Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), terá uma intensa semana de trabalhos pela frente, com a realização do 12° Congresso Nacional da instituição (Concut) em São Paulo, entre terça (13) e sexta-feira (16). Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e José Mujica (do Uruguai) participarão da cerimônia de abertura do congresso.
Ao portal da central na internet, o presidente da central declarou que, diante da conjuntura de “chantagem” a presidenta Dilma Rousseff e da “pressão pelo retrocesso” de setores conservadores, o Concut “precisa ultrapassar os debates internos e enviar uma mensagem clara para toda a sociedade”.
Essa intenção será concretizada, segundo ele, com a divulgação de uma proposta de política econômica para o país, na qual as reformas agrária, tributária, política, educacional e midiática (comunicações) estão contempladas.
Reformas – A CUT também quer discutir qual modelo de Estado é bom para o país. “Esse que está aí – patrimonialista, machista, sexista, racista – não serve”. Para ele, o modelo em vigor defende os interesses dos ricos e poderosos, em que a riqueza é distribuída de “maneira hiperdesigual”.
Por isso, ele defende reformas básicas. “Queremos discutir a reforma tributária que tributa a riqueza e a renda e não o trabalho; a política, para que você tenha condição de igualdade na participação e igualdade no Congresso Nacional”.
Freitas enfatiza que o fim do financiamento empresarial é insuficiente, pois o que se quer é a democratização de todo o sistema de representação política no Brasil, “que é concentrado na mão dos empresários”.
Para ele, reforma agrária tem que ser inserida na política econômica. “A extensão de grandes latifúndios para produção de commodities não é o que coloca comida na mesa dos brasileiros”, diz, embora reconhecendo no agronegócio “um ativo importante para o Brasil”.
“O país deveria ser mesmo o maior produtor de alimentos do mundo, com a capacidade que tem. Por isso achamos que o modelo agrário tem que ser em propriedades menores, com desenvolvimento do cooperativismo”, considera.
Judiciário – Vagner também propõe uma reforma do Judiciário que ponha fim à politização no poder. “Ações sem provas, de maneira arbitrária, alguns juízes entendendo que precisam prender primeiro para depois averiguar se é culpado”. Isso, segundo ele, não configura o livre e amplo direito de defesa.
“Hoje o poder Judiciário não faz Justiça, faz política, dependendo da bandeira partidária, da filosofia política, não por conta do aprofundamento das investigações. Essa questão atenta diretamente contra movimento social”, reclama.
Educação e mídia – “Não acreditamos que tenhamos revolução social sem a educação com ênfase no pensamento e não no adestramento para a produção”, reflete Freitas. No caso das comunicações, a reforma precisa pôr fim ao que Freitas chama de “império da desinformação”.
Ele entende que chamado “quarto poder” virou o primeiro instrumento para a consolidação das forças conservadoras, que não querem “o debate sobre a sociedade brasileira e suas várias matizes”. Segundo ele, quem detém os meios de comunicação promove apenas a massificação da informação
“As revistas de circulação nacional na semana passada ignoraram que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é acusado de ter contas na Suíça, que poderiam fazer parte de um esquema de corrupção, segundo a PGR (Procuradoria Geral da República)”, admira-se.
“Mas as mesmas revistas colocam o presidente Lula, a presidenta Dilma, outros membros do PT e da CUT em capas seguidamente, sem nenhuma acusação comprovada. O que queríamos é liberdade de imprensa para ter igualdade de informação. Olha o que temos hoje!”
Momento difícil – Freitas acusa os que perderam as eleições 2014 de viverem a realização de um terceiro turno interminável, que gera crise política e impede o desenvolvimento econômico.
“Nos últimos dias, vem o TCU e faz um julgamento da prestação de contas da presidenta utilizando argumentos para averiguação das contas que não foram usados em relação a nenhum outro presidente e nenhum outro governador. O governo tem mais pedaladas do que o que o Alckmin faz em relação ao metrô de São Paulo?”, questiona.
Ele lembra também que a tese de que houve propina na eleição da presidenta Dilma é parcial, já que os mesmos recursos advindos de empresas ligadas à Petrobras ou da Petrobras, também financiaram o adversário, Aécio Neves. “Mas, no caso dele, são doações consideradas legais”, admira-se.
Segundo ele, a CUT exige apuração e punição de todos os fatos e culpados. “Mas o que está havendo no Brasil, por conta dessa operação Lava-Jato, é a política da disputa eleitoral personificada na continuidade de um terceiro turno, de maneira descabida”.
“É uma tragédia ainda maior quando você vê quebrar toda uma cadeia produtiva ligada à Petrobras. Querem acabar com todo o setor para privatizar a empresa. Não tenho dúvida nenhuma que por trás dessa questão tem uma visão entreguista, personificada na postura do senador José Serra, lobista das petrolíferas internacionais”, denuncia.
Freitas afirma que é contra a cassação da presidenta Dilma. “Se tivéssemos evidências, mais que evidências, provas de corrupção envolvendo a presidenta, malversação do recurso público, independente do fato de a termos defendido, seríamos os primeiros a solicitar sua cassação”.
Para ele, “quem está julgando a presidenta não tem condições políticas e morais” para fazê-lo, e, o que se propõe com a tentativa de impeachment, “é a desconstrução da esquerda brasileira, dos movimentos sociais e sindicais
“Não é à toa que no bojo da discussão do impeachment da Dilma imputam também responsabilidade para o Lula. É uma disputa política que quer criminalizar a presidenta, o ex-presidente a as organizações sociais de esquerda”.
Mesmo porque, de acordo com o presidente da CUT, “uma cassação de Dilma não trará para os trabalhadores nenhuma proposta melhor, mais organizada e mais desenvolvida; pelo contrário, vai ter retrocesso em direção àqueles que não têm diálogo social”.
Paridade – O presidente da CUT enfatiza o caráter inovador do 12° Concut, por dar à central a condição de ser a primeira central no mundo a adotar a paridade de gênero.
“É um congresso que vai marcar também um avanço importantíssimo: a efetivação da paridade, a construção de uma chapa com paridade entre (22) homens e (22) mulheres”, acentua.
“Se você tem uma maioria feminina na mão de obra e isso não traz condições iguais de trabalho, obviamente você está aumentando a exploração capitalista. O que queremos discutir na CUT não é uma igualdade política, forjada, entre dirigentes sindicais, mas enfatizar que temos de aumentar a organização e participação de trabalhadoras mulheres”.
Por Márcio de Morais, da Agência PT de Notícias