Diante de mais uma proposta absurda de Ernesto Araújo, futuro ministro das Relações Exteriores de Jair Bolsonaro, o mundo volta novamente seus olhos para o Brasil com preocupação e medo. Com apreço descarado pelo autoritarismo e ideias conservadoras, o chanceler voltou a colocar o país nas manchetes internacionais ao prometer deixar o Pacto Global de Migrações da ONU, assinado nesta segunda (10), assim que assumir a pasta – o que prejudicaria mais de 3 milhões de brasileiros que vivem no exterior.
Com postura oposta a de ministros como Celso Amorim, um dos responsáveis por fazer do Brasil uma das maiores vitrines diplomáticas durante o governo Lula, Araújo tem deixado claro sua aversão pelo diálogo ao anunciar medidas radicais que contrariam o que se espera de um chanceler. Sua mais recente atrocidade, por sinal, causou repúdio imediato em agências da ONU e entidades internacionais, que criticaram publicamente a decisão do futuro governo radical de recusar o Pacto.
Para se ter ideia de quão grave é o anúncio, até mesmo o atual da pasta, o tucano Aloysio Nunes, reprovou a declaração do colega. Mas não só. Para quem viveu de perto os anos de ouro da política internacional brasileira, a decisão está longe de ser técnica e soa muito mais como ameaça. “A escolha do ministro das Relações Exteriores é a radiografia de um governo totalmente despreparado para governar um país da dimensão do Brasil”, resume Rogério Sotilli, ex-secretário especial de Direitos Humanos dos governos de Lula e Dilma.
Com trabalho reconhecido na luta pelo bem estar dos imigrantes em terras brasileiras, Sotilli lamenta que o futuro ministro use o pretexto de “proteger a soberania nacional” para justificar a saída do acordo internacional: “Em termos práticos, o pacto foi criado justamente para que as nações dialoguem e criem mecanismos para que os fluxos migratórios ocorram da melhor maneira possível. Eles sempre foram inevitáveis ao longo da história e impedi-los só aumentará o problema”.
A questão mais grave, no entanto, recai sobre os brasileiros que vivem fora do país. “Sair do pacto deixará desprotegidos milhões de brasileiros que vivem em várias partes do mundo e, para piorar, aumentará o isolamento cada vez maior do país no mundo. Com Lula e Dilma, tínhamos o respeito da comunidade internacional. Agora, o que vemos é uma série de repercussões negativas antes mesmo de o governo de Jair Bolsonaro começar”, lamenta.
Entenda o Pacto da ONU
O Pacto Mundial para Migração foi assinado por 164 países na segunda-feira (10) em Marraquexe, no Marrocos, em conferência intergovernamental. O acordo organizado pelas ONU é o resultado de meses de pesquisa, trabalho de campo e contextualização histórica. Seu texto final foi aprovado em em julho.
No documento, a entidade cita uma série de medidas para melhor gerenciar a “migração internacional, enfrentar seus desafios e fortalecer os direitos dos migrantes, contribuindo para o desenvolvimento sustentável”.
Por Henrique Nunes da Agência PT de Notícias