Assim como nas eleições de 2002, 2006 e 2010, a revista “Veja”, da Editora Abril, tentou, outra vez, disparar uma “bala de prata” às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais. Na quinta-feira (23), após pesquisas do Ibope e Datafolha apontarem a presidenta e candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, à frente do candidato do PSDB, Aécio Neves, a edição da revista foi antecipada com uma denúncia “bombástica”.
Lançada na madrugada desta sexta-feira (24) e ostensivamente anunciada desde a noite anterior, a reportagem de capa da “Veja” acusa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma de terem tido conhecimento sobre esquemas de corrupção na Petrobras. A tentativa de enganar o eleitor foi desmentida, de imediato, por Antonio Figueiredo Basto, advogado do suposto autor da denúncia, o doleiro Alberto Youssef.
O expediente de atacar Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva e o Partido dos Trabalhadores em reportagens de capa da “Veja” foi também utilizado em outras 21 edições da revista, somente neste ano. Conforme observado anteriormente, em inúmeras outras reportagens desde 2002, a denúncia divulgada nesta sexta-feira (24) não passou, outra vez, de um tiro de festim.
A presidenta Dilma classificou a denúncia da semanal da Abril como “ato de terrorismo” e relembrou a campanha sistemática que a revista move contra o PT. Para ela, a “revista excedeu todos os limites da decência e da falta de ética”.
“Uma atitude que envergonha a imprensa e agride a nossa tradição democrática. Sem apresentar nenhuma prova concreta e, mais uma vez, baseando-se em supostas declarações de pessoas do submundo do crime”, declarou Dilma, durante programa eleitoral exibido na tevê, na tarde de sexta.
Truque manjado – As ofensivas da “Veja” contra o ex-presidente Lula começaram na edição de 22 de maio de 2002. A reportagem de capa questionava os motivos pelos quais Lula, então candidato à Presidência, assustava o mercado. O mesmo terrorismo econômico que tem sido utilizado pela revista, sem tréguas, contra a candidatura de Dilma à reeleição neste ano.
Antes mesmo da vitória de Lula nas urnas, a publicação da Editora Abril questionava se o PT estaria “preparado” para a Presidência da República e começava a espalhar mentiras sobre o partido. Desde então, nada mudou. Em agosto de 2005, durante a crise do chamado “mensalão”, Veja inventou a “a luta de Lula contra o impeachment”. A mesma tática é utilizada, nas eleições deste ano contra Dilma, mas pela pena do colunista da revista, Reinaldo Azevedo.
Em 2006, a revista utilizou, novamente, reportagens de capa contra a candidatura de Lula. A revista atacou a imagem do filho do ex-presidente, tampou a vista de Lula com a faixa presidencial e até mesmo deu um “pé na bunda” do petista, com a chamada “Um ataque à Petrobras. Essa doeu”.
Tentaram, quatro dias antes da reeleição do ex-presidente, impugnar a candidatura de Lula ao ligá-lo a um falso dossiê nas eleições paulistas. Com Dilma, a história se repetiu em 2010 e em 2014, como o questionamento sobre a liberdade de imprensa e a preferência da editora por Aécio Neves, tema de capa há quatro anos, reavivado em 2014.
No entanto, nenhuma das denúncias foi capaz de reverter o resultado nas urnas, que elegeram Lula, em 2002 e 2006, e Dilma, em 2010.
Justiça – Nas eleições de 2014, a campanha da presidenta Dilma Rousseff ganhou duas ações contra a revista Veja no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 25 de setembro, a Corte concedeu direito de resposta ao PT devido a uma “ofensa infundada”. A reportagem dizia que o partido havia pago para evitar que fosse divulgado novo escândalo relativo à Petrobras.
O direito de resposta, no entanto, foi derrubado, dias depois, pelo ministro Gilmar Mendes, em uma decisão monocrática.
Além disso, após o primeiro turno das eleições, a Veja começou a fazer propaganda a favor de Aécio Neves no rádio. Na peça publicitária, a revista afirmava que Aécio tiraria a Petrobras das mãos de uma “quadrilha”. A pedido da coligação de Dilma, o TSE concedeu liminar para retirar do ar a propaganda pró-Aécio.
“A propaganda da Editora Abril, no trecho Aécio Neves (…) promete tirar a Petrobrás das mãos de uma quadrilha, incorre em propalar, de forma clara, discurso empreendido pelo candidato Aécio Neves sobre tema em voga e polêmico, que vem sendo o cerne das discussões entre os dois candidatos na disputa pelo cargo de presidente da República, tudo isso sob forma de divulgação da nova edição de sua revista”, explicou o ministro e relator do caso Admar Gonzaga.
O setor jurídico da campanha de Dilma relembrou, na ação, que a revista utilizou o mesmo expediente nas eleições de 2006, mas a favor do então candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB). Naquele ano, o tribunal também determinou a retirada da propaganda do ar.
Vale lembrar que um dos responsáveis pela comunicação da campanha de Aécio Neves é o jornalista Otávio Cabral, editor-executivo da Veja.
Por Mariana Zoccoli, da Agência PT de Notícias