A política do encarceramento, do ódio e da vingança pode até ter nos imprimido uma derrota dolorosa, mas isso só nos dará mais força. A aprovação em primeiro turno da PEC 171/93 na Câmara dos Deputados não tem força para apagar uma linda mobilização da juventude brasileira contra o retrocesso nos seus direitos.
Uma juventude que renovou suas linguagens, estéticas e estratégias: o vôo da pipa, ícone da campanha “Amanhecer Contra a Redução”, espalhou o desejo por mais liberdades e direitos de forma leve e encantadora por todo o país. Traduziu a necessidade de novos métodos de mobilização, que dialoguem com as redes, mas não deixem de ocupar ruas, praças e conversar com as pessoas.
O acampamento em frente ao Congresso Nacional nos dias 29 e 30 de junho, onde pude participar de rodas de conversa, entrevistas e diversas ações diretas, nos colocou a a força que existe numa unificação de forças progressistas.
Durante dois dias, feministas, umbandistas, artistas, católicos, anarquistas, estudantes, comunistas, evangélicos, jovens de todos os estilos e ideologias, dividiram barracas e lanches, tomaram sol e passaram frio com um mesmo objetivo: barrar a redução da maioridade penal.
Conseguiram. Não fossem as artimanhas regimentais utilizadas pela Câmara, teríamos saído do gramado do Congresso Nacional vitoriosos e em busca de outras pautas urgentes, como o fim dos autos de resistência e demais políticas públicas que afirmem direitos e erradiquem imediatamente o extermínio da juventude negra.
A luta continua. Continua no segundo turno da votação na Câmara, continua no Senado, mas continua, principalmente, nas ruas, praças, bairros, comunidades, escolas, universidades. Temos de seguir firmes: duros na luta, mas sem perder a ternura. Só o amor vence o ódio: de coração aberto, vamos barrar a redução da maioridade penal.
Gabriel Medina é secretário Nacional de Juventude da Secretaria-Geral da Presidência da República