Uma reportagem publicada no jornal “Folha de S.Paulo” neste domingo entrevistou 31 intelectuais sobre o impeachment. O resultado é que a maioria esmagadora se manifestou contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Dentre os 31 atores, juristas, escritores e políticos entrevistados, 22 se manifestaram desfavoráveis à manobra para depor a presidenta, e apenas 9 se posicionaram a favor. Veja algumas das respostas publicadas no jornal.
“A campanha pelo impeachment se transformou em instrumento de golpe”, escreveu Paulo Sérgio Pinheiro, que foi secretário de Estado de Direitos Humanos no governo de Fernando Henrique Cardoso e hoje trabalha em organismos multilaterais de direitos humanos, como a ONU. Segundo ele, os que pedem o impeachment, como não encontram fatos que o justifiquem, buscam interpretações jurídicas bizarras e distorcidas para chegar ao poder.
Para o escritor Fernando Morais, o impeachment é golpe.
“A presidente Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade. E é golpe. O Brasil só se fortalecerá se o golpe fracassar. Se triunfar, teremos um coquetel explosivo: governo ilegítimo mais política econômica recessiva”, afirmou ele.
O cineasta Walter Salles também se posicionou contra o golpe. Para o cineasta, o processo do impeachment não tem legitimidade, até por ser conduzido por deputados como Eduardo Cunha, alvo de processo de cassação na Câmara dos Deputados e de processo penal no STF (Supremo Tribunal Federal). Quando questionado se haveria algum outro cenário possível para a saída da presidenta Dilma, Salles apenas respondeu que aguarda as eleições livres e gerais em 2018.
“Espero que tenhamos eleições livres e gerais em 2018. E que ideias, e não mais fórmulas criadas pelo marketing politico, possam ser debatidas. Seria uma bem-vinda ressignificação da política”, afirmou.
Já a psicanalista Maria Rita Kehl afirmou que o processo de impeachment é “a psicopatia tomando conta da política”. A psicanalista também afirmou que “uma enorme parcela dos brasileiros está alerta, e mobilizada, para que a crise não dê ensejo a ações golpistas”.
Outro que se posicionou contra o impeachment foi o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. “Quem viveu 21 de 73 anos sob o guante da ditadura desenvolveu anticorpos que identificam rapidamente os vírus do arbítrio. Dilma recebeu o mandato pelo sufrágio universal”, afirmou ele.
Laura de Mello e Souza, historiadora, e uma das poucas mulheres entrevistadas pelo jornal — apesar da grande quantidade de brasileiras intelectuais — afirmou que o impeachment de Dilma não possui argumentos que o sustentem. Além disso, para ela, Dilma também é vítima do machismo.
“Como mulher, não posso deixar de registrar uma convicção: essa crise seria diferente se a Presidência, no momento, fosse ocupada por um homem. Boa parte da oposição raivosa que a presidente, eleita pelo voto popular em dois mandatos, vem sofrendo é fruto dos preconceitos de uma sociedade profundamente machista”, afirmou ela.
Da Redação da Agência PT