Trabalhei com a presidenta. Convivi com ela. Privei de sua confiança e intimidade. Ela é uma pessoa de relacionamento difícil. Dura, exigente, cobra dos outros o que cobra dela mesma: rigor na formulação e execução de programas e ações. Não tem meio termo. Nem tampouco media relações. Cobra resultados com severidade. Mas poucas vezes estive junto a uma pessoa com tão grande espírito público. Séria, trabalhadora, comprometida com o Brasil e com seu povo.
Por isso não consigo entender o ódio disseminado contra ela. Sua baixa aprovação popular não tem razão compreensível para mim, a não ser por seu péssimo relacionamento pessoal com o mundo da política, reforçado por medidas que desagradaram a setores com grande poder econômico, mas necessárias à melhoria do desenvolvimento do Brasil.
Vivemos em um país onde as relações pessoais e afetivas têm grande importância nas decisões políticas e econômicas. Aliás, o Ministério de Comércio e Investimento do Reino Unido, em sua página na internet, considera que isso é um desafio para a realização de negócios no Brasil. Fato recentemente divulgado por causa de uma questão na prova do concurso do Itamaraty.
Pois bem, a presidenta Dilma não deu tapinhas nas costas, não fez mise-en-scène com políticos. Sempre manteve relações institucionais, reuniões e jantares formais, conversas republicanas, cobranças de seus aliados e de seu partido. Quem não se lembra da faxina no início de seu mandato. Com certeza isso iniciou o azedume das relações políticas.
Logo em seguida, para enfrentar a crise econômica global, avalizou a política do Banco Central em reduzir as taxas de juros. Chegamos a juros de 7,5%, inéditos para o Brasil. Não demorou muito a reação, que veio de fora do país, pela The Economist, Financial Times e outros meios de comunicação parceiros do sistema financeiro, contrários a essa política.
E o processo de desconstrução e ataque a imagem da presidenta foi iniciado.
Ela foi firme para enfrentar a crise global, desonerou tributos, aumentou crédito com juros baixos, continuou com investimentos públicos e programas sociais. É sempre bom lembrar do que aconteceu na Espanha, com desemprego de 20% ou na Itália, com 24%. Ou em outros países da Europa. E com desemprego proporcionalmente muito maior entre os jovens.
Aqui, conseguimos proteger o emprego e a renda das famílias. É claro que todo esse esforço cobra uma fatura grande agora.
Os ajustes necessários que estão sendo realizados e as dificuldades econômicas que enfrentamos não justificam, porém, a forma como tratam a presidenta, de maneira desrespeitosa, desqualificadora, covarde, com ódio.
Fico me perguntando como odiar uma mulher que fez um programa para distribuir médicos nos rincões deste país e garantir atendimento aos mais pobres?! Que está abrindo cursos de medicina no interior para formar médicos para a saúde básica?! Que fez o Pronatec, ampliou o FIES, está distribuindo creches pelo Brasil, fez o Ciência Sem Fronteiras, que tem possibilitado a milhares de jovens brasileiros estudar no exterior?! Que sancionou o PNE e garantiu recursos futuros para a educação?! Que está entregando mais de três milhões e setecentas mil casas para a população e anunciará outro tanto a partir de agora?!
Que enfrentou a maior seca dos últimos tempos garantindo renda ao povo do Nordeste, evitando a migração?! Que fez programa para as pessoas com deficiência?! Que criou o Brasil Carinhoso, aumentando a renda das famílias pobres com crianças?! Que garantiu microcrédito, implantou o microempreendedor individual e ampliou o Super Simples?! Que garantiu e garante juros baixos para custeio e investimentos na safra agrícola?! Que distribuiu maquinários para as prefeituras brasileiras, ajudando os municípios e a indústria?! Que investiu em aeroportos, portos e rodovias?!
A nuvem de desinformação e ódio impede que a maioria veja seus feitos pelo Brasil, mas a história com certeza registrará os acertos de suas decisões sem a pressão do momento, sem a emoção que cega. Estamos com você presidenta!
(Artigo inicialmente publicado no ‘Blog do Esmael’, no dia 10 de agosto de 2015)
Gleisi Hoffmann é senadora da República pelo Paraná. Foi ministra-chefe da Casa Civil e diretora financeira da Itaipu Binacional