Semana passada, o ex-presidente Fernando Henrique pediu que a presidenta Dilma tivesse grandeza e renunciasse a seu mandato. Segundo a mídia, fez isso para tentar unificar a oposição e seu partido e dar respostas aos movimentos de rua.
Como homem sensato e equilibrado, imagem que sempre procurou mostrar, ensaiou uma análise eloquente da fragilidade política da presidenta e dos grandes desafios do país para lançar sua proposta. Isso depois de ter dito, na semana anterior, que a presidenta era uma pessoa honrada.
Olhando longe da história recente, parece que FHC está de fato exercendo seu papel de dirigente oposicionista e querendo dar uma saída ao PSDB, já que o movimento por impeachment tem encontrado resistência de vários setores, inclusive de apoiadores do PSDB e de setores mais conservadores, como mostrou o posicionamento de Roberto Setúbal, presidente do Itaú/Unibanco, neste domingo.
Além de pedir que esquecessem o que escreveu, parece que FHC esqueceu também sua história. Em 1999, tal qual a presidenta hoje, vivia baixa popularidade, tinha crise econômica, dólar alto, escândalos das privatizações, das negociatas da reeleição, dos grampos do BNDES (nada investigado, tudo engavetado), movimento nas ruas e debate sobre pedido de impeachment e a palavra de ordem “fora FHC”. Também tinha ajuste fiscal pesado e o PMDB como partido aliado e fiador. O vice-presidente da República, Michel Temer, era presidente da Câmara dos Deputados. FHC só não era, por ser homem, tão xingado e desrespeitado como a presidenta Dilma o é por ser mulher.
Lembro isso para mostrar que já passamos por períodos semelhantes na nossa curta história democrática. Que a crise política e as dificuldades econômicas que estamos vivendo já foram enfrentadas em condições piores, inclusive. Mas também o faço para mostrar a falta de grandeza de uma liderança testada e vivida na lida do poder como FHC. Que já sentiu essa realidade e que, naquele momento, invocava a defesa da legalidade, o respeito ao estado de direito, a democracia para defender-se.
Se é verdade que o PT colocou gente nas ruas e fez movimento por impeachment, exagerou e pediu renúncia de FHC, também é verdade que o PSDB faz a mesma coisa agora. As manifestações que têm acontecido pelo país são partidárias sim, no sentido de ter lado, querer uma determinada política. Basta ver que dos que foram para a rua, quase 80% eram eleitores do PSDB.
Ter grandeza, presidente Fernando Henrique, é ter vivido uma situação e ter aprendido com ela. É compreender as dificuldades pelas quais passa uma presidenta, por já ter vivido momento semelhante, e não apostar contra o país, na sua instabilidade. Pedir a renúncia da presidenta Dilma apenas demonstra atitude de vingança e de apequenamento diante da história vivida.
Sair da vida pública com baixa aprovação popular é uma contingência do exercício do cargo e que a história poderá resgatar no futuro. Viver a experiência do poder maior de uma Nação e não aprender com ela para posicionar-se diante da vida, pode ser um problema de caráter.
(Artigo inicialmente publicado no blog do Esmael, no dia 24 de agosto de 2015)
Gleisi Hoffmann é senadora da República pelo Paraná. Foi ministra-chefe da Casa Civil e diretora financeira da Itaipu Binacional