do leilão era de R$ 92 bilhões de reais, “valor 28 vezes maior” do que o que foi pago.
Quem venceu o leilão foi o Consórcio Brasil, formado pela Companhia Siderúrgica Nacional (de Steinbruck), a Bradespar (do grupo Bradesco) e o fundo de investimentos Previ, que arrematou 41,73% das ações.
“Ladrões” – FHC também revela no livro que a discussão sobre a emenda da reeleição teve início seis meses após o início do seu governo.
Também esclarece que, ao negociar as nomeações do segundo e terceiro escalões de seu governo com PFL, PMDB e PTB identificou, inclusive com algumas provas, que nomes na lista de candidatos aos cargos eram de “ladrões”. Outra revelação é que as relações com o principal partido de apoio, o PMDB, sempre foi instável.
FHC não diz quais ou se tomou providências para evitar nomear os “ficha-suja”. Mas “a emenda da reeleição foi aprovada em 1997 sob suspeita de compra de votos”, rememora a reportagem.
“Entre os políticos que pediram nomeações, ele (FHC) cita José Sarney, Valdemar Costa Neto, Jader Barbalho, Wellington Moreira Franco e Michel Temer. ”Temer não quis comentar essa citação. FH não trata no diário do resultado desses pedidos”, diz o Globo.
Por Márcio de Morais, da Agência PT de Notícias
FHC admite saber que Petrobras era “escândalo” desde 1996
Mas declara que não quis intervir na estatal por que precisava de apoio no Congresso para aprovar a regulamentação do petróleo
Tânia Rêgo/Agência Brasil