Partido dos Trabalhadores

Gaúcha convida Lula para formatura e recebe telefonema de ex-presidente

Graças a Enem, ProUni e Fies, Rita Garrido, de uma família que nunca frequentou o ensino superior, formou-se em jornalismo. Ex-presidente ligou para dar os parabéns

Acervo pessoal/Facebook

Como muitos jovens de escolas públicas em meados dos anos 2000, Rita Garrido nem sonhava em continuar os estudos após terminar o ensino médio. Para ela, a educação superior era algo exclusivo aos mais ricos. Hoje, uma década à frente, acaba de se formar em jornalismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS).

O seu esforço pessoal, sabe ela, foi fundamental. Mas ela agradece a uma outra pessoa pelo feito: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os seus programas de inclusão social e educacional.

Moradora de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre (RS), Rita, 26 anos, rompeu uma barreira familiar de nunca ter estado em um banco universitário. O seu ineditismo se deu graças ao Enem, ao ProUni e ao Fies, todos programas criados pelo governo Lula.

Colação de grau da jornalista

“Eu só tive vontade de fazer faculdade quando fiquei sabendo dos programas de inclusão. Foi aí que percebi que eu poderia continuar a ser uma estudante. No começo eu queria fazer cinema, mas meus pais acharam que eu não teria mercado de trabalho. Então decidi estudar jornalismo”, lembra.

Ela prestou Enem e conseguiu uma bolsa de 50% do Prouni. Mesmo pagando metade do curso, a universidade continuava muito cara e ela precisou conciliar os estudos com dois trabalhos para pagar a mensalidade. Na reta final da graduação, exausta da rotina pesada, solicitou o auxílio do Fies, até se formar em dezembro de 2016.

Ligação de Lula

Para o seu trabalho de conclusão de curso (TCC), Rita analisou e fez um contraponto entre as coberturas jornalísticas do jornal “Zero Hora” (da RBS, afiliada das Organizações Globo) e do site da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS).

“Fiz esse contraponto não para dizer quem estava certo ou errado, mas para ver como o mesmo acontecimento pode ser noticiado de maneira distinta por veículos que trabalham no mesmo um espaço geográfico: um da grande mídia, outro sindical. Foi uma busca pelo contraponto.”

Com tudo pronto, Rita resolveu escrever uma carta para o presidente Lula e convidá-lo à sua festa de formatura, a grande celebração da sua epopeia educacional dos últimos anos.

“Quando falei do tema do TCC, alguns colegas começaram a brincar: ‘Acho que você tinha que chamar o Lula, hein?!’ Foi aí que comecei a levar a ideia a sério, afinal iria escrever sobre ele e só fiz graduação por suas políticas de inclusão.”

Na verdade, confessa ela, a missiva foi enviada de forma despretensiosa e esperava, como resposta, no máximo um e-mail.

A resposta: Lula ligou diretamente para Rita, se desculpou por não poder ir e teve uma conversa de 10 minutos com a aluna. O ex-presidente afirmou também que ficou muito emocionado com a carta e com a garra da estudante. “Estou te ligando para te dar os parabéns. Quando for ao Sul, vou te ligar. Teria um imenso prazer de te dar um abraço e um beijo.”

Estou te ligando para te dar os parabéns. Quando for ao Sul, vou te ligar. Teria um imenso prazer de te dar um abraço e um beijo.”

“Quando recebi a ligação foi demais! Mostrou uma consideração muito grande dele. Ficamos uns 10 minutos conversando de maneira aprofundada. Foi muito gratificante”, conta a jornalista.

Estudantes na luta

Ela vê uma diferença muito grande entre os estudantes de escolas públicas de seu tempo e os de hoje. Ela credita a transformação, em boa parte, à inclusão social realizada pelos governos petistas.

“Há 10 anos, quando fazia o ensino médio, eu era totalmente alienada e meus colegas também. Hoje não enxergo mais o pessoal do ensino médio assim. Esses anos de programas sociais de inclusão serviram muito para a criação do senso crítico nos jovens.”

Se ela estivesse no ensino médio hoje, garante, estaria nas ruas contra os retrocessos promovidos pelo presidente golpista Michel Temer.

“A gurizada está nas ruas, está ocupando os colégios, militando e se informando muito sobre política. É algo lindo. Se eu estivesse com 17 anos também estaria militando contra o Temer.”

Ela, na verdade, faz isso, mas de outra forma. Hoje ela trabalha na assessoria de imprensa do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita. E tem uma certeza: quer sempre trabalhar com comunicação popular, seja sindical ou por novos meios.

Rita também pensa na possibilidade de enveredar pela pesquisa acadêmica. Mas não agora. “Agora eu quero trabalhar. Me formei e quero trabalhar.”

Revolução na educação

Com a expansão e interiorização das universidades federais, a entrada dos jovens pobres no ensino superior e bolsas de estudo para as melhores universidades do mundo, a universidade no Brasil deixou de ser sinônimo de privilégio e passou a representar acesso democrático ao conhecimento.

Prioridade máxima dos governos Lula e Dilma Rousseff, a educação brasileira deu um salto de qualidade e começou a construir um caminho de oportunidades e de futuro para todos. O orçamento cresceu fortemente: de R$ 18 bilhões em 2002 para R$ 115,7 bilhões em 2014. O aumento real foi de 218%.

Primeiro brasileiro sem diploma universitário a chegar à Presidência, Lula promoveu uma revolução no ensino superior. Construiu 14 novas universidades federais. Espalhou extensões universitárias pelo interior do país. Implantou o Reuni, ampliando a oferta de cursos e vagas nas universidades federais que já existiam.

Lula também criou o ProUni, que garante o acesso de estudantes carentes às faculdades privadas. Dilma continuou a obra e, em 10 anos, o Brasil dobrou o número de matrículas em instituições de educação superior: de 3,5 milhões em 2002 para mais de 7,1 milhões em 2014.

Além do ProUni, os jovens de baixa renda contam com outra alternativa para cursar uma instituição de ensino superior privada: o Fies. A partir de 2010, o Fies mudou para melhor, com redução dos juros para 3,4% ao ano, aumento do prazo de carência para 18 meses (contados a partir da conclusão do curso) e a ampliação do prazo de quitação.

Em três anos, o número de alunos com apoio do Fies aumentou mais de 10 vezes e, em 2013, chegou a 1,6 milhão – 83% deles vindos de famílias com renda menor que um salário mínimo e meio por pessoa. No total, cerca de 40% dos estudantes do ensino superior privado contam com o apoio do governo federal, via ProUni ou Fies.

O presidente Lula transformou, ainda, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – até então instrumento de avaliação da qualidade do ensino – no passaporte de entrada dos jovens no ensino superior por meio do Sisu.

Alternativa ao vestibular, o exame democratizou o acesso ao ensino superior: 95% das universidades federais utilizam suas notas como mecanismo de seleção. O exame é critério também para ingresso no ProUni, acesso ao Fies e ao Ciência sem Fronteiras. Em 2016, 9,2 milhões de jovens inscreveram-se no Enem.

Para conhecer todos os avanços na educação no Brasil dos últimos 13 anos, acesse o site do Brasil da Mudança.

Leia a íntegra da carta de Rita ao ex-presidente:

Canoas, 28 de dezembro de 2016

Ao ex-presidente e companheiro Luiz Inácio Lula da Silva,

Me chamo Rita Correa Garrido, tenho 26 anos e estou a alguns dias de uma grande conquista. Em 2010, ingressei na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, a Unisinos, em São Leopoldo-RS, para estudar jornalismo. Até poucos anos antes, sequer pensava em cursar o ensino superior, assim como milhares de estudantes Brasil afora.

Filha de comerciantes, estudante de escolas públicas durante todo o ensino fundamental e médio, resolvi apostar no ProUni, que logo me propiciou uma bolsa de 50%. Peguei!

Durante seis anos, estudei em uma universidade particular tida como referência no Sul do país. Tive mudanças significativas na minha percepção de sociedade, principalmente na maneira como me incluo nela, e com isso pude construir uma visão mais ampla, crítica e humana em relação ao mundo. Muito além de uma profissão, cresci como ser humano e me fortaleci como cidadã.

Também nestes anos, enfrentei jornadas exaustivas de trabalho, preconceito e exclusão. As jornadas, resolvi mais uma vez com os programas de inclusão. Solicitei o Fies e financiei os 50% pagos do curso, quase já no final da graduação. Ao preconceito e à exclusão, lutei, junto com inúmeros colegas, contra piadas do nível “bolsista também não ganha estojo com lápis, apontador e borracha” e gritos de “CALA BOCA, PROUNI”, durante uma ampla mobilização, em frente ao DCE da universidade, contra o golpe dado na presidenta eleita Dilma Rousseff.

Mesmo diante dos percalços, nunca omiti minha ideologia e meus posicionamentos políticos, que só se reforçaram com minha entrada no setor de comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita, em maio de 2014. Aqui, mais uma vez, tive a oportunidade de ampliar visões e me aproximar de algo que julgo essencial no jornalismo: a comunicação popular voltada à classe trabalhadora.

Frente à condução coercitiva [do ex-presidente], tentei levantar um grão de areia de clareza ao abordar o acontecimento em minha pesquisa de conclusão de curso, intitulada “A Construção de Sentidos Sobre a Condução Coercitiva do Ex-Presidente Lula: Análise das Notícias em CUT-RS e ‘Zero Hora'”. Contrariando minhas expectativas, o trabalho foi muito bem recebido e avaliado pela banca de professores, rendendo-me o grau de distinção (equivalente a notas entre 9 e 10), com direito a publicação na biblioteca da universidade.

A pesquisa segue, para que vejas o esforço feito dentro da academia para esclarecer fatos e lutar contra o monopólio da informação e a falta de democratização dos meios de comunicação.

Também, e sendo este o principal motivo do meu contato, encaminho formalmente o convite da Cerimônia de Formatura, a ser realizada no dia 20 de janeiro de 2017, no auditório Pe. Werner da Unisinos São Leopoldo, a partir das 21h. Junto com os demais colegas do jornalismo, em grande parte bolsistas do ProUni e do Fies, comemorarei a conquista citada no início desta carta. A tua presença será uma honra para todos!

No sábado, dia 21 de janeiro, comemorarei de forma simples e informal com alguns poucos familiares, amigos e companheiros do sindicato a formatura. O encontro será na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita, a partir das 21h. Igualmente será uma honra tua presença nesta celebração.

Por fim, ainda incerta da presença, mas confiante no convite, agradeço-te desde já à oportunidade dada a milhões de estudantes em todo o país. O término de uma graduação não significa meramente a conquista de um canudo, mas também a conquista de dignidade, igualdade e oportunidades. Ainda que longe de atingir uma sociedade justa e igual para todos e todas, se faz necessário agradecer e reconhecer àqueles que, de alguma forma, acreditaram e investiram em um país melhor a partir da educação! Seguimos, mais do que nunca, nesta luta! Muito obrigada!

Atenciosamente,
Rita Garrido

Por Bruno Hoffmann, para a Agência PT de Notícias