do Jornal GGN – Desde que a investigação de seu envolvimento com o esquema de corrupção da Petrobras teve início, a Odebrecht passou a ser alvo das buscas de outros países onde a empresa tem capital. Nos Estados Unidos, a empreiteira chegou a ser monitorada pela diplomacia, em 2007, 2008 e 2009, quando foram apontadas suspeitas de irregularidades em obras da empreiteira no exterior.
A informação foi divulgada pelo Estado de S. Paulo. De quatro casos usados de relatórios do WikiLeaks como exemplos, em apenas um aparece que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi importante para fechar acordo entre uma empresa angolana e a Odebrecht. Em outro, Lula é mencionado por ter apoiado a campanha de reeleição de Hugo Chavez, em evento de inauguração de obra da companhia na Venezuela. Sem alertar para as especificações, o lead da reportagem relaciona diretamente os possíveis esquemas de corrupção da companhia com uma suposta investida de Lula nas irregularidades.
“Telegramas confidenciais do Departamento de Estado norte-americano revelados pelo grupo WikiLeaks relatam ações da empresa brasileira e suas relações com governantes estrangeiros. Lula é citado em iniciativas para defender os interesses da Odebrecht no exterior”, publica o jornal.
Ao abrir o documento intitulado “A Productive Visit By Lula”, que em português significa “Uma visita produtiva de Lula”, é possível constatar o real teor das informações referentes à Angola.
Trata-se de um relatório da visita do ex-presidente ao país, nos dias 17 e 18 de outubro de 2007. O encontro resultou em sete acordos de assistência técnica, a duplicação para US$ 2,3 bilhões da linha de crédito do Brasil para a Angola e o anúncio de um acordo de negociação para construir uma usina de etanol com a produção de cana. “O ex-presidente aproveitou a visita para agradecer a Angola pelo apoio contínuo nos esforços do Brasil para obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU”, publicou o resumo do documento do WikiLeaks.
“Na frente da diplomacia, os dois países acordaram sobre discussões regulares e formais de questões bilaterais e reforço da cooperação entre as duas academias diplomáticas”, completa o documento.
No trecho do artigo que cita “biocombustíveis e geração alternativa” está o que o Estadão considerou uma participação de Lula nas irregularidades da Odebrecht. “Apesar de não ser um acordo de governo-governo, a visita de [Lula] Silva ajudou a concluir um acordo entre a brasileira gigante da construção Odebrecht, a estatal petrolífera angolana Sonangal, e Damer, uma empresa angolana até então desconhecida, a construir uma usina de biocombustível na província de Malange. Os planos incluem a construção de uma usina capaz de produzir não apenas etanol para exportação, mas a geração de 140 megawatts de eletricidade por ano através da queima do bagaço. O bagaço e o etanol serão produzidos a partir da cana, uma nova cultura para a região. O projeto deverá gerar 2.000 novos empregos”, é a citação.
O próprio jornal admite: “o papel de Lula não é colocado em questão” e afirma que a suspeita levantada pela diplomacia dos Estados Unidos refere-se, estritamente, à “parceria fechada pela Odebrecht”, que resultou em 40% de participação para a construtora brasileira, 20% para a Sonangol e os restantes 40% para a Damer. Nada mais é levantado.
Por fim, no comentário adicionado pelo redator do relatório, Francisco Fernandez, aponta-se os benefícios para os dois países das relações comerciais entre Brasil e Angola. “A Angola vê o Brasil como um parceiro natural, e muitos dos principais homens de negócios de Angola, incluindo membros do clã do Santos [presidente angolano], supostamente têm interesses comerciais substanciais no Brasil. As grandes construtoras brasileiras também estão se beneficiado do crescimento da construção na Angola. Devido à sua história compartilhada e a linguagem comum, a vontade desses laços comerciais só tendem a se aprofundar. Os brasileiros também enxergam investimento na infra-estrutura angolana, especialmente para vinculá-la para o resto da SADC, como um sábio investimento e uma entrada potencial para eles e para o resto do mercado da África do Sul”, diz o comentário.
O segundo documento em que Lula é citado é o apoio do ex-presidente à candidatura à reeleição de Hugo Chavez. O que teria “condenado” o ex-presidente, segundo o tratamento do jornal, é que a campanha pública ocorreu em evento de inauguração de uma ponte, construída pela Odebrecht e financiada pelo BNDES, na Venezuela.
No comentário, a embaixada americana comenta sobre as relações comerciais entre os dois países e restringe-se a dizer que o apoio de Lula a Chavez “poderia parecer um passo diplomático errado, mas realmente foi simplesmente um bom negócio”.
O que é questionado como suspeito no relatório é o valor da referida obra, que teria um custo 40% acima do orçamento. Também são apontadas irregularidades nos contratos, de que construções da Odebrecht no país latino ocorreram sem licitação.
“A relação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a empreiteira Odebrecht e o governo da Venezuela também foi alvo de um exame por parte da diplomacia norte-americana”, assim o Estadão tratou o caso à suposta interferência do ex-presidente nas irregularidades. Para estender o ato ilegal ao legal, o jornal integra as duas ações – a negociação diplomática de Lula em obras de empresas brasileiras no exterior, com o suposto superfaturamento da Odebrecht nas construções -, como se uma fosse dependente da outra.
Do Jornal GGN