A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), concedeu entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, da RedeTV, nesta quinta-feira (16). A parlamentar tratou de temas como o desastre climático no Rio Grande do Sul, a presidência do Brasil no G20, a atual política de juros do Banco Central (BC), a gestão da Petrobras e realizou um balanço de seu mandato como presidenta do partido, cargo que ocupa desde julho de 2017.
Em resposta às mudanças climáticas, Gleisi defendeu mais investimentos na proteção do meio ambiente e nas prevenções contra tragédias naturais. Ela criticou o afrouxamento da legislação ambiental pelos governos anteriores. “Até a Dilma sair, em 2016, nós tivemos os índices mais baixos de desmatamento na Amazônia”, recordou. “O que aconteceu, de lá para cá, foi deixar passar a boiada, abriu a porteira”, completou, antes de ponderar que o Rio Grande do Sul se tornou um dos primeiros estados a flexibilizar as leis ambientais.
Na avaliação da deputada federal, a tragédia humanitária no Rio Grande do Sul – arrasado pelas piores enchentes da história – pode ensejar nova abordagem, por parte da população do país, em relação à relevância da questão climática. “Talvez pela comoção que foi criada com esse desastre, a gente possa ter uma pressão da sociedade que faça a sensibilização do Congresso. E mesmo esse pessoal conservador, os negacionistas, acabem sendo pressionados para isso”, defendeu.
Sobre a atual política de juros praticada pelo BC, a presidenta do PT teceu duras críticas e afirmou ser injustificável uma economia “parruda”, como a brasileira, ostentar “as maiores taxas de juros do planeta”. Em relação à Petrobras, Gleisi minimizou o alvoroço do mercado com a troca na presidência da estatal. “Esse mercado fica fazendo um fuzuê. Na realidade, o que o mercado quer é indicar o presidente da Petrobras e, de preferência, também o do Banco Central”, criticou.
A um ano do fim do mandato como presidenta do PT, a deputada federal, primeira mulher a presidir o partido, realizou um balanço desse período. “Eu fico muito feliz de ter participado desse processo, porque acho que é um momento da história forte do Brasil, de estar onde a gente estava e poder subir a rampa de novo. Foi muito emocionante”, afirmou.
Assista a um trecho da entrevista:
Rio Grande do Sul
Gleisi aprovou o nome do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) como chefe da Secretaria Extraordinária da Presidência da República para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, criada por meio de Medida Provisória (MP) assinada pelo presidente Lula, na quarta-feira (15).
“Eu gostei muito do presidente ter colocado o Pimenta, por alguns motivos. Primeiro, porque o Pimenta é muito próximo do presidente (…) Segundo, o Pimenta é uma pessoa muito trabalhadora, muito determinada e muito firme (…) Terceiro, ele não vai ser o executor, quem vai executar é o governo do estado, os ministérios. Ele vai ser o articulador. Se não tiver alguém com essa autoridade, começa o estado a fazer de um jeito e o município, de outro. A verba vai para cá, quando deveria ir para lá”, elencou.
No atual contexto de calamidades meteorológicas, a presidenta do PT se disse a favor da criação de uma autoridade climática, com nível ministerial, e da elaboração de “um grande programa voltado à questão ambiental“. “Veja a loucura que é: quanto que nós vamos gastar agora para o Rio Grande do Sul? Muito dinheiro. Por que não gastamos antes?”, questionou Gleisi.
“Nós gastamos quase R$ 800 bilhões na covid. Que grande crise fiscal teve no Brasil? Se nós gastássemos antes o que nós estamos gastando agora, que seria menos, não teria impacto (…) Só que aí você gasta depois que as pessoas já morreram, depois que as pessoas já perderam as suas coisas. É uma lógica perversa.”
G20
O Brasil ocupa atualmente a presidência rotativa do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo, e tem pautado a comunidade internacional em torno de três temas basilares: o combate à fome, à pobreza e à desigualdade social; a promoção do desenvolvimento sustentável; e a reforma da governança global.
“Essa discussão de taxar os super ricos já está madura (…) é porque é um escândalo as pessoas terem um tanto de dinheiro e não pagarem imposto (…) Uma coisa interessante que o presidente está fazendo (…) ele está preocupado com a comida do povo, tanto que importou arroz (…) estava no supermercado R$ 33, vai sair a R$ 20”, elogiou Gleisi, ao lembrar que o Rio Grande do Sul era maior produtor do país, até ser atingido pelas chuvas.
Banco Central
A presidenta nacional do PT classificou a redução do ritmo de queda da taxa básica de juros (Selic) pelo BC como um “crime contra o Brasil”, por conta dos sólidos números registrados pela economia do país. “Eu não canso de falar que esse presidente do Banco Central é um criminoso”, disparou, referindo-se ao indicado de Jair Bolsonaro (PL) para a presidência da autarquia, Roberto Campos Neto.
“Porque não há motivo (…) a inflação está sob controle, a gente está com todos os indicadores econômicos positivos, não temos crise, a dívida pública brasileira não está estourada, nós não devemos em moeda externa, a gente só deve para nós mesmos, só temos dívida interna, temos reservas internacionais parrudas (…) a decisão ali é política”, completou.
Petrobras
A substituição de Jean Paul Prates por Magda Chambriard na presidência da Petrobras foi percebida com naturalidade pela deputada federal. O governo está sendo transparente no que diz respeito às promessas de campanha, segundo ela. “Nós ganhamos a eleição falando isso, então nós não mentimos para ninguém. O Lula não mentiu nem para o mercado, não mentiu para as pessoas. Ele disse que a Petrobras ia ser, sim, uma empresa voltada ao desenvolvimento do Brasil”, rebateu.
A parlamentar condenou, mais uma vez, a política de distribuição de lucros e dividendos iniciada pela estatal durante o governo de Michel Temer (MDB) e expandida por Bolsonaro. “O valor hoje de mercado da Petrobras é cerca de uns R$ 500 bilhões. Foi distribuído, em três anos, R$ 400 bilhões em lucros e dividendos, quase o valor da companhia. Isso daí é um crime”, denunciou a parlamentar.
Presidência do PT
Em retrospectiva, a presidenta do PT relembrou o período à frente do partido, mandato que se encerra em 2025. Do afastamento da ex-presidenta Dilma Rousseff, passando pelos governos Temer e Bolsonaro, até a eleição de Lula para um terceiro mandato. “Estamos vivos, apesar de muita gente dizer que íamos morrer”, brincou.
“O PT tem uma coisa maravilhosa, que é a militância. Inigualável. Os nossos militantes amam esse partido, amam a causa do partido, é gente que tem garra”, orgulhou-se. “O presidente Lula é um resistente. Ele vem de onde vem e se tornou presidente da República porque ele entende de resistência, entende de luta.”
Da Redação