Há quase dois anos, em 15 de novembro de 2014, José Genoino era condenado a quatro anos e oito meses em regime semiaberto. A ação penal 470 condenou, com Genoino, sua filha, Miruna Genoino, pedagoga, que agora quer contar sua história no livro “Felicidade Fechada”, segundo informou a Revista Fórum.
Agora Miruna lança uma campanha de financiamento coletivo para “recontar uma história” e mostrar como puderam vencer esse momento de grande injustiça. “Se não fosse especialmente pela fortaleza do meu marido, que estava bem do meu lado naquela hora, acho que eu teria caído para nunca mais levantar”, conta Miruna.
A pedagoga pretende escrever o livro usando como base as cartas enviadas ao pai. O título foi inspirado na filha Paula, que uma vez disse que “o Vôvi [José Genoino] é a nossa felicidade, e ele ficou lá preso, fechado, então a nossa felicidade estava fechada. Ainda bem que ele saiu”.
Leia a íntegra da entrevista concedida por Miruna para a Fórum:
Qual a sua expectativa com a produção e lançamento do livro?
Miruna – Minha principal expectativa é conseguir tornar realidade um projeto de recontar uma história do meu pai, da nossa família, de como pudemos vencer um momento de grande injustiça. O que eu mais gostaria seria mesmo conseguir que o livro saísse do plano da ideia e virasse uma realidade. Já faz tempo que o escrevi e só depois que conseguimos a parceria com a Editora Cosmos é que passei mesmo a acreditar que poderia conseguir um dia ver meu livro em minhas mãos.
Que mensagem (ou quais, se houver mais de uma) pretende passar com Felicidade Fechada?
Miruna – Minha maior mensagem é: vamos olhar para além das manchetes, vamos cavar até achar a verdade para além dos estereótipos, vamos recontar histórias que só estão sendo passadas por um único lado. E gostaria que ficasse bastante claro para todo mundo que eu jamais senti nem sentirei vergonha de ser filha de José Genoino. Que eu, minha mãe, meus irmãos, meu marido e meus filhos, meus cunhados, todos nós que somos o grande coração da Família Genoino, nunca nos escondemos e nunca sentimos vergonha de sermos Genoino.
Quando seu pai foi preso, em 2014, o que passou pela sua cabeça, logo que soube?
Miruna – De alguma forma não teve um logo que eu soube, porque foi um pouco a pouco que se aproximava e que sabíamos que estava prestes a cair nas nossas vidas. Mas bem, naquele dia 15 de novembro, quando veio a confirmação, eu só pensei que não ia aguentar, que eu não ia sobreviver. Eu só lembro de ver uma escuridão enorme, e se não fosse especialmente pela fortaleza do meu marido, que estava bem do meu lado naquela hora, acho que eu teria caído para nunca mais levantar.
Considera seu pai um preso político? Que implicação vê nisso para o contexto político atual?
Miruna – Hoje em dia ele não é mais um preso político, mas sim, ele foi um preso político duas vezes em sua vida, primeiro na época da ditadura militar e depois neste processo da ação penal 470. A implicação disso para o que vivemos hoje é por um lado direta, pois com ele reiniciou-se o período de criminalização da política, e por outro, desdobramentos, como tornar juízes figuras de destaque na mídia, algo a meu ver muito perigoso para uma sociedade democrática.
O livro pode ou pretende, de alguma maneira, discutir eventuais relações e até similaridades na mudança radical em sua vida familiar e o contexto de crise com a vida da população brasileira no geral?
Miruna – No posfácio que meu pai escreve ele fala um pouco desta visão maior de política. Mas meu livro não pretende ser um livro sobre política, ele é sobre família, ele é sobre escolhas, ele é sobre seguir em frente mesmo estando sozinhos.
Tem algo que acredita que seria importante comentar, algo que, por algum motivo, eu tenha deixado de perguntar? Fique à vontade para falar sobre!
Miruna – Gostaria de agradecer toda e qualquer forma de ajuda a esta nossa campanha: seja apenas vendo nosso vídeo, seja apenas contando para uma única pessoa sobre a campanha, seja compartilhando, seja contribuindo. Tem sido uma dura jornada recontar a história de José Genoino, mas no apoio de muita gente temos conseguido seguir em frente.
Com informações da Revista Fórum