O discurso raivoso e autoritário de Jair Bolsonaro (PSL) contra os privilégios na política durante a campanha eleitoral se dissiparam tão logo o então candidato da extrema direita assumiu a Presidência.
Mas nem mesmo o mais cético dos brasileiros poderia prever que o despreparado mandatário e sua equipe fossem capazes de separar de maneira tão aguda o discurso da prática – a ponto de a mamata, o toma lá da cá e o nepotismo serem suas marcas principais marcas registradas.
Como se não bastasse indicar o próprio filho para um cargo do qual não tem qualquer afinidade para assumir ( o de embaixador do país nos EUA), agora Bolsonaro terá de explicar porque cinco dos seus 22 ministros já gozarem de férias ou licença com apenas sete meses – isso mesmo, sete! – em seus cargos.
Um deles é Abraham Weintraub, Ministro da Educação, conhecido por atacar estudantes, professores e instituições públicas de ensino pela prática de”balbúrdia”, pelos cortes de orçamento na categoria que deveria proteger e também por passar vergonha na internet – suas publicações em redes sociais constrangem qualquer pessoa com um mínimo senso de responsabilidade.
Talvez cansado de lutar contra a pasta que comanda mesmo formado em outra área, Weintraub decidiu gozar de férias acumuladas do seu antigo emprego como professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – privilégio que só pertence aos que ainda possuem direitos trabalhistas que o governo pelo qual trabalha tanto combate.
No Pará, onde está com a família, ele trocou o traje formal por camiseta e chinelo, mas o que fala continua perturbador. Em poucos dias no estado, conseguiu arrumar confusão com manifestantes indígenas que, pacificamente, cobravam Weintraub pelo fato de o ministro nunca tê-los recebido em Brasília.
Não contente, foi às redes sociais para se defender do fato de estar em férias precoces ao dizer que sua ausência não gera custos para a administração pública.
Medo da opinião pública?
Ainda sem dar uma explicação convincente para as conversas particulares com procuradores do Ministério Público Federal, ministro da Justiça, Sergio Moro, decidiu fazer o que sabe de melhor quando o cerco se fecha: tirou licença, fugiu da pressão e saiu do país com a família por cinco dias.
Moro voltou ao trabalho no início desta semana, mas continua sem responder às muitas perguntas sobre sua atuação parcial e repleta de irregularidades – quando era juiz e agora como ministro. Ainda que resista no cargo e tenha o privilégio de escapar para o exterior quando convém, a saga para provar que não atropelou a lei em diversas ocasiões (como na condenação que levou Lula ao cárcere político) ainda está longe de acabar.
Além de Weintraub, de férias, e Moro, que acabara de voltar de licença, Tereza Cristina, ministra da Agricultura, está fora até a próxima sexta-feira (26) por motivos pessoais. Mesmo motivo que levou Marcelo Álvaro, ministro do Turismo, a pedir licença até o mesmo período. Álvaro vai ficar afastado de suas funções até o dia 29 de julho e é apontado como um dos envolvidos em esquema de candidatura laranja do PSL de Minas Gerais.
Por último, Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, foi aos Estados Unidos de licença para participar das celebrações de 50 anos da chegada do homem à lua. O ex-astronauta volta ao trabalho nesta quinta-feira (25) após quase duas semanas.
Da Redação da Agência PT de Notícias